Altas temperaturas

Temperatura de São Luís deve aumentar 3,1ºC nos próximos 25 anos

Capital poderá ter redução de 30,3% em quantidade de chuva e o número de dias seguidos sem precipitações pode ter uma elevação de 65,4%; cidade vive quinquênio de chuvas abaixo da média e de temperaturas mais altas

Jock Dean / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h43
Volume irregular de chuvas  comprometendo  o equilíbrio  ambiental,  aumenta  queimadas
Volume irregular de chuvas comprometendo o equilíbrio ambiental, aumenta queimadas (Queimada)

Os dias passam e cada vez mais a população de São Luís reclama da falta de chuva e, consequentemente, do calor excessivo registrado nos últimos meses. E ao que tudo indica a população terá cada vez mais motivos para reclamar. É que, segundo um estudo feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a pedido do Ministério do Meio Ambiente (MMA), a temperatura da capital deve aumentar 3,1ºC nos próximos 25 anos.

Os resultados da pesquisa feita pela Fiocruz foram apresentados ontem durante o Seminário Indicadores de Vulnerabilidade à Mudança do Clima, que aconteceu em São Luís e reuniu representantes da fundação, do MMA, das secretarias de Estado da Saúde (SES), Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema) e outros órgãos. A proposta do projeto é criar indicadores que permitam a análise da vulnerabilidade humana à mudança do clima. A partir da coleta e combinação de informações, é possível ter uma melhor interpretação sobre os municípios que são mais e menos vulneráveis às alterações climáticas e, desta forma, elaborar ações de adaptação que possam contribuir para o desenvolvimento local.

Segundo Martha Barata, coordenadora do projeto, o estudo é inédito porque avalia como as mudanças no clima podem afetar cada município maranhense especificamente. “Ainda há incertezas sobre os impactos das mudanças climáticas e seus efeitos, no entanto, é preciso definir estratégias para entender como o clima pode afetar as populações, os ecossistemas e as atividades econômicas dos estados e municípios”, afirmou.

São Luís
Conforme o estudo, na capital maranhense, a temperatura poderá aumentar 3,1ºC nos próximos 25 anos. Em relação ao volume de chuvas, São Luís poderá ter uma redução de 30,3% e o número de dias seguidos sem chuva pode ter uma elevação de 65,4%.

Segundo Márcio Elói, meteorologista do Laboratório de Meteorologia do Núcleo Geoambiental (Nugeo) da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), São Luís vive um quinquênio de chuvas abaixo da média e consequentemente de temperaturas mais altas. “Em outubro de 2016, batemos nosso recorde histórico para o mês e atingimos a temperatura de 36ºC”, informou. Ainda de acordo com ele, em dezembro de 2006, a capital atingiu sua maior temperatura desde 2003, quando o Nugeo começou a fazer os registros, 38ºC.

Segundo o meteorologista, as poucas chuvas dos últimos anos aconteceram devido a pouca atividade da Zona de Convergência Intertropical. Ela é a área que circunda a Terra, próxima à Linha do Equador, onde os ventos originários dos hemisférios norte e sul se encontram.

Variações na localização desse sistema meteorológico afetam o volume de chuvas em muitos países dessa região do planeta. Em São Luís, por exemplo, a Zona de Convergência Intertropical é responsável por mais de 70% das chuvas. Para que ela se forme e garanta volumes de chuva dentro da normalidade é preciso que as águas do oceano Atlântico Sul estejam mais quentes do que as do Atlântico Norte.

Ainda de acordo com Márcio Elói, essa irregularidade tem ocorrido em São Luís desde 2012. “Além dessa formação irregular da Zona de Convergência Intertropical, tivemos um fenômeno El Niño intenso nos últimos anos o que favoreceu essa variação climática fora da normalidade”, informou.

Queimadas
O meteorologista explicou ainda que o volume irregular de chuvas prejudica a reposição de água no solo, comprometendo o equilíbrio ambiental já que a vegetação vai ficando cada vez mais seca e sujeita a queimadas. Segundo dados do Batalhão de Bombeiros Ambiental (BBA), de janeiro a setembro de 2016, foram registrados, em média, de 20 a 25 focos de queimadas na Ilha de São Luís e em seu perímetro urbano, como o Campo de Perizes, já na região continental do Maranhão.

De acordo com Celina Mendonça, representante do MMA, o Brasil aparece na lista dos grandes emissores de gás carbônico por causa da grande incidência de queimadas e do desmatamento. “As florestas são grandes reservatórios de gás carbônico. Quando alteramos esse ecossistema, o gás carbônico foge para a atmosfera aumentando o efeito estufa, por isso, é importante recuperar essas áreas”, destacou.

