Oscar 2017

Histórias inspiradoras disputam a estatueta

Moonlight - Sob a luz do luar e Estrelas Além do Tempo, que discutem questões raciais e de intolerância, podem ameaçar La La Land

Poliana Ribeiro, de OEstadoma.com

Atualizada em 11/10/2022 às 12h40
Cenas de Moonlight e de Estrelas Além do Tempo
Cenas de Moonlight e de Estrelas Além do Tempo (filmes)

Apropriação cultural, empoderamento feminino, racismo, homofobia, intolerância são temas que têm sido discutidos – mesmo que, em muitos casos, de forma rasa – na atualidade. E parece que o cinema não tem se furtado a dar sua contribuição. Não que filmes que envolvem questões de gênero ou raça não tenham sido produzidos desde os primórdios, mas, aparentemente, essas produções têm ganhado cada vez mais destaque, inclusive sob os holofotes da maior premiação do cinema norte-americano. O que é muito positivo para essas discussões!

Não deixa de ser um mea culpa o Oscar 2017 ter tantos negros indicados nas categorias principais da premiação, já que, nos últimos dois anos, eles foram deixados de lado, o que motivou críticas severas à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas durante a premiação. Mas a verdade é que, independentemente disso, os indicados merecem a deferência.

Concorrendo ao prêmio de Melhor Filme, Moonlight – Sob a Luz do Luar e Estrelas Além do Tempo só correm o risco de não ganhar a estatueta porque a estão disputando com o favorito La La Land. Mas qualquer um dos três que levar será bem merecido.

Baseado em fatos reais, Estrelas além do tempo é daqueles filmes que devolvem a esperança na humanidade, apesar de ser essa mesma humanidade a responsável pela segregação racial. Mas é entre os que fizeram/fazem distinções motivadas pela cor da pele que surgem lampejos de esperança – como o personagem de Kevin Costner em Estrelas Além do tempo -, e é entre os que foram/são discriminados que surgem personalidades inspiradoras. Pessoas como as três mulheres negras que deram contribuições importantes para a corrida espacial nos Estados Unidos.

Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughh (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe) são brilhantes cientistas que integram o quadro da Nasa, embora precisem se sujeitar a trabalhar em uma divisão destinada a “pessoas de cor”. Mas tal brilhantismo começa a ser notado e contribuir para que algumas barreiras raciais sejam derrubadas, mesmo que em prol do sucesso da corrida espacial. O caminho não é fácil, mas, como bem diz Mary, alguém precisa ser o primeiro. E se para as mulheres já era/é difícil mostrar o seu valor, para mulheres negras o trabalho é dobrado. A história do trio deveria estar incluída nos livros didáticos e ser contada na sala de aula.

Bem mais árido que Estrelas Além do Tempo, Moonlight também discute a questão racial, com o agravante da homofobia. O filme é mais elaborado tecnicamente, mas tem uma narrativa bem mais dramática e menos cativante. É muito mais uma produção para levar a reflexões do que para entreter.

A história centra-se na vida de Chiron/Little/Black, desde sua infância – quando conhece o traficante Juan (Mahershala Ali, que está indicado ao prêmio de Melhor Ator Coadjuvante) – até sua idade adulta, mas poderia ser a história de qualquer menino negro em busca de sua identidade, muitas vezes imposta pela sociedade. A amizade entre o menino de poucas palavras e o traficante afetuoso ocupa a primeira parte do filme, quando Chiron ainda é o garoto que foge dos meninos que o perseguem, mas será importante durante toda a sua vida.

Entre voltar pra casa e encontrar a mãe drogada - Naomie Harris foi indicada a Melhor Atriz Coadjuvante - e ir para a escola ser ridicularizado e agredido por uma orientação sexual que ainda nem está definida, Chiron parece viver em um mundo de dor e sofrimento, até ser levado a desempenhar o papel social determinado – pelos outros – para ele. O filme aborda a complexidade que envolve a construção da identidade além dos rótulos e estereótipos. Como quando Juan conta a Chiron que uma senhora, certa vez, disse-lhe quando ele, menino, corria durante a noite, que iria chamá-lo de Blue porque negros ficam azulados sob a luz do luar: “Uma hora você tem que decidir quem será. Nunca deixe que decidam por você”, diz Juan a Chiron.

Com oito indicações ao Oscar – incluindo na categoria Melhor Diretor, para Barry Jenkins -, Moonlight – Sob a Luz do Luar tem muito mais densidade para ameaçar o favoritismo de La La Land. Por outro lado, Estrelas Além do Tempo e Moonlight pode surpreender por trazer uma história de superação, daquelas que a Academia gosta de premiar. Façam suas apostas!

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