Violência contra a mulher

Cabo Campos defende-se de acusação de agressão e pede que se evitem julgamentos

Em discurso, deputado diz que conflito com esposa resultou de intervenção em desavença entre ela e a filha

Gilberto Léda

Atualizada em 11/10/2022 às 12h32
Cabo Campos chegou a chorar na tribuna
Cabo Campos chegou a chorar na tribuna (Cabo Campos)

O deputado estadual Cabo Campos (DEM), apresentou ontem, em discurso no grande expediente da Assembleia Legislativa, sua primeira versão oficial após a denúncia de agressão formulada pela esposa, Maria José Campos – o que levou a Justiça estadual a adotar medidas protetivas, como a proibição de o parlamentar frequentar sua própria residência por 60 dias.

Às vezes chorando, o parlamentar sustentou, a um atento plenário, a mesma história apresentada recentemente pela filha do casal, Laila Campos: a de que reagiu a agressões da companheira depois de esta agir com agressividade contra a garotam, que assumira recentemente a homossexualidade à família.

“Quando minha filha falou para minha esposa da sua orientação sexual, ela teve uma aceitação diferente da minha. Com isso começou um histórico de violência da minha esposa contra a minha filha. Estou colocando aqui, senhores, as minhas vísceras para que todos possam ver. Com isso também, por causa dessa situação, assim como minha filha também sofreu algumas agressões, eu também comecei a sofrer. Até que chegou a noite em que eu tive que contê-la”, disse.

Ele contestou notícias de que teria espancado a vítima. “Eu sou homem de 1,82m. As pessoas disseram que eu espanquei a minha esposa, que eu dei chutes e ponta pés na minha esposa. Eu pergunto uma coisa aos senhores: se eu desse um soco na minha esposa, como é que ficaria o rosto dela? Se eu desse pontapés na minha esposa, como é que ficaria o corpo da minha esposa?”, questionou.

O parlamentar deu a entender, ainda, que as imagens da esposa com um colar cervical – surgidas na semana passada - não têm relação com agressões, mas são recorrentes depois que ela caiu lavando um terraço. E pediu desculpas.

"Eu quero aqui me render a todos os senhores e senhoras, pedir desculpas, pedir perdão, pelos meus erros. Sou humano. 'Um deputado é um super homem'. Não é", declarou.

Ele reclamou, também, do julgamento que por que está passando na imprensa. E pediu que os seus colegas parlamentares também não o julguem.

“Eu quero aqui me render a todfos os senhores e senhoras, pedir dewsculpas, pedir perdão, pelos meus erros. Sou humano. ‘Um deputado é um super homem’. Não é”, declarou.

Ele reclamou, ainda, do julgamento que por que está passando na imprensa. E pediu que os seus colegas parlamentares também não o julguem.

“Amo minha família, amo minha esposa. Não há maldade no coração da minha esposa. Não há. E esse entendimento nós vamos ter posteriormente. E eu quero pedir para meus irmãos parlamentares: eu já fui julgado pela mídia, eu já fui julgado pelas pessoas que estão acima da decência e vou ver julgado pelos tribunais. Por favor, também não me julguem”

Processo - Apesar do discurso, a procuradora da Mulher na Assembleia, deputada Valéria Macedo (PDT), confirmou que dará andamento ao pedido de afastamento do colega.

A representação foi entregue hoje pela pedetista ao presidente da Casa, deputado Othelino Neto (PCdoB), que deve garantir sua publicação no Diário da Casa para, então, ser votada pelos parlamentares em plenário.

“Hoje [ontem] o deputado Cabo Campos veio aqui, colocou a sua defesa, e isso é muito importante. Todos nós esperávamos isso. Mas eu quero aqui deixar claro que eu como deputada, procuradora da Mulher da Assembleia Legislativa, vou fazer o que é minha obrigação diante de todas essas denúncias: uma representação, que inclusive já protocolei nesta Casa, com pedido cautelar de suspensão temporária do exercício do mandato do deputado Cabo Campos, por 60 dias. Essa representação vai à presidência, depois da à Comissão de Ética para que analisem todos esses fatos. Como disse, não fui eu, deputada Valéria Macedo, que denunciei, apenas fiz aqui o meu papel de procuradora, mulher e defensora dos direitos da mulher”, destacou.

MAIS

Além da representação de Valéria Macedo, para afastamento de Cabo Campos por 60 dias, já tramita na Assembleia um outro pedido, do Fórum Maranhense de Mulheres, mas para cassação definitiva do mandato do parlamentar.

Andrea Murad diz que discurso não foi claro

A deputada Andrea Murad (MDB) voltou à tribuna após o pronunciamento do deputado Cabo Campos, acusado de agredir a esposa, e levantou novamente o questionamento sobre a ocorrência.

Para ela, o assunto não ficou claro mesmo após os esclarecimentos do parlamentar.

"Como disse, eu gosto do Deputado Cabo Campos, não tenho absolutamente nada contra ele. Eu torci muito para que ele viesse a esta tribuna desde a semana passada para dar uma explicação, ainda bem que ele veio, mas continuamos sem saber. Cabo Campos bateu ou não bateu na mulher? Agrediu ou não agrediu? Infelizmente não ficou claro. O deputado disse que está sendo julgado mas não foram feitas acusações vazias. A própria justiça reconheceu a violência contra a esposa. Ela prestou depoimento na polícia, a Justiça decretou medida protetiva, então, não foi à toa. Mas esse caso não é meu, esse caso é da competência da Comissão de Ética que deve apreciar o assunto, apurar a conduta do parlamentar, independente da Justiça e do MP. disse", disse.

Andrea Murad reforçou o papel da Assembleia Legislativa neste escândalo envolvendo parlamentares e a importância da Casa prestar todos os esclarecimentos e confirmar sua posição diante do atual cenário que acaba desgastando a imagem do Poder Legislativo.

"A sociedade merece isso desta Casa ou então de nada adianta esta Assembleia. E não estou defendendo uma mulher, eu estou defendendo a situação de várias e várias mulheres que vivem esse tipo de situação e que não têm, diga-se de passagem, esse mesmo amparo ágil e resolutivo da justiça, como foi com a mulher de um parlamentar. Infelizmente as mulheres ficam aí aguardando as decisões da justiça que às vezes vem e às vezes demoram uma vida inteira para vir", discursou Andrea.

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