Celina Mendonça frisou que o estudo apresentado ontem, na capital, é um instrumento importante para que os gestores municipais e estadual consigam identificar os riscos que cada localidade está sujeita por causa das mudanças climáticas e traçar políticas públicas que previnam ou atenuem esses efeitos.

Maranhão
O Maranhão foi um dos seis estados escolhidos para participar do projeto Vulnerabilidade à Mudança do Clima, que também avalia a vulnerabilidade humana à alteração do clima nos municípios do Amazonas, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraná e Pernambuco. No Maranhão, a pesquisa aponta que a parte central do estado, com destaque para o município de Trizidela do Vale, pode ser considerada o mais exposto à mudança do clima, em virtude dos desmatamentos e desastres meteorológicos, como enchentes e estiagem.

Para a sensibilidade, índice que destaca a intensidade com a qual os municípios são suscetíveis à mudança do clima, Senador Alexandre Costa apresentou o maior valor. Algumas cidades da porção centro-oeste do Maranhão, como Buriticupu e Santa Luzia também seriam mais sensíveis às alterações climáticas.

As projeções feitas na pesquisa indicam que, além das populações, algumas atividades como a pesca, pecuária, agricultura, extração de madeira e babaçu podem ser afetadas, caso não sejam adotadas estratégias de adaptação à mudança do clima. “O Maranhão tem uma população rural significativa e ela deve ser a mais afetada por todas estas mudanças se não for feito um trabalho de prevenção junto a estas comunidades. A seca deve afetar, sobretudo a agricultura de subsistência”, alertou Diana Marinho, uma das pesquisadoras da Fiocruz.

O estudo mostrou que Porto Rico do Maranhão e São Luís seriam os municípios mais adaptados para lidar com a mudança do clima, em virtude da estrutura socioeconômica, do número de leitos hospitalares e da atuação da Defesa Civil. A cidade de Marajá do Sena seria a menos adaptada.

Mudanças preocupantes
A pesquisa feita sobre os municípios maranhenses indica que a porção centro-oeste e o extremo norte do estado poderão ser as áreas mais impactadas pela diminuição no volume de chuvas. O município de Bom Jesus das Selvas, por exemplo, poderá ter uma redução de 32,2% na precipitação. Em cidades como Carutapera e Amapá do Maranhão é esperada uma queda de até 30% na pluviosidade nos próximos 25 anos.

De acordo com as projeções feitas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para o período de 2041 a 2070 – dados considerados para a realização do estudo, a temperatura na porção oeste do estado poderá aumentar até 5,4°C, com destaque para o município de São Pedro da Água Branca. Em cidades localizadas na porção central do Maranhão, como Barra da Corda e Jenipapo dos Vieiras, o aumento pode chegar a 4,8°C. O litoral seria a parte menos afetada, com acréscimos entre 2,8°C (em Cururupu e Porto Rico do Maranhão) e 3,3°C (em Cândido Mendes e Turiaçu).

Para o número de dias secos consecutivos ao ano, índice chamado de CDD, o estudo indica que as populações que vivem na parte centro-oeste do estado poderão lidar com o aumento dos períodos de estiagem. Em Altamira do Maranhão e Alto Alegre do Pindaré, por exemplo, as elevações nos dias seguidos sem chuva podem chegar a 92,6% e 90,4%, respectivamente, em comparação com o período atual.

Marcelo Rosa, secretário adjunto de Atenção Primária e Vigilância em Saúde, da Secretaria de Estado da Saúde (SES), disse que hoje o sistema de saúde estadual já é afetado por causa da estiagem, queimadas e altas temperaturas que provocam doenças na população, sobretudo respiratórias. “Hoje, trabalhamos com a lógica da notificação. Atuamos conforme sabemos das necessidades, mas este estudo vai nos ajudar a traçar indicadores e dados que nos ajudem a pensar em estratégias de prevenção”, afirmou.

SAIBA MAIS

Até o mês de outubro, o Maranhão era o terceiro estado brasileiro em número de queimadas registradas, ficando atrás apenas do Mato Grosso e do Pará. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que até o dia 19 foram registrados 15.269 focos de incêndio em todo o estado, durante o ano inteiro. Somente em outubro, cinco cidades maranhenses apareciam entre as 10 que mais tiveram queimadas. Caxias, no leste maranhense, liderava a lista, com 325 ocorrências. Completam o ranking Parnarama, Matões, Barra do Corda e Alto Parnaíba.

NÚMEROS

38ºC foi a maior temperatura registrada à sombra, em São Luís, em dezembro de 2006, desde o início dos registros em 2003
36ºC foi a maior temperatura registrada em outubro deste ano, superando o recorde histórico

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