Tiquira Guaaja

Tiquira chega a novo mercado com status de bebida sofisticada

Aguardente do Maranhão, produzida da mandioca, começa a conquistar o Brasil e a meta é chegar à países da Europa; fábrica em Santo Amaro produz 500 litros/mês

Atualizada em 11/10/2022 às 12h47
Margot Stinglwagner exibe a garrafa de Tiquira Guaaja
Margot Stinglwagner exibe a garrafa de Tiquira Guaaja (A empresária)

Santo Amaro - A tiquira maranhense, produzida a partir da mandioca brava, em um processo diferente da cana, por não conter açúcar natural, ganha status de bebida sofisticada e já está sendo vendida no Rio de Janeiro. A Tiquira Guaaja, fábrica instalada no município de Santo Amaro - nos Lençóis Maranhenses -, produz 500 litros/mês, mas há a previsão de alcançar mil litros quando passar a ser exportada. Para isso, depende de certificações internacionais e vistorias, ainda não há uma data específica para o começo dessa venda internacional.

"Miramos países como Alemanha, Bélgica, Portugal e Estados Unidos. Já recebemos pedidos desses lugares", diz dona da fábrica, a carioca Margot Stinglwagner. Filha e neta de mestres cervejeiros, Margot procurou se preparar para o desafio e se formou mestre alambiqueira, em Itaverava (MG). Adquiriu e montou um alambique na cozinha de seu apartamento em Ipanema, onde iniciou os primeiros de centenas de testes para a produção de tiquira, comprando quilos e mais quilos de mandioca na feira.

Três anos mais tarde, com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e de seus consultores, a fábrica em Santo Amaro, já estava construída, mantendo a tradição e a cultura da fabricação da tiquira na região, e produzindo uma bebida com o sabor e a identidade com características próprias dessa aguardente tipicamente brasileira.

Inicialmente, a empresária tinha um projeto para abrir uma pousada em Santo Amaro, mas quando o grupo empreendedor