Os esquecidos

Sobrevivência e luta sob a Ponte do São Francisco

Há dias em que não se sabe nem o que os filhos vão comer; quando chove, as dificuldades, que já são muitas, pioram com os alagamentos

Robert W. Valporto / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h32

[e-s001]“Será que poderei comer amanhã e a chuva não invadirá minha casa?”. Essa é uma pergunta que as pessoas que moram em barracos sob a Ponte do São Francisco se fazem quase todos os dias. Vivendo à margem da sociedade, elas carecem do básico e vivem como podem, diante das dificuldades diárias.

Os problemas começam pelas casas. Confeccionadas com materiais geralmente descartados no lixo, as paredes e telhados não têm resistência e durante o período chuvoso é comum a água invadir os barracos.
Em frente aos barracos, as marcas da água da chuva nas paredes do muro de uma área da Caema podem ser vistas, apontando a altura do alagamento provocado pelas últimas chuvas. O início das chuvas significa transtorno para todos, que ficam preocupados de a água entrar em seus barracos.

[e-s001]Doações
Por vezes, moradores da região e até de outras áreas aparecem no local para fazer doações de alimentos e até de medicamentos para as crianças que estão doentes. Eles reclamam da falta de ações do poder público.
É o caso de Islândia Pereira, de 25 anos, mãe de três filhos, que sente o abandono do poder público. “Nem prefeito, nem governador. Nenhum deles vem aqui nos ajudar a resolver coisas básicas que precisamos. A gente sabe se vai comer somente no dia. Eu faço uns bicos, às vezes, assim como meu marido, para ter algo”, contou.

Um dos filhos de Islândia Pereira, Richarlison Pereira, de 8 meses, passa por um problema de saúde, segundo ela, agravado pelas chuvas, que invadem seu barraco. “Meu filho está com uma pneumonia séria. Ele vive chorando de dor. Não temos o aparelho de fazer nebulização e fico sem poder ir ao hospital, para evitar que ele pegue esse sol”, disse.

[e-s001]A maioria das pessoas que vivem sob a ponte é proveniente de outros estados e já se encontra nessa situação há pouco mais de cinco anos. Alguns disseram ter vindo de Teresina, no Piauí, e nunca moraram em outro lugar em São Luís, a não ser nesses casebres.

A idosa Francisca Pereira Justina, de 59 anos, veio de Sobral, no Ceará, e é uma das pessoas que está no local há pouco mais de seis anos, sobrevivendo apenas com os R$ 85,00 do programa Bolsa Família. “A gente tem problemas aqui com coisas básicas, como a falta de água, que muitas das vezes tenho de aproveitar a da chuva, para poder tomar banho e me cuidar e até para cozinhar”, disse.

A idosa fez uma cirurgia de hérnia recentemente e está impossibilitada de carregar peso e cuidar da moradia. “Eu moro sozinha nesse barraco. Não posso trabalhar para ninguém, nem fazer nada em casa, por causa da cirurgia que eu fiz há poucos dias. Aqui, só meu netinho que dorme comigo, às vezes, na rede”, frisou.

Outro problema relatado pelos moradores da área é fato de que, até mesmo os R$ 300,00 de um benefício de auxílio moradia que eram beneficiados, foi suspenso. Eles alegaram que, mesmo que o recurso não estivesse sendo utilizado para aluguel de outro espaço, que era o seu fim, servia para comprarem comida e remédios.

[e-s001]O Estado entrou em contato com a Prefeitura de São Luís para saber se há medidas a serem tomadas para amparar essas pessoas e se existe algum tipo de projeto para retirada delas daquele espaço. Por meio de nota, a Secretaria Municipal da Criança e Assistência Social (Semcas) informou que é realizado o acompanhamento pelo Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro Pop), da área do Centro, para atendimento dessas pessoas na perspectiva de ofertar acesso à documentação, tais como Identidade, CPF e Título Eleitoral, inserção e atualização de dados no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, inclusão no Programa Minha Casa, Minha Vida, Programa Bolsa Família, Aluguel Social, entre outras ações de responsabilidade da Semcas, em parceria com outras organizações.

Por fim, a Semcas frisou que realiza ainda o trabalho de sensibilização com esse público, contudo não pode obrigar essas pessoas a aderir aos serviços ofertados. A Secretaria Municipal de Urbanismo e Habitação (Semurh) informou que já contemplou diversas famílias com os imóveis do Programa Minha, Casa Minha Vida.

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