Descoberta arqueológica

Maranhão na rota dos grandes eventos arqueológicos nacionais

Foram descobertos, em Santa Helena, na Baixada Maranhense, vasos de barro com bordas incisas, tradicionais dos povos aruaques e uma flauta, feita de osso animal ou humano

Atualizada em 11/10/2022 às 12h42
Alexandre Navarro, da UFMA, diz que fósseis encontrados na Baixada Maranhense são importantes
Alexandre Navarro, da UFMA, diz que fósseis encontrados na Baixada Maranhense são importantes (Alexandre)

Santa Helena - Duas importantes descobertas em sítios arqueológicos no município de Santa Helena (115km de São Luís), na Baixada Maranhense colocaram o estado na rota dos grandes eventos arqueológicos nacionais. Primeiro, foram encontrados vasos de barros com bordas incisas, tradicionais dos povos aruaques que habitavam parte da Amazônia e a América do Norte, e datados do século II depois de Cristo. Em segundo lugar, foi achada uma flauta, feita de osso. Não se sabe, ainda, se de animal ou humano, e datada do século IX.

Segundo Alexandre Navarro, arqueólogo e professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), estas descobertas são únicas em todo o Brasil não tendo sido realizadas em nenhuma outra parte do país e abrem todo um leque de estudos, para se definir quem eram e como viviam os povos indígenas maranhenses e brasileiros, antes de os portugueses desembarcarem por aqui.

Os vasos, achados em um sítio arqueológico datado entre os anos 100 e 150 depois de Cristo, mostram que os povos que habitavam a Baixada Maranhense eram provavelmente descendentes dos povos aruaques.

Isso porque o tipo de borda encontrada nos vasos descobertos nas escavações remetem ao trabalho que era realizado por esse povo. Eram vasos utilizados para a guarda de utensílios, ou mesmo urnas funerárias.

Amazônia

No Brasil, até então esses povos estavam contidos à regiões da Amazônia, mais próximos às margens do Rio Amazonas e chegaram a criar uma civilização extremamente avançada na Ilha do Marajó, inclusive tendo conhecimento da escrita e produzindo uma cerâmica de alta qualidade.

Com essas descobertas, segundo o professor, pode se especular que estes povos tenham deixado a Região Amazônica e migrado para o interior do Maranhão, estabelecendo aldeias e culturas às margens dos rios e nas regiões alagadas. “Essa é a primeira vez que encontramos esse tipo de cerâmica fora da Amazônia e da Venezuela”, ressaltou o professor Alexandre.

Esses mesmos povos se estabeleceram na região construindo verdadeiras cidades suspensas (palafitas) às margens e dentro de rios e campos alagados da Baixada Maranhense. São as chamadas estearias.

Fabricantes

Ainda fabricantes de boa cerâmica esses povos deixaram muitos utensílios para serem explorados. E nesse monte de descobertas, foi que a equipe do arqueólogo encontrou a flauta de osso. De acordo com Alexandre Navarro, essa é a primeira vez que uma equipe de pesquisadores encontra, em escavações, um instrumento deste tipo, o que o faz único em toda a história da pesquisa arqueológica brasileira.

“As flautas que temos hoje em museus e exposições são do período colonial. Esta é anterior a isso. Tem uns 1200 anos de idade”, ressalta o arqueólogo.

Segundo a pesquisadora Lúcia Gaspar, da Fundação Joaquim Nabuco, as flautas indígenas, são instrumentos constituídos por um tubo aberto em uma ou em ambas as extremidades, são feitas de bambu, madeira e osso, como fêmur de onças, tíbia de veados, cervos, alces, asas de jaburu, clavículas.

Pesquisas iniciais apontam que a flauta encontrada em Santa Helena é feita de osso, por isso ela ainda está disponível para nós até hoje, falta se definir ainda de que animal.

Povos das águas

A pesquisa sobre os povos da águas, como são chamados os indígenas que viviam em palafitas na Baixada Maranhense, está sendo realizada há alguns anos pela Universidade Federal do Maranhão.

O estudo faz parte de um projeto acadêmico multidisciplinar que visa a realização de pesquisa arqueológica, que resultará em uma “Carta Arqueológica das Estearias Localizadas na Porção Centro-Norte da Baixada Maranhense”, englobando os municípios de Olinda Nova do Maranhão, Santa Helena e Pinheiro.

Na região já foram encontrados diversos tipos de utensílios de barro, com pelo menos 1.200 anos de idade, entre eles urnas funerárias, vasos, panelas e demais utensílios domésticos, machadinhas, artefatos de cultos e objetos ritualísticos, tais como figuras de animais, chocalhos, colares e figuras humanas.

Os pesquisadores ainda não tem certeza a quais povos, ou grupos étnicos, pertencem esses objetos encontrados, mas com as novas descobertas abre-se uma nova hipótese, a da migração dos aruaques.

História

Já no começo do século XX, pesquisadores iam pelos lagos da Baixada Maranhense atrás de evidências dos povos que viveram na região há milhares de anos. O professor Raimundo Lopes foi pioneiro nessas pesquisas e descobriu as estearias, que formavam verdadeiras “cidades flutuantes”, com até dois quilômetros quadrados de extensão e milhares de moradores.

Esses índios cortavam, na base da machadinha de pedra, os troncos de madeira de lei, como pau d’arco e pau santo, e construíam suas casas em formatos de palafitas, sobre estruturas chamadas esteios, dentro dos rios e lagos, daí o nome estearia.

“Essa é a primeira vez que encontramos esse tipo de cerâmica fora da Amazônia e da Venezuela”

Alexandre Navarro

Arqueólogo e professor da UFMA

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