Entrevista Sadi Consati, consultor criativo de O Boticário

Um toque do mestre

Mesmo em tempos em que a maquiagem se tornou bem mais democrática, não há quem não tenha dúvidas do que deve e não deve usar e até onde ousar; o expert no assunto, Sadi Consati, esclarece e desmistifica vários pontos

Paula Bouéri / Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h44
Sadi Consati dá dicas de como usar a maquiagem sem exageros, na medida correta
Sadi Consati dá dicas de como usar a maquiagem sem exageros, na medida correta (Sadi Consati)

Autoestima, beleza, tendências, produtos, regras - subversão delas também -, técnicas de maquiagem, tecnologia de ponta... entre o desenvolvimento de um produto e a compreensão das necessidade do público, existe muito trabalho e pesquisa intensa das empresas de produtos de maquiagem e beleza. Não basta lançar paletas de cores novas a cada estação, novas texturas, produtos inovadores e tecnologia da concepção à aplicação são essenciais para manter-se vivo no mercado e agradar ao consumidor.

Tanto trabalho não é à toa. O Brasil hoje é o terceiro maior mercado consumidor do setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, 9,4% do consumo mundial, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China, com 16,5% e 10,3% do consumo mundial respectivamente.

Sadi Consati conhece os dois lados da moeda. São 20 anos como maquiador, ministrando também cursos personalizados de maquiagem, e tantos outros como consultor criativo de maquiagem das linhas Make B., Capricho e Intense, de O Boticário, atuando como porta voz e consultor no desenvolvimento de produtos. Com tanto know-how na área, não é de se admirar que ele tenha se tornado um dos maiores nomes no cenário de beleza.

Em São Luís, na semana passada, para falar sobre novas tendências de maquiagem para o público de maquiadoras, blogueiras e youtubers, ele conversou exclusivamente com O Estado e foi taxativo: “a moda na área de beleza está mais democrática, entretanto, é preciso fazer escolhas harmônicas dentre tantas opções para não cair no que ele chama de ‘beleza estranha’”.

Hoje em dia, é difícil apontar uma tendência na área de beleza que esteja em alta. São várias referências convivendo, e, no meio disso, está o consumidor. Como se achar entre tantas tendências?

Nos anos 1960, 1970, 1980 e 1990, existiam tendências únicas. Ora era o blush marcado, no outro era os batons metalizados. Era isso e pronto, não havia opções. Como a evolução do comportamento, a gente não tem mais um único caminho a seguir, temos vários caminhos criativos que convivem.

No universo da beleza, hoje, temos opções. A beleza está mais democrática nesse sentido. Porém, nem tudo é para todos. Ninguém se sente mais órfão porque não gosta de uma tendência específica. Existe essa democracia para escolher o que se julga mais adequado para si. Escolher qual tendência me identifico. As marcas, nesse sentido, têm que adaptar, mas tem de ter uma identidade. É o caso de O Boticário. E as consumidoras se apoderam disso.

Uma vez Glória Kalil fez um texto sobre tendências em que ela dizia “relaxa e esquece isso. Existem vários caminhos”. E isso me marcou.

As mulheres também estão tendo mais atitude, elas têm o cuidado de querer construir sua própria imagem, criar uma identidade visual para si. Vejo por aí uma leva de “it girls” que são todas muito parecidas. Nada contra, mas as mulheres hoje têm a possibilidade de criar algo original para si, não precisam seguir um mesmo modelo.

Como as empresas fazem para se adaptar a essa democracia toda? São muitos produtos a serem lançados em um espaço de tempo cada vez mais curto, não?

Antes, nós lançávamos apenas duas coleções por ano primavera/verão e outono/inverno. Demorava seis meses o processo todo, desde criar o produto até colocar na loja. Hoje, demoramos dois anos para pensar cada coleção, que vai para a loja em espaços de tempo menores. Isso, porque não é só lançar cores novas a cada estação, temos que investir em tecnologia. Cada Coleção tem de trazer uma tecnologia nova.

A última coleção que o Boticário lançou, por exemplo, a Make B. Africaníssima, veio com a tecnologia Duo Effect +, com as sombras oferecendo acabamentos diferentes de acordo com a aplicação. Com o pincel seco o acabamento é opaco, com o pincel úmido o acabamento é metalizado.

As empresas precisam seguir essa tendência de inovação, mas também precisam ter uma postura definida. O Boticário não testa em animais, possuímos pele sintética criada em laboratório para testar nossos produtos em respeito ao consumidor e ao que se prega de cuidados e respeito.

Além do desafio de agradar o consumidor, existe o desafio de enfrentar todo um arsenal de novas marcas, muitas internacionais inclusive, que estão no Brasil.

