Transtorno Borderline ocasiona crime em família, diz psicólogo

O Caso Richthofen é a deno­minação pela qual se tornou conhecida a morte do casal Manfrede e Marísia von Richthofen. Eles foram assassinados a golpes de marreta pelos irmãos Daniel e Cristian Cravinhos a mando da filha das vítimas, Suzane von Richthofen, fato ocorrido no dia 31 de outubro de 2002, na mansão da família, no Brooklin, em São Paulo. Este tipo de crime em família, com requintes de crueldade, mais uma vez foi registrado pela polícia, desta vez em São Luís, este mês. No último dia 23, um casal de adolescentes de 14 e 16 anos teria matado Tatiana Albuquerque Cutrim, de 48 anos, em sua residência no Planalto Anil II.

Segundo a polícia, o crime teria sido motivado pelo fato de a vítima, mãe adotiva da adolescente, não concordar com o namoro desse casal. Para a psicologia, esses adolescentes poderiam ter tido um Transtorno de Personalidade Borderline. Uma relação com o espectro bipolar do humor.

A menor, ao prestar declaração na delegacia, contou que começou a sentir raiva da mãe desde quando começaram as brigas pelo fato de ela não permitir o seu namoro com o outro suspeito do crime. Durante essas brigas, chegaram até mesmo a trocar agressões físicas e verbais. Ainda segundo a adolescente, no dia do crime o casal primeiramente rendeu a vítima e logo após lhe desferiu várias facadas. Um dos golpes atingiu o abdômen de Tatiana Cutrim e as outras facadas o pescoço, os braços e a cabeça. Em seguida, a vítima foi estrangulada.

O casal fugiu para a cidade de Santa Inês, onde foi apreendido no último dia 25 e trazido para São Luís. Na quarta-feira, 27, o juiz da 2ª Vara da Infância e da Juventude de São Luís, Reginaldo de Jesus Cordeiro, baseado no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), determinou que os adolescentes ficassem internados de forma provisória por 45 dias em uma das unidades de ressocialização da Fundação da Criança e Adolescente do Maranhão (Funac), localizada na capital.

Crimes em família
O empresário Pedro Ventura desapareceu da cidade de Imperatriz no dia 21 de agosto de 2015, e o corpo somente foi encontrado no dia 15 de janeiro deste ano em uma cova rasa, no assentamento Saramandaia, zona rural de Buritirana. Esse caso foi investigado pela Polícia Civil, sob o comando do delegado Carlos César Andrade. Ele informou que a esposa da vítima, Cícera Célia Ventura, declarou à polícia que matou Pedro Ventura com dois tiros de revólver calibre 38 na cabeça, na suíte da residência do casal, localizada no bairro Três Poderes, em Imperatriz.

Ela ainda disse que o seu irmão, Daniel Ribeiro Teotônio, teria ajudado a ocultar o corpo da vítima, que foi enrolado em uma lona preta e levado em uma caminhonete Amarok, conduzida por Cícera Célia, até o povoado Saramandaia. Para o delegado, esse crime foi tipificado como passional. Cícera Célia declarou que matou por desespero, já que Pedro Ventura a teria ameaçado de morte e chegou a perguntar se ela queria ficar sem ver o filho do casal definitivamente.

Borderline
“A maioria dos acusados de cometer crime em família pode ser acometida de um Transtorno de Personalidade Bordeline”, disse o psicólogo Alfredo Barbetta. Ele informou que esse tipo de transtorno envolve a consideração de múltiplos fatores de campos distintos do conhecimento, em níveis diferentes tanto para a investigação como para o tratamento.

Barbetta explicou que além de áreas da saúde e de psicodinâmica específica, essa clínica implica também aspectos socioculturais e biológicos, ampliando sua multicausalidade e, consequentemente, não deixar de dificultar o diagnóstico, principalmente por sua aproximação com quadros de outros tipos de transtornos.

Ele declarou ainda que os critérios para diagnóstico de Transtorno de Personalidade Borderline compreendem um padrão de instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem e dos afetos e de impulsividade acentuada que surge no começo da vida adulta e está presente em vários contextos.

Em relação a assassinato, o psicólogo informou que tem relaçãocom a teorização da raiva desequilibrada. Um sentimento de raiva extrema. O ser humano também pode cometer esse tipo de crime quando em perigo, ou até mesmo pode ser um ato de intimidação. l

Abrindo o jogo - Psicóloga Jalila Ribeiro

O que é matricídio e como é feito a forma de tratamento para resgatar a autoestima das pessoas que cometem esse tipo de crime?

Jalila Rodrigues - Matricídio significa o ato de matar a própria mãe. Não existe uma causa especifica, mas, hoje em dia, vemos que algumas famílias têm, em sua estrutura familiar, quebra de laços afetivos, repercutindo em atos abusivos de agressões físicas e/ou verbais pelos pais por não aceitarem as atitudes dos filhos e dos filhos por não aceitarem o ponto de vista dos pais. Ás vezes, a opção que os filhos vêem para se verem livres a fim de viver a vida a sua forma, é matando os pais. É necessário terapias psicoterápicas aliadas a consultas psiquiátricas, não só para o que cometeu o matricídio e sim para toda a família que se desestrutura mediante o ocorrido.

Como devem ser evitadas as brigas diárias entre pais e filhos?

Jalila Rodrigues - Deve-se estabelecer um relacionamento entre pais e filhos para que cada um tenha segurança no outro e os filhos tenham liberdade para falar o que quiserem com os pais, sem os pais recriminarem. É necessário ouvir os filhos, escutar o que eles têm a dizer para poder emitir uma opinião. Às vezes impor soa como algo negativo, tirando assim, o poder deles de se abrirem com os pais. É preciso haver uma boa comunicação. Se os pais observam que algo está indo errado, o ideal é chamar o filho para uma boa conversa aberta, sem discussão, gritos, imposições. Mostrar para o filho que ele possa estar errado e fazê-lo ter consciência disso e buscar ajuda para mudar.

A índole da pessoa influencia no comportamento do ser humano até que ponto?

Jalila Rodrigues - Bom, caráter e personalidade estão intrisicamente ligadas ao ser humano. Todas as pessoas, pequenas ou grandes, são dotadas de caráter e personalidade. Personalidade é biológico. Caráter é construído através das relações e é um processo que deve ser direcionado da infância até a adolescência. Quando esse direcionamento não é conduzido pela família, ele acontecerá, consequentemente, em algum momento, possivelmente por outras pessoas que não serão os pais e dentro de outros aspectos e contextos que não a família. Isso gera mudança de comportamentos ou aprendizados de comportamentos errados.

frase

“A maioria dos acusados de cometer crime em família pode ter sido acometida de um transtorno de personalidade bordeline”.

Alfredo Barbetta, psicólogo

Fique sabendo

Definição do Borderline

O termo Transtorno de Personalidade Borderline foi usado pela primeira vez em 1884 e desde então passou por diversos conceitos ao longo dos anos. Originalmente designava um grupo de pacientes que vivia no limite da sanidade (daí o termo limítrofe), ou seja, na fronteira (borda, borderline) entre a neurose e a psicose.

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