Saúde pública

Descaso: Unidade Mista do São Bernardo está abandonada

Pacientes reclamam da falta de serviços na unidade, que atende pessoas não apenas do bairro, mas de outras localidades; para conseguir atendimento, muitos têm de passar a noite em uma fila

Atualizada em 11/10/2022 às 12h37

[e-s001]“A saúde é um direito de todos e um dever do Estado”, diz o artigo 196 da Constituição Federal. Porém, nem todas as pessoas têm acesso a tratamentos de saúde adequados e o poder público, por sua vez, não toma das devidas providências para resolver o problema. A situação pode ser vista no drama vivido por dezenas de pessoas que necessitam dos serviços oferecidos pela Unidade Mista do bairro do São Bernardo, em São Luís. Passar a noite em uma fila no hospital para tentar agendar uma consulta é apenas um dos percalços enfrentados pelas pessoas que se dirigem ao local.

Na vez que eu vim, eu dormi na fila e mesmo assim não consegui marcar a consulta, porque as senhas acabaram quando chegou a minha vez” Gracimeire da Luz, dona de casa
Esta semana, O Estado esteve na unidade e conversou com algumas pessoas. Cada uma delas contou as dificuldades enfrentadas para conseguir um atendimento, no mínimo, decente. Como se não bastassem a falta de médicos e medicamentos, a estrutura física do hospital deixa muito a desejar, interferindo diretamente na recuperação das pessoas que estão internadas.

Precariedade
De acordo com a Política Municipal de Humanização, lançada pela Prefeitura de São Luís por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Semus), a Unidade Mista do São Bernardo deveria disponibilizar para a comunidade os programas de atenção à criança e à mulher, além de urgência e emergência 24 horas. No entanto, esses serviços não estão sendo oferecidos a contento.

A dona de casa Josilene Coelho da Silva esteve na unidade e por sorte conseguiu o atendimento que desejava. Mas ela relatou que outras vezes já precisou de atendimento médico na unidade e não obteve, restando-lhe apenas os transtornos.

“Às vezes, tem que dormir aqui para conseguir alguma vaga. Outras vezes, não tem médico. É uma situação muito precária e acho que eles deveriam dar mais valor para a saúde das pessoas”, disse a dona de casa, que reclamou ainda da falta de estrutura do local para receber os pacientes.

[e-s001]Já Josenilse dos Santos não teve a mesma sorte. Diarista e moradora do bairro J. Lima, ela contou que chegou à unidade ontem, às 5h30, para conseguir marcar uma consulta oftalmológica para a mãe, que sofre de catarata, uma vez que no local funciona uma unidade da Central de Marcações de Consulta e Exames (Cemarc). Contudo, já passava das 10h e ela ainda não havia conseguido a marcação.

O motivo foi o sistema, que ficou fora do ar, problema que acontece com bastante frequência, segundo relatado por ela.
A diarista contou ainda que o horário para a marcação das consultas era apenas pela manhã e, se não conseguisse ontem, apenas no próximo teria uma nova oportunidade. “Eu perdi serviço para estar aqui e agora acontece isso. É uma vergonha, pois estamos precisando e não temos para onde correr”, relatou.

Por situação semelhante passou a dona de casa Gracimeira da Luz, moradora do Jardim São Cristóvão. Ela foi ao local para tentar marcar um exame de mamografia, mas também não conseguiu, pois o sistema da Cemarc estava fora do ar.

Às vezes tem que dormir aqui para conseguir alguma vaga. Outras vezes não tem médico. É uma situação muito precária e acho que eles deveriam dar mais valor para a saúde das pessoas”Josilene Coelho da Silva, dona de casa

A paciente disse também que já teve de passar a noite na fila para conseguir marcar uma consulta. “Na vez que eu vim, eu dormi na fila e mesmo assim não consegui marcar a consulta, porque as senhas acabaram quando chegou a minha vez”, afirmou a dona de casa, que denunciou que existe venda de vagas na fila para a consulta.

Estrutura
As pessoas que vão à Unidade Mista do São Bernardo também são penalizadas com a falta de condições do local. Localizada na Avenida Tiradentes, a unidade foi inaugurada em dezembro de 1989, na gestão do governador Epitácio Cafeteira. Desde então, foram poucas as intervenções feitas no espaço.

Em 2014, a Justiça determinou que a Prefeitura de São Luís recuperasse e fizesse a manutenção não apenas da unidade do São Bernardo, mas também do Bequimão, Itaqui-Bacanga e Coroadinho. A decisão atendia a uma Ação Civil Pública proposta pela Promotoria Especializada de Defesa da Saúde, segundo a qual seriam necessárias reformas e adaptações para que o atendimento ocorresse de acordo com as normas estabelecidas pelo Sistema de Vigilância Sanitária. Durante inspeções, a promotoria constatou uma série de irregularidades no funcionamento das unidades de saúde.

[e-s001]No entanto, a Prefeitura recorreu da decisão e obteve parecer favorável por parte do Tribunal de Justiça do Maranhão (TJ-MA), que suspendeu os efeitos da liminar concedida pela Vara de Interesses Difusos e Coletivos da capital. No entendimento do tribunal, a interdição para realização das reformas poderia causar séria lesão à saúde pública, uma vez que as unidades mistas já contavam com uma elevada demanda.

Atualmente, os problemas na estrutura física da unidade do São Bernardo são variados. No local, existem cadeiras e bancos quebrados. Soma-se a isso e a ausência de iluminação e ventilação nos leitos e outras dependências da unidade.
Do lado de fora da unidade, o mato cresce sem qualquer tipo de controle da parte posterior da unidade. Ainda nesse lado, fezes de animais e restos de alimentos ficam próximos dos leitos onde os pacientes estão internados. O mau cheiro proveniente desses dejetos atrai outros animais para a região, oferecendo riscos para as pessoas com a saúde debilitada que estão em recuperação no local.

Por meio de nota a Secretaria Municipal de Saúde (Semus) informou que a unidade conta com dois profissionais que trabalham em regime de plantão, mais dois na enfermaria, além dos profissionais no ambulatório. Em relação ao abastecimento de medicamentos e materiais na rede de saúde, a Semus frisa que realiza com frequência a compra do quantitativo necessário para suprir a demanda, obedecendo a relação de fármacos e insumos definida pelo Ministério da Saúde, em conformidade com o nível de atenção prestado pelas unidades.

A Semus informou que eventuais desabastecimentos podem ocorrer devido a atrasos na entrega ou distribuição, no entanto, são situações pontuais imediatamente sanadas.

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