Pesquisa

Desigualdade no Brasil é maior do que estudos anteriores mostram

Entre 2001 e 2015,os 10% mais ricos aumentaram sua renda de 54% para 55%, e os 40% da camada mediana foram de 34% para 32%

Atualizada em 11/10/2022 às 12h35
Além de desigualdade ser maior do que se pensava, ela não vem diminuindo nos últimos 15 anos
Além de desigualdade ser maior do que se pensava, ela não vem diminuindo nos últimos 15 anos (Palafitas)

SÃO PAULO - Pesquisa realizada pelo irlandês Marc Morgan, estudante da Escola de Economia de Paris e orientando do renomado economista francês Thomas Piketty, autor de O Capital do Século 21, mostrou que a desigualdade no Brasil é maior do que aquela apontada pelo IBGE, com dados recolhidos pela Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad).

Segundo a Pnad de fevereiro de 2016, a concentração de renda dos 10% mais ricos do Brasil teria caído de 45,3% em 2005 para 40,5%, enquanto que a renda dos 50% mais pobres teria subido de 14% para 18%, e a da classe média, de 40% para cerca de 41%.

Mas, de acordo com a pesquisa de Morgan, publicada em agosto, entre 2001 e 2015 os 10% mais ricos aumentaram sua concentração de renda de 54% para 55%, os 50% mais pobres foram de 11% para 12% e os 40% da camada mediana foram de 34% para 32%. A diferença de resultados se explica pela metodologia.

Metodologia

Para chegar nesses resultados Morgan utilizou, além dos dados do IBGE, informações das declarações de Imposto de Renda dos brasileiros, dado que não é contemplado pelo Pnad. "Ele parte do pressuposto que os mais ricos têm outras fontes de renda, como juros de investimentos e aluguéis, e muitas vezes não mencionam isso em pesquisas como o Pnad", diz Maurício de Almeida Prado, mestre em antropologia e diretor executivo da Plano CDE, empresa de pesquisa de comportamento entre as classes CDE.

Para Almeida Prado, o resultado mais preocupante da pesquisa francesa é que, além de a desigualdade ser maior do que se pensava, ela não vem diminuindo nos últimos 15 anos. Para efeito de comparação, países desenvolvidos como Estados Unidos e França têm uma concentração de renda entre 20 a 30% entre os mais ricos

Marcelo Medeiros, sociólogo, economista e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), diz que a pesquisa de Morgan chama a atenção para a importância do peso que os ganhos de capital tem sobre a desigualdade. A Pnad foi desenvolvida para avaliar renda e previdência com origem no trabalho, e não para medir também rendimentos de aplicações financeiras.

"Não devemos esperar resultados para os quais a Pnad, que é excelente, não foi desenvolvida. Mas também não podemos ignorar ela deixa de medir alguns fatores que ajudam a promover a desigualdade", diz Medeiros, que já realizou estudos com metodologia semelhante à usada pelo irlandês, incluindo dados do Imposto de Renda, e que já haviam chegado a conclusões parecidas "Mas Morgan usou mais informações", afirma o pesquisador brasileiro. Ainda segundo Medeiros, os resultados da pesquisa francesa mostram que a desigualdade é muito mais determinada pela diferença entre os ricos e o restante da população do que entre os pobres e o resto.

Para Pedro Souza, que também é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e também já realizou diversos estudos sobre desigualdade, alguns junto com Medeiros, pesquisas como as feitas pelo IBGE e institutos semelhantes pelo mundo têm muita dificuldade em avaliar rendimentos financeiros. Por isso, é positivo quando estudiosos conseguem reunir dados de fontes complementares e chegam a respostas semelhantes com trabalhos independentes. "Ainda que os números não sejam exatamente iguais, eles apontam a mesma tendência. Quando isso acontece, traz mais confiança para os nossos resultados", afirma.

Por exemplo, um estudo publicado por Medeiros, Souza e Fábio Castro em 2015, nomeado "A Estabilidade de Desigualdade no Brasil entre 2006 e 2012", mostra que os 10% mais ricos detém 54% da renda, número próximo do encontrado por Morgan. "Não é que outras pesquisas estejam erradas", diz Medeiros. "Mas há uma desigualdade oculta que precisamos medir", afirma.

Até porque, entender as origens dessa desigualdade, é o que vai apontar caminhos para sua redução, que não são nada triviais. Para Medeiros, alguns dos caminhos são mudar a forma de tributação, melhorar a educação e buscar formas de diminuir as vantagens das origens sociais nas camadas mais ricas.

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