População teme mais dificuldade na saúde com corte de investimento
Prefeitura de São Luís deixará de investir R$ 2 milhões por mês no setor; redução na escala de trabalho já seria um reflexo do corte; população se preocupa e acredita que será prejudicada, pois atendimentos devem ficar mais precários
[e-s001]SÃO LUÍS - Na edição de fim de semana, O Estado publicou denúncia feita pela Associação dos Médicos dos Socorrões (Amess) de que a Prefeitura de São Luís deixará de investir R$ 2 milhões por mês na rede de saúde. O corte, segundo a entidade, começou a vigorar no dia 1º deste mês. Ontem, O Estado percorreu unidades de saúde da rede municipal para ver como estão os atendimentos e ouvir o que a população tem a dizer sobre o corte de gastos. Ela teme que atendimentos fiquem ainda mais precários.
Na sexta-feira, dia 2, médicos que trabalham na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Frei Antônio Sinibaldi (Socorrinho II), no bairro São Francisco, fizeram um protesto por causa da redistribuição das escalas de plantão que resultou na redução da carga horária dos profissionais que trabalham à noite e nos fins de semana. Pela nova escala, o plantão será de 12 horas e não mais de 24 horas. Com isso, haverá apenas um profissional para atender os pacientes no período noturno e aos sábados e domingos.
Segundo a direção da unidade, a mudança não compromete o atendimento, pois o fluxo de pacientes nestes horários é três vezes menor do que de segunda-feira a sexta-feira durante os turnos matutino e vespertino, que continuam com dois médicos atendendo. Ainda segundo a direção da unidade, a redistribuição aconteceu não apenas no Socorrinho II, mas em toda a rede municipal de saúde.
Reflexo do corte
A redução na escala de trabalho já seria um reflexo do corte de R$ 2 milhões mensais no orçamento da saúde. A justificativa para a queda no investimento estaria na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que deve ser seguida pelos orçamentos municipais.
Conforme a Amess, o orçamento da saúde extrapolou em mais de 50% o teto permitido pela LRF, o que impossibilita não somente a aquisição de novos recursos, como
obriga o poder público a reduzir gastos. Além dos cortes, a Prefeitura deverá enxugar o quadro de médicos das
unidades de saúde.
Os cortes no orçamento e no quadro de pessoal das unidades de saúde devem comprometer a capacidade de atendimento do serviço de saúde municipal. É o que pensa a dona de casa Maria do Rosário Ramos, que foi ontem ao Socorrinho II em busca de atendimento.
“Aqui a gente sempre é atendida. Tem dia que demora mais, tem dia que demora menos, mas agora que vão diminuir o dinheiro para os hospitais meu medo é que a gente tenha mais dificuldade para conseguir uma consulta. A gente que depende do SUS padece muito”, disse.
[e-s001]Macas nos corredores
Outra unidade de saúde em que os pacientes têm constantes reclamações é o Hospital Municipal Djalma Marques (Socorrão I), no centro de São Luís, onde pacientes continuam sendo atendidos nos corredores da unidade, que é uma das principais de atendimento de urgência e emergência da capital. Ontem, O Estado flagrou uma idosa sendo medicada em uma maca no corredor de entrada do Socorrão I.
Em outubro do ano passado, a Secretaria Municipal de Saúde (Semus) chegou a informar que a presença de pacientes nos corredores era um “problema pontual”. No entanto, pacientes reclamam diariamente da ausência de condições físicas de atendimento. “Eu acho que nunca vi o Socorrão I sem gente em maca ou poltronas no corredor. Aqui é sempre lotado e ainda tem vez que faltam medicamentos ou materiais para atender a população”, afirmou José Eulálio Ribeiro Neto, que aguardava do lado de fora enquanto o pai era atendido no hospital.
A outra principal unidade municipal de urgência e emergência, o Hospital Dr. Clementino Moura (Socorrão II) também tem problemas. Em março deste ano, funcionários terceirizados do hospital paralisaram as atividades durante um dia, em protesto contra o corte de benefícios por parte da Prefeitura de São Luís nos três meses anteriores – como vale-transporte e adicional noturno. O protesto comprometeu o atendimento na unidade de saúde.
Problemas antigos
Os “Socorrões” já estiveram no centro de diversas polêmicas por causa de precariedade no atendimento. Uma das últimas aconteceu em outubro do ano passado, quando o presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), Abdon Murad, encaminhou um ofício da titular da Semus, Helena Duailibe, informando da falta de materiais básicos, cirúrgicos e de higiene nas duas unidades. O documento também pedia providências para os problemas.
A Promotoria de Justiça Especializada na Defesa da Saúde também já ajuizou várias ações públicas pedindo que a Prefeitura de São Luís melhorasse o atendimento oferecido nos Socorrões I e II. Dessas ações, a mais antiga é de 1999, requerendo que o Município fizesse melhorias no Hospital Municipal Djalma Marques, o Socorrão I. A mais nova é de 2015, que requer ainda melhorias no Socorrão II. Ao longo desses anos, os problemas persistiram: enfermarias lotadas, pacientes atendidos em macas espalhadas pelos corredores, muitas outras ainda à espera de atendimento, entre várias irregularidades.
O Estado entrou em contato com a Prefeitura de São Luís em busca de um posicionamento sobre o corte de investimentos para a área da saúde. Segundo a Secretaria Municipal de Comunicação (Secom), a secretária municipal de Saúde, Helena Duailibe, se pronunciará hoje sobre o corte no orçamento e o atendimento nas unidades de saúde municipais.
SAIBA MAIS
Socorrão I
O Hospital Municipal Djalma Marques (Socorrão I) começou a funcionar em 1972, mas só passou a integrar a rede municipal de saúde em 1982, quando foi doado pela Cruz Vermelha Brasileira à Prefeitura de São Luís. A unidade recebe, em média, 12 mil atendimentos mensais, em urgências clínicas, cirúrgicas, ortopédicas, neurológicas e neurocirúrgicas com pacientes da capital e do interior do estado.
Socorrão II
O Hospital Municipal Dr. Clementino Moura (Socorrão II) foi inaugurado em 1998 para reforçar a rede de urgência e emergência do município de São Luís. O hospital é direcionado às urgências clínicas e cirúrgicas de pacientes adultos, com especialidade no atendimento de traumatismos ortopédicos, neurocirúrgicos e bucomaxilares. Mensalmente, a equipe médica do hospital atende na emergência ortopédica mais de 600 pacientes, provenientes tanto da capital quanto de municípios do interior do estado. Em média, são realizadas cerca de 300 cirurgias ortopédicas por mês.
NÚMEROS
60% dos pacientes oriundos dos Socorrões são do interior do estado, segundo a Semus
R$ 2 milhões é valor da redução do orçamento mensal para a Saúde municipal
Saiba Mais
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