Lava Jato

Joesley afirma ter repassado R$ 110 milhões a Aécio Neves em 2014

A informação foi publicada pelo jornal O Globo e confirmada pelo Estado

Agência Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31
(Aécio Neves)

O empresário Joesley Batista afirmou em depoimento à Polícia Federal ter repassado R$ 110 milhões ao senador Aécio Neves (PSDB) durante a campanha do tucano à Presidência da República em 2014, em troca de apoio do mineiro nos negócios da J&F, empresa de Joesley e seu irmão, Wesley Batista. O tucano era considerado candidato em ascensão na avaliação do empresário. A informação foi publicada pelo jornal O Globo e confirmada pelo Estado.

De acordo com o jornal, o empresário entregou à autoridade policial uma planilha em que listou doações, ao lado de notas fiscais e de recibos com informações para comprovar o repasse ao senador. Segundo Joesley, o valor foi dividido entre o PSDB, que teria ficado com R$ 64 milhões, o PTB, que teria embolsado R$ 20 milhões, e o Solidariedade, que teria levado R$ 15 milhões, e R$ 11 milhões, que teriam ido para as campanhas de políticos que apoiaram a campanha do tucano à Presidência.

Após efetuar o pagamento, Joesley afirmou que o tucano o procurou para que recebesse R$ 18 milhões para cobrir dívidas da campanha. De acordo com o jornal, a transação teria sido realizada por meio da compra de um prédio em Belo Horizonte (MG).

Em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR) em agosto, Joesley afirmou que pagou R$ 50 mil por mês ao senador entre 2015 e 2017. No relato aos investigadores em agosto, o empresário disse que a mesada foi solicitada pelo senador para custear suas despesas e que o pagamento era feito por meio da Rádio Arco Íris, da qual Aécio era sócio. A informação é do jornal Folha de S.Paulo e foi confirmada pelo Estado.

De acordo com o jornal, as 16 notas fiscais emitidas no período informam a prestação de “serviço de publicidade” e que o valor mensal era de patrocínio ao programa da rádio “Jornal da Manhã”. O valor total das notas fiscais chega a R$ 864 mil.

Aos procuradores, o empresário afirmou que o intuito dos pagamentos era de manter um bom relacionamento com Aécio.

Mais cedo, a defesa do senador afirmou se tratar de uma demonstração “da má-fé e do desespero do delator na tentativa de manutenção do seu extraordinário acordo de delação, atualmente sob risco de ser anulado”. “O senador jamais fez qualquer pedido nesse sentido ao delator, da mesma forma que, em toda a sua vida pública não consta nenhum ato em favor do grupo empresarial”, afirmou seu advogado, Alberto Zacharias Toron.

Réu - Na terça-feira, a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) tornou o senador réu pelos crimes de corrupção passiva e obstrução à justiça. Com a decisão, os ministros confirmam que os indícios apontados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) são suficientes, neste momento, para que o senador responda aos crimes por meio de ação penal.

A PGR acusa o tucano de receber ilicitamente R$ 2 milhões de Joesley Batista, oriundos do grupo J&F, e de atrapalhar as investigações em torno da Operação Lava Jato. Os demais acusados, Andrea Neves, Frederico Pacheco de Medeiros e Mendherson Souza Lima se tornaram réus pelo crime de corrupção passiva.

A estratégia da defesa foi tentar invalidar as provas trazidas por Joesley no caso. Os advogados também afirmam que houve “verdadeira ação controlada, sem autorização judicial”, quando Aécio foi gravado pelo empresário.

Serraglio reitera que sofreu pressão de Aécio para nomear delegado da PF

O deputado Osmar Serraglio (PP-PR) afirmou na última terça-feira, 17, no plenário da Câmara, que sofreu pressões dos senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Renan Calheiros (MDB-AL) quando era ministro da Justiça. O discurso ocorreu durante julgamento do caso de Aécio no Supremo Tribunal Federal (STF) que o tornou réu por corrupção passiva e obstrução de justiça. Nesta sexta-feira, 20, ao ser questionada, a assessoria de imprensa de Serraglio reiterou a acusação.

Serraglio diz que trechos das gravações telefônicas entre Aécio e Joesley Batista, dono da JBS, deixam claro que ele se recusou a ceder às pressões do senador mineiro que tinha objetivo emplacar um novo delegado da Polícia Federal de sua preferência. No diálogo, o senador mineiro aparece chamando Serraglio de um "bosta do c****".

Ele falou para Joesley que estava insatisfeito com Serraglio porque, de acordo com o senador, ele não controlava a PF e a Operação Lava Jato. A partir dessas conversas e de depoimentos da delação de executivos do grupo J&F, o STF aceitou a denúncia contra Aécio esta semana.

"Pressões semelhantes advieram do Senador Renan Calheiros, ex-Presidente do Congresso Nacional, multi-investigado pela Polícia Federal", continuou o deputado em plenário. Segundo Serraglio, as pressões sofridas foram algumas das razões que "instabilizaram" sua permanência na Pasta. Ele foi demitido do Ministério da Justiça no ano passado em meio aos rumores de que poderia ser citado em delação premiada da Operação Carne Fraca.

Em nota, Renan disse que "não se prestaria a falar" com Serraglio. "Pelo contrário... virei oposição ao governo Temer justamente quando ele assumiu o ministério indicado, e teleguiado, pelo Eduardo Cunha. Quem conhece minimamente a política sabe que eu jamais me relacionei com esse grupo. Pelo visto, esse Osmar continua com a carne fraca", disse Renan.

Desde a indicação de Serraglio como ministro da Justiça, Renan fez diversas críticas sobre uma suposta atuação de Eduardo Cunha (MDB-RJ) no governo mesmo após ter sido preso pela Operação Lava Jato. Segundo Renan, Serraglio seria um dos aliados do ex-presidente da Câmara.

Já a defesa do senador Aécio afirmou que ele "jamais" tentou interferir na nomeação de delegados para a condução de qualquer inquérito. "Essa questão é afeita exclusivamente à PF, que não se submete a esse tipo de ingerência", justificou.

O advogado do tucano, Alberto Zacharias Toron, defendeu que todas as conversas que Aécio teve sobre o tema foram "no sentido de mostrar seu inconformismo com inquéritos abertos sem qualquer base fática, em especial, com a demora em serem concluídos, levando a um inevitável desgaste".

Além disso, o advogado afirma que o senador mineiro procurou Osmar Serraglio para desculpar-se sobre "termos inadequados utilizados para referir-se" ao então ministro da Justiça. "Com relação aos termos inadequados utilizados para referir-se ao então ministro, em conversa privada criminosamente gravada pelo Sr Joesley Batista, o senador telefonou diretamente a ele à época, desculpando-se pelas expressões utilizadas", afirmou o comunicado. A defesa de Aécio reafirma "não ter havido nenhuma atitude imprópria de sua parte e lamenta que isso possa ter sido entendido de forma diversa".

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