Descaso

Governo descumpre decisão e nega assistência a Márcio Rony

Vítima de atentado a coletivos na capital maranhense aguarda ajuda do poder público; decisão judicial prevê custeio de despesas pela SES

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h36
Márcio Rony não teve acesso aos remédios e passa necessidades
Márcio Rony não teve acesso aos remédios e passa necessidades (Marcio Rony)

SÃO LUÍS - O maranhense Márcio Rony da Cruz Nunes, de 38 anos, que teve 75% do corpo queimado durante um dos atentados a coletivos na capital maranhense registrados no dia 3 de janeiro de 2014, denuncia que – apesar de decisão judicial garantir a assistência do poder público estadual ao seu tratamento das queimaduras – o Governo do Estado se nega a dar assistência. Em contato por telefone, Márcio Rony disse que atualmente custeia do próprio bolso a compra de medicamentos e das passagens para Goiânia (GO), onde retorna a cada seis meses para se recuperar dos danos à pele no Hospital de Queimaduras.

Segundo Márcio Rony, a omissão do Estado ao tratamento começou no dia 28 de julho deste ano, quando, ao retornar da capital goiana com novas prescrições dos médicos, teve o acesso aos medicamentos negado pelo Governo. “A cada reavaliação, são repassados novos médicos. No entanto, desta vez, não consegui ter acesso aos remédios, e estou passando por necessidade”, disse.

Por causa do problema de Rony, o Instituto de Cidadania Ativa Belágua (organização não-governamental que presta assistência a pessoas com dificuldades de acesso a serviços públicos) – dirigido por Maurício Miguel – decidiu dar assistência judicial para tentar garantir o auxílio do Estado ao caso. No dia 31 de julho deste ano, o juiz José Edilson Ribeiro concedeu antecipação de tutela contra o Governo, que teria 30 dias para contestar o parecer. Até o fechamento desta edição, o Estado não informou se entrou com contestação.

Enquanto isso, Márcio Rony – que precisou se aposentar devido às lesões no corpo – vive da ajuda de amigos e familiares. “Para comprar remédios, eu preciso de ajuda. Se preciso viajar, também conto com os amigos. É uma situação chata, pois eu não estou pedindo favor, e sim um direito meu que é negado”, disse Rony a O Estado.

Márcio Rony confirmou ainda que, até o fim de 2014, todo o tratamento dele era bancado pelo Governo do Maranhão. “Se eu precisava ir ao fisioterapeuta, contava com veículo para me transportar. No caso das passagens para Goiânia, também tinha a ajuda do Governo. Atualmente, eu não tenho nada do poder público”, disse.

Tratamento

Para se recuperar definitivamente dos danos à pele, Márcio Rony ainda precisa de assistência médica pelos próximos nove anos. Atualmente, ele mora na estrada que dá acesso ao Panaquatira (São José de Ribamar). “Conto ainda com a colaboração do Estado, para que pare de depender apenas da solidariedade”, afirmou.

Sobre a denúncia de Márcio Rony, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou, em nota, que comprovará, nos autos do processo, a assistência dada pelo Governo do Maranhão, que garante o tratamento de Márcio Rony da Cruz. A SES comunicou que recorrerá da decisão, por dever legal, uma vez que sempre prestou regularmente o tratamento, os medicamentos e insumos ao assistido.

SAIBA MAIS

No dia do incidente em que teve o corpo queimado, Márcio Rony voltava do trabalho e estava em um coletivo da linha Vila Sarney Filho quando bandidos (a mando de grupos criminosos de dentro dos presídios) armados não esperaram a saída de todos os passageiros e queimaram o coletivo. Num ato de heroísmo, Márcio Rony – que teve a chance, à época, de descer e se salvar – decidiu ficar no interior do veículo para ajudar duas crianças que ficaram impedidas de se deslocar por causa das chamas, dentre elas, Ana Clara (de apenas 6 anos). Márcio Rony retirou a jovem Ana Clara e outra criança do coletivo. Enquanto a última sobreviveu, Ana Clara – que teve 90% do corpo queimado – faleceu três dias depois do episódio. “Ainda lembro com tristeza de tudo o que aconteceu. No entanto, não me arrependo de nada. Faria tudo de novo”, declarou Rony.

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