Agonizante

Degradação: Rio Anil está ameaçado por esgoto, lixo e desmatamento

Garrafas pet e sacos plásticos se acumulam nas margens e a sujeira arrastada pela água da chuva fica presa no lamaçal, nas raízes e nos galhos dos mangues; rio recebe aproximadamente 14 toneladas de esgoto, despejadas diariamente

Carlos Alberto Ferreira/ Especial para O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h38

[e-s001]SÃO LUÍS - “Era uma riqueza, uma maravilha, água cristalina, todo mundo banhava, pura diversão”, lembra seu José Maria, hoje aposentado, que costumava banhar nas águas límpidas do Rio Anil. Morador antigo do bairro de mesmo nome, ele lamenta o estado em que se encontra o rio, tomado por todo tipo de poluição.

O estudante Leandro Pimentel custa acreditar nesse passado. “Não acredito que essa água que era tão azul se transformou desse jeito”, comentou, com olhos marejados, o aluno da escola estadual Cintra, no Anil.
Com aproximadamente 13 quilômetros de extensão, o Rio Anil percorre 55 bairros de São Luís. Por onde passa, a poluição é visível. Urubus formam fila para disputar carcaças de animais. O mau cheiro é insuportável.

Em pleno inverno, chuvas torrenciais acabam por aumentar a sujeira no curso de suas águas. “É assim mesmo, a chuva limpa”, ironiza Elizelton Silva, morador do Anil, sobre os detritos jogados no leito do rio.
Montanhas de garrafas pets e sacos plásticos se acumulam nas margens. A imundície arrastada pela água da chuva fica presa no lamaçal, nas raízes e nos galhos dos mangues.

Além do lixo descartado em suas margens, o rio recebe aproximadamente 14 toneladas de esgoto despejadas diariamente, provocando a morte de espécies e problemas ambientais graves.

Para o doutor em Saneamento Ambiental Lúcio Macêdo, não só o Rio Anil, mas todos os que formam as 12 bacias hidrográficas da capital estão ameaçados por quatro fatores: “O lançamento de esgoto in natura, o desmatamento, o lixo despejado nos rios e a ocupação indevida de suas margens”.

Macêdo assinala que a degradação ambiental dos recursos hídricos da Ilha é uma ameaça a muitas espécies animais e vegetais e à saúde pública. “Para se ter uma ideia, apenas 12% do esgoto produzido em São Luís recebe tratamento”, informa o especialista, alertando que o percentual ideal é 70%.

Ele adverte que a situação do Rio Anil é crítica e provoca um efeito negativo na vida de todos os que, de alguma forma, dependem de suas águas. “Essa degradação acontece há pelo menos 70 anos e nada tem sido feito para evitar que a situação chegue a um nível irreversível”, afirma Macêdo.

[e-s001]Obras
A Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) informa que o Rio Anil foi beneficiado por obras de Esgotamento Sanitário nas duas etapas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Isso vai permitir a construção de 35 estações elevatórias de esgoto, sendo duas grandes estações nos bairros Anil e Vinhais, além da instalação de 355 quilômetros de redes coletoras e interceptores, favorecendo diretamente não só o Anil, mas outros rios de São Luís.

Para Lúcio Macêdo, além das medidas tomadas pelo poder público, é preciso que a população seja conscientizada para a importância de preservar esses mananciais. “É preciso entender que não é possível deixar tudo nas mãos dos órgãos ambientais. A responsabilidade é de todos nós”.

Apesar de tantos problemas, o Rio Anil continua a surpreender por suas dimensões, barcos de pesca, curvas, garças e o verde impressionante ao longo do seu curso. Nos dois lados da margem, o manguezal é majestoso e fica ainda mais exuberante com essa temporada de chuvas. De cima da Ponte Bandeira Tribuzi, é possível apreciar a beleza do mais importante rio de São Luís, que tenta sobreviver a todo tipo de agressão causada pelo dito “homo tecnologicus”.

Rio Anil

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