Facções criminosas ditam as ordens na zona rural de SL
Bairros como Maracanã, Vila Maranhão, Estiva, Pedrinhas e Amendoeira vivem em pânico constante com os assaltos, assassinatos, invasões de residências e toque de recolher; ano passado, 69 homicídios ocorreram na área
SÃO LUÍS - Integrantes de facções criminosas seriam os responsáveis pelo estado de pânico na zona rural de São Luís, segundo denúncias de moradores. Assaltos em pleno a luz do dia, residências invadidas, assassinatos e mensagem de ordem impondo pena de morte aos cidadãos de bem já fazem parte do cotidiano dessas localidades. Dados da Secretaria de Segurança de Pública (SSP) revelaram que na região 69 pessoas foram assassinadas em 2017, a maioria com uso de arma de fogo. Este ano, três mortes violentas já ocorreram na área.
Um desses casos teve como vítima Antônio Neves da Silva, de 29 anos, na noite do dia 16, no bairro Macaranã. Uma moradora que não quis se identificar, com receio de represália por parte dos faccionados, disse que a vítima teve a sua residência invadida pelo criminoso. Ela ainda travou luta corporal com ele, mas acabou baleado e morto. “A vítima era uma pessoa de bem e o criminoso teria entrando na casa para roubar”, declarou a moradora.
Também no dia 1º deste ano foi assassinado a tiros Carlos Cezar Costa, de 39 anos, no loteamento Sol Nascente, área da Estiva. Já Carlos Henrique dos Santos Pereira, de 24 anos, foi morto ao trocar tiros com policiais militares na noite do último dia 17, no bairro Pedrinhas. Durante essa ação o assaltante Rudnaldson Doria dos Santos, de 27 anos foi baleado e a polícia apreendeu um revólver calibre 38 e uma motocicleta Honda Titan preta, de placa PTA-8371.
Tensão no Maracanã
Logo na entrada do bairro Maracanã é possível encontrar várias quitinetes fechadas e grafadas nas paredes da frente a marca de uma facção criminosa. Uma moradora, não identificada, disse que as pessoas estão se mudando com medo da onda de violência instalada, principalmente pelos faccionados.
Na Avenida Principal do bairro também se encontra vários pontos comerciais fechados, enquanto, os que ainda estão abertos são protegidos por grades de ferro e clientes atendidos do lado de fora. Odeilde Rodrigues, de 28 anos, que trabalha há mais de cinco anos em um depósito de construção, localizado nessa avenida, declarou que os assaltos ocorrem em plena luz do dia, geralmente às 7h, 12h e no fim da tarde.
Ela disse ainda que há menos de um ano foi vítima de um assalto. Dois criminosos, portando arma de fogo, levaram a renda do depósito comercial. Segundo ela, o alvo dos criminosos na semana passada, o alvo dos criminosos foi um restaurante, localizado ao lado do seu local de trabalho. Os bandidos fizeram um verdadeiro raspa.
Casas totalmente pichadas e abandonadas também são encontradas no local. Na Rua Nova há mais de cinco imóveis com placas de venda ou aluguel. Um morador não identificado, disse que os criminosos invadem sítios e casas durante eventos familiares, principalmente no fim de semana. “Os bandidos observam a realização de alguns eventos e aproveitam para invadir os imóveis e “limparem” as pessoas”, disse o morador.
Um motorista de coletivo da linha do bairro Maracanã, nome não revelado, informou que os ônibus são constantemente atacados na BR-135 com participação de menores de idade armados. Da noite de quarta-feira, 17, à manhã de quinta-feira, 18, três coletivos tinham sido assaltados. Dois ônibus da Estiva e um do Maracanã.
Terror
O clima de terror também predomina no Residencial da Vila Maranhão, área do Maracanã. No muro principal do bairro é possível encontrar frases escritas por faccionados informando que assaltantes que se disponham a praticar crimes no bairro, serão linchados até a morte. Em outra parede há outra mensagem informando que motoqueiros assaltantes serão assassinados.
Uma moradora disse que as pessoas devem ficar caladas e trancadas em suas casas, principalmente, no período da noite. “O silêncio é a melhor resposta sobre a presença de integrantes de facção criminosa na área”, desabafou.
Em outra área do Maracanã, no Residencial Amendoeira, também predomina a onda de violência. Várias paredes de residências grafadas por faccionados e muitas delas deixando bem claro que a ordem é para matar. “Não se pode ficar muito tempo sentado na porta, pois o ideal é ficar sempre dentro de casa e não falar muito sobre esse caos de violência”, declarou um morador.
Combate
Na última quinta-feira, 18, por exemplo, integrantes de facções criminosas acusados de aterrorizar a Ilha, foram tirados de circulação durante uma incursão realizada na zona rural pelo Departamento de Combate ao Crime Organizado (DCCO) da Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic).
Os presos foram identificados como Henrique Augusto Pereira da Silva, de 28 anos; Gabriel Lucas Saraiva Garcia, de 21 anos; William dos Santos Gonçalves, de 31 anos; Sidney Jorge Santana, de 29 anos, e Wilson Figueiredo Dias, de 24 anos. Com eles, a polícia apreendeu uma farta quantidade de munições de uso restrito, porções de cocaína e crack, tabletes de maconha, duas capas de colete balístico, um rádio comunicador, balança de precisão, material para embalar a droga e um veículo Agile, que seria oriundo de ações criminosas.
Outro lado
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP-MA) informou que desenvolve ações preventivas e ostensivas interruptamente, por meio do 21º BPM, em todos os bairros que compõem a zona rural, inclusive o Maracanã. Além disso, a SSP destaca a entrega da nova sede do 12º Distrito Policial do Maracanã, no final de 2017, e da base fixa da Polícia Militar, instalada no Terminal de Integração do Distrito Industrial.
Sobre o combate aos atos cometidos por supostas organizações criminosas na região, a SSP frisa que o Serviço de Inteligência realiza constantemente mapeamentos nessas áreas, com o objetivo de localizar suspeitos de participação em crimes, bem como, inibir quaisquer tipos de delitos.
Somente em 2017, mais de 27 pessoas foram presas suspeitas de integrarem organizações criminosas com atuação na região da zona rural de São Luís. Tais operações são desenvolvidas pela Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic), em parceria com a Superintendência de Polícia Civil da Capital (SPPC), Superintendências Estaduais de Repressão ao Narcotráfico (Senarc) e Polícia Militar.
Saiba mais
No fim do ano passado, uma operação integrada da Polícia Militar e da Civil na Vila Funil, visando combater a onda de criminalidade instalada por um grupo criminoso, chefiado por Marcos Antônio Rodrigues Correa, o Marquinhos Satã, resultou na condução de 24 pessoas ao 15º Distrito Policial (DP), no São Raimundo. Entre os conduzidos, dois adolescentes e seis mulheres. A polícia informou que os conduzidos eram suspeitos de terem ordenado a expulsão de mais de 50 famílias da região e de ter assassinado a tiros, em sua residência, o líder comunitário Almir Silva dos Santos, de 46 anos, no dia 8 de julho do ano passado.
Números
69
Foi o número de assassinatos registrados na zona rural de São Luís, no ano passado; este ano, três pessoas já foram mortas bairros de Pedrinhas, Estiva e Maracanã
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