Violência

7 líderes comunitários foram executados em 3 anos no Maranhão

Assassinato da vereadora Marielle Franco, no Rio, evidencia o traço da violência no país, que atinge ativistas e militantes políticos e a maioria fica na impunidade

Ismael Araújo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h32
Almir Silva dos Santos assassinado na Vila Funil
Almir Silva dos Santos assassinado na Vila Funil

SÃO LUÍS - O assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco (PSOL), ocorrido na quarta-feira, 14, na capital carioca, acabou evidenciando mais um traço da violência que assola o país. Desta vez é a execução dos líderes comunitários, ativistas e militantes políticos. Somente no Maranhão, sete líderes comunitários foram mortos a tiros nos últimos três anos, a maioria na capital. Uma das vítimas foi o líder comunitário da Vila Funil, Almir Silva dos Santos, de 46 anos, no dia 8 de julho de 2016. A vítima foi morta dentro de sua residência, naquela comunidade.

Pablo dos Santos, único acusado de matar líder comunitário condenado
Pablo dos Santos, único acusado de matar líder comunitário condenado

Por esse crime, o “faccionado” Pablo dos Santos, o Júnior, de 21 anos, foi condenado pelo 2º Tribunal do Júri de São Luís no dia 26 de janeiro deste ano, a 19 anos e três meses de prisão. Na casa onde ocorreu o crime ainda há marcas de bala, principalmente na parede da frente, e mensagens de ameaça de morte deixada pelos criminosos, além de o telhado destruído e as janelas e portas com sinais de arrombamento. A casa permanece fechada.

Na sede da associação de moradores dessa comunidade, é possível encontrar marcas de tiros, e até o momento ninguém mais se aventurou a presidi-la. De acordo com informações de moradores, a ausência de um dirigente é por receio de algum tipo de represália pela parte dos criminosos.

A motivação para o assassinato de Almir Silva dos Santos, segundo moradores, foi pelo fato de o líder comunitário ter conseguido a construção de uma ponte, que ligaria a Vila Funil ao bairro do Tibirizinho. Para os criminosos, essa ponte facilitaria a entrada de policiais na comunidade e dificultaria as ações criminosas. A ponte nunca foi construída.

Outras mortes

Mais dois líderes comunitários da zona rural de São Luís também foram assassinatos. No dia 17 de julho de 2016, a polícia registrou a morte do presidente da Associação de Moradores do Tibirizinho, José Ribamar Rocha, o Gongo Assado, de 57 anos. Os acusados estavam encapuzados e dispararam vários tiros contra ele.

Segundo a polícia, os principais acusados desse crime seriam adolescentes, que até o momento não foram apreendidos. Também na área do Tibiri, em outubro de 2015, o presidente da Associação de Moradores da Vila Aparecida, Ivanildo da Silva Coutinho, conhecido como Ivanildo Bananeiro, foi morto a tiros em um bar, por criminosos.

Os dois casos continuam sob investigação da Superintendência Estadual de Homicídios e Proteção a Pessoas (SHPP), que ainda não conseguiu identificar os acusados. Existem informações de que os acusados pertencem a uma facção criminosa que constantemente aterroriza a cidade.

Coroadinho

Líderes comunitários na área do Coroadinho também foram executados. Um deles foi José da Conceição Pereira, o Irmão do Coroadinho, de 58 anos, que de acordo com a polícia, foi assassinado a tiros dentro de sua residência, na Rua da Alegria, quando assistia a um programa de TV, na noite do dia 14 de abril de 2016.

O caso foi investigado pela SHPP e dois dias depois, foi preso um dos acusados do crime, Elias Ferreira Pereira, o Monk, residente no bairro. Contra esse criminoso já havia um mandado de prisão pelo crime de roubo qualificado.

O outro líder comunitário dessa comunidade morto por criminosos foi Pedro Wilson Moraes, o Pedro Sardinha, de 53 anos, fato ocorrido no dia 14 de janeiro de 2015. Ele coordenava o projeto Arte na Comunidade, destinado a crianças e adolescentes carentes.

Pedro Sardinha levou três tiros na cabeça, segundo a polícia, efetuados por adolescentes, no interior da sede do projeto. Ele morreu amparado por sua esposa, nome não revelado. A polícia, na época, informou que uma das motivações para desse crime foi o fato de a vítima ser contra a venda de droga na comunidade e a favor da realização de programas educativos que retirassem os jovens do mundo da criminalidade. Ainda no dia do crime, a polícia apreendeu um dos adolescentes envolvidos na ação e por meio dele chegou à mandante do crime, Jéssica Edna Gomes Barros, de 26 anos.

Esse crime foi investigado pelo delegado Jeffrey Furtado, que informou que nesse dia estava prevista, também, a morte de outro líder comunitário do polo do Coroadinho. “No curso dos trabalhos, descobrimos que outro líder comunitário também deveria ser assassinado. Contudo, como estava tentando arrumar um emprego para Jéssica no Legislativo estadual, ele teria sido alertado por ela, via telefone, que não fosse ao local, já que ‘Sardinha’ seria morto”, declarou o delegado.

Baleada

A líder comunitária da Vila União, Ana Cláudia Barros, de 53 anos, foi baleada quando estava no terraço de sua residência, no dia 9 de outubro de 2015. Ela ainda foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Araçagi, mas morreu antes de ser submetida a tratamento cirúrgico.

De acordo com a polícia, a vítima teria registrado um boletim de ocorrência no 7º Distrito Policial, no Turu, dias antes, denunciando um traficante, nome não revelado, que atua nessa área. Esse assassinato teria sido em represália às denúncias. No dia seguinte ao crime, a polícia prendeu Francisco das Chagas Sousa, que foi apresentado na sede da SHPP, no Centro.

Líderes comunitários também foram assassinados no interior. No dia 24 de dezembro de 2015, por exemplo, Antônio Isídio Pereira da Silva, de 52 anos, foi encontrado morto no povoado Vergel, na zona rural de Codó (MA). Seu desaparecimento foi denunciado desde o dia 20 desse mês, após ter sofrido ameaças de morte. Para a polícia, esse crime estaria relacionado a conflito de terra, já que a vítima havia denunciado a extração ilegal de madeira nessa região.

No ano de 2014, Antônio Isídio havia solicitado o ingresso no programa de proteção aos defensores de Direitos Humanos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, mas o pedido foi denegado.

Entenda

Líderes comunitários mortos

nos últimos três anos no MA

Janeiro de 2015: O líder comunitário e artista plástico, Pedro Wilson de Moraes, “Pedro Sardinha”, foi executado a tiros no bairro do Coroadinho, dentro da associação onde ministrava cursos para crianças da comunidade.

Outubro de 2015: A vítima foi Ivanildo da Silva Coutinho. Ele era presidente da Associação de Moradores da Vila Aparecida e foi morto a tiros em um bar. Também, nesse mês, traficantes ordenaram a morte de Ana Cláudia Barros, 53 anos, líder comunitária da Vila União.

Dezembro de 2015: líder comunitário Antônio Isídio Pereira da Silva, de 52 anos, morto no povoado de Vergel, em Codó

Abril de 2016: O líder comunitário da área do Coroadinho, identificado como José Conceição Pereira, foi executado a tiros em sua residência naquele bairro.

Julho de 2016: Os criminosos executaram a tiros o presidente da Associação de Moradores da Vila Funil, Almir Silva dos Santos, 76 anos, e José Ribamar Rocha, líder da Associação dos Moradores do Tibirizinho.

Número

7

Foi o número de líderes comunitários executados no Maranhão os últimos três anos; alguns casos ainda não foram elucidados

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