Prata da casa

“A sociedade tem de apoiar a mulher na amamentação”, diz pesquisador

Professor Cesar Victora, que recebeu a mais importante premiação científica do Canadá em reconhecimento ao conjunto de estudos sobre amamentação e nutrição materno-infantil, afirma que país já avançou na questão, mas precisa evoluir mais

Atualizada em 11/10/2022 às 12h40
Cesar Victora é professor da Universidade Federal de Pelotas
Cesar Victora é professor da Universidade Federal de Pelotas (Cesar Victora h)

SÃO PAULO - O professor da Universida­de Federal de Pelotas (UFPel) Cesar Victora, de 65 anos, está entre os sete cientistas que receberam a mais importante premiação científica do Canadá, o Prêmio Gairdner. Ganhadores desse título são considerados como potenciais candidatos à indicação para o Prêmio Nobel.

Victora foi vencedor na categoria Saúde Global, com o prêmio-título John Dirks Canada Gairdner Global Health Award, que reconhece avanços científicos que produziram profundo impacto para a saúde em países em desenvolvimento.

O título foi concedido em reconhecimento ao conjunto de estudos sobre amamentação e nutrição materno-infantil. O epidemiologista brasileiro liderou uma pesquisa, iniciada nos anos 1980, considerada um divisor de águas na área de alimentação infantil.

Além de professor emérito da Universidade Federal de Pelotas, Victora ocupa posições honorárias nas universidades de Harvard, Oxford, Johns Hopkins e Londres.

Ao iniciar o estudo sobre amamentação exclusiva, o senhor imaginava obter esse resultado?

Não, foi uma surpresa. Todos sabiam da importância do aleitamento, mas até então ninguém ti­nha se dado conta de que a oferta de água e dos chás fosse prejudicial. Pelo contrário, acreditava-se que só o leite materno não supriria toda a necessidade de líquidos. Vimos que o risco aumentava de forma expressiva a cada "chuquinha" ofertada.

O resultado foi uniforme entre todas as classes sociais?

Não. Avaliamos todas as mortes por diarreia ocorridas em Pelotas e Porto Alegre durante um período. Ao todo, foram 170, a maioria em população pobre, moradora de favelas. Mas a recomendação foi para a população em geral. O efeito é tão importante que mesmo países ricos passaram a recomendar essa estratégia, pois a oferta de líquidos diminui a produção de leite e a amamentação fica mais curta.

A amamentação brasileira já está em níveis adequados?

Os números que dispomos são antigos, de 2007. Mas sabemos que mais ou menos metade das crianças brasileiras tem aleitamento exclusivo até os seis meses. É o tal copo meio cheio, meio vazio. Quan­do comecei a estudar o assunto, nos anos 1980, essa taxa era zero. Estamos na direção certa.

Está havendo demora em se elevar esses indicadores?

Sim. Mas essas coisas são complicadas de se aumentar. A sociedade tem de apoiar a mulher na amamentação. Em uma série publicada na revista Lancet sobre amamentação, usamos o Brasil como exemplo positivo. O país investiu muito em amamentação. A licença-maternidade paga é grande e há uma série de políticas de proteção da amamentação, como a rede de banco de leite.

As taxas de cesárea no Brasil continuam altas. Isso pode afetar a amamentação?

É importante que a amamentação comece na primeira hora após o nascimento, e a cesárea atrapalha o processo. Não é impossível colocar o bebê no seio da mãe durante a cesárea, mas é difícil.

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