Não é à toa que todas as grandes marcas estão vindo para o Brasil. Hoje, somos o terceiro maior mercado consumidor de produtos de beleza e higiene. Então todas as grandes marcas vieram com tudo para cá. Para quem já estava aqui o desafio é dobrado, porque precisa manter o público e crescer. Os esforços são grandes em cada linha que nossos produtos batem de frente. A Make B não deixa nada a desejar para os produtos que vêm de fora. A Make B. Base Cushion, por exemplo, tem textura oil free, com alta proteção solar (FPS 40), com toque seco.

Com a concorrência temos que ter também mais agilidade nos nossos lançamentos. Para o fim do ano, teremos uma paleta de sombras de Natal com tons neutros e mais lançamentos especiais.

Quais são hoje os produtos mais vendidos de maquiagem de O Boticário?

Temos vários destaques. Mas o batom Intense 330, um vermelho matte, é o mais vendido de todo o Grupo Boticário. Depois temos o flash iluminador Make B, que possui partículas reflexivas que tiram o efeito de fadigado do olhar. É um iluminador, mas não tem brilho. Uma tecnologia fantástica. E outros dois clássicos são a máscara efeito cílios postiços e a solução para sobrancelhas.

Mesmo que a gente afirme que a moda e beleza estão mais democráticas, ainda existem “erros” cruciais sendo cometidos?

Quando você democratiza algo, as pessoas saem achando que podem tudo. Mas tem o que eu chamo de beleza harmônica, que é aquela equilibrada, que não causa estranhamento em um primeiro contato. E tem a beleza estranha, que é quando você usa propositalmente algo estranho no contato inicial, quando o objetivo é chocar também. Por exemplo, batons pretos e azuis. Não é harmonioso, 99% das vezes você leva um choque ao ver. O batom roxo, por exemplo, que já tem uma cor mais aceitável para a grande maioria, não fica bem em todo mundo. Se a pessoa tem olheiras fundas e arroxeadas e usar um batom roxo, as olheiras vão ‘gritar’. Então, tem coisa que não favorece todo mundo. Quem quiser usar com essa consciência, ok, porque se pode tudo, mas o efeito pode não ser tão bom no final.

A indústria lança muitos produtos a cada estação, o que é realmente o essencial?

As mulheres acham que para se maquiar têm de ter muitos produtos e eu acho que não precisa tudo no dia a dia. Se tem algo que te incomoda, não usa. Para o dia a dia usar primer, base, pó, blush e muitas outras coisas pode criar um desconforto, principalmente em locais mais quentes. Escolher três ou quatro itens já está bom.

Para esse dia a dia, quais seriam esses itens?

Eu sempre divido o rosto em três partes: pele, olhos e boca. Cada parte dessa tem que receber um ou dois itens. Então vamos lá. Para a pele, um corretivo no tom da pele - nunca mais claro! – e um blush é o ideal. Para os olhos, uma máscara de cílios e um delineador, que pode ser um lápis. Na boca um batom. Se usa esses cinco itens já dá uma boa mudada.

Se for para uma festa aí já pode ter mais trabalho. Um primer, base, corretivo e um iluminador para a pele já te deixam incrível. Aí vem uma sombra bem esfumada, uma máscara de cílios, um delineador, um blush e o batom.

Um destaque são os pincéis. Eles são a ferramenta que vão espalhar os produtos no rosto e fazer com que a pele receba e absorva melhor os itens. Vai dar acabamento.

E quais são as principais escorregadas na maquiagem?

Usar base e corretivo nas cores erradas ainda é o principal erro. Compra errado e vai tentando corrigir. Olha, se começa errado, vai terminar errado. Fica muito evidente quando isso acontece, fica parecendo que aquele rosto não é daquele corpo. Não casa.

Depois disso, blush borrado tipo anos 1980. Ele parece que foi mal colocado, que não incorporou à pele. Tem que parecer que o blush é um leve corado da pele, ficar natural, e não aquela bola marcada.

E por último o que eu chamo de sombras arco-íris, que são quando as sombras não estão esfumadas, então você enxerga a transição de uma para a outra. Não é esteticamente harmonioso.

“No universo da beleza, hoje, temos opções. A beleza está mais democrática nesse sentido. Porém, nem tudo é para todos. Ninguém se sente mais órfão porque não gosta de uma tendência específica. Existe essa democracia para escolher o que se julga mais adequado para si”

“E tem a beleza estranha, que é quando você usa propositalmente algo estranho no contato inicial, quando o objetivo é chocar também. Por exemplo, batons pretos e azuis. Não é harmonioso, 99% das vezes você leva um choque ao ver”

“As mulheres acham que para se maquiar têm de ter muitos produtos e eu acho que não precisa tudo no dia a dia. Se tem algo que te incomoda, não usa”

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