Literatura

Discurso político e diálogo sobre gênero no primeiro dia da FLIP

Feira Literária de Paraty começou na tarde desta quarta-feira com a mesa-redonda De Onde Eu Escrevo, com cinco escritoras brasileiras

Bruna Castelo Branco, Enviada especial

Atualizada em 11/10/2022 às 12h47
Escritoras debatem questões de gênero durante mesa-redonda da Flip
Escritoras debatem questões de gênero durante mesa-redonda da Flip (FLIP)

PARATY - Aberta nesta quarta-feira e se estendendo até domingo, a 14ª Feira Literária de Paraty (Flip), que traz este ano uma homenagem à poeta Ana Cristina César, começou com um tom político e de reflexão sobre a literatura e a representatividade do negro e da mulher.

Com a mesa-redonda “De Onde escrevo”, o espaço reuniu as escritoras Ana Maria Gonçalves, Andréa Del Fuego, Conceição Evaristo e Maria Valéria Rezende, com mediação da atriz e escritora Roberta Estrela D’ Alva.

A intenção do debate era mostrar os diferentes processos de criação e suas perspectivas literárias e, muito além, de técnicas de escritas, as convidadas abordaram temas cotidianos e desafiadores que interferem em toda a sociedade, como o preconceito racial e também o machismo. Para a escritora Ana Maria Gonçalves, autora do livro Um Defeito de Cor, romance vencedor do prêmio Casa das Américas (Cuba, 2007), a representatividade para a literatura feita por mulheres ainda é um processo longo e cheio de falhas no país. “Eu faço política de gênero nos meus livros e ainda é muito difícil os meus livros serem definidos e respeitados como literatura. E eu acredito que a literatura é sim um instrumento de mudança social”, definiu.

Já a escritora Conceição Evaristo, ficcionista e ensaísta, mestra e doutora em literatura e autora de Becos da Memória e Ponciá Vicêncio, o reflexo da pouca participação de escritores negros participando de eventos literários tanto nacionais como internacionais é um reflexo do racismo perpetuado na sociedade brasileira. “ Quem nega a questão racial no Brasil ou é muito alienado ou muito cínico”, disse a autora que propôs um diálogo com curadores de eventos para mudar essa realidade.

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O debate “De Onde Eu Escrevo” foi uma promoção do Itaú Cultural e marcou a inauguração do Espaço Itaú Cultural em Paraty, que funciona em um Casarão Histórico e é uma parceria do Itaú Cultural e Itaú Unibanco. Durante toda a Feira Literária de Paraty, o local será palco de debates, com a presença de diversos escritores e com programação gratuita.

De onde escrevo reúne essas cinco escritoras brasileiras com diferentes origens, histórias e formações para falar sobre os seus processos de criação e suas perspectivas literárias. “Eu escrevo, principalmente, a partir de duas identidades que, em mim, se complementam: mulher e negra”, conta Ana Maria Gonçalves, antecipando o assunto que levantará nesse dia. “É a partir desses dois lugares que experimento o mundo e é também neles que busco as histórias que me interessa contar, esperando que não sejam lugares limitadores, mas de inclusão e colaboração com o projeto de narrativa da experiência humana”, completa.

Valéria Rezende observa que desde muito pequena viveu a experiência de contato e inserção em diferentes ambientes sociais, geográficos e culturais. “Pelo resto de minha vida, essa andança foi se intensificando e alargando”, diz. “De modo que, onde quer que eu esteja, minha posição é a de ‘semiestranha’, da que olha com curiosidade, pergunta, experimenta, aprende e acaba por desejar, hoje através da literatura, compartilhar suas descobertas”. Além de expor os seus depoimentos, como esses, elas tratam ainda de temas como o olhar da mulher na literatura, o mercado editorial, gêneros e espaços literários e a representação da mulher na literatura brasileira. “Pretendo falar acerca da intimidade da criação literária, seus desafios, e de que maneira a voz é legitimada pela literatura”, adianta Andrea Del Fuego.

A repórter viajou a convite do Itaú Cultural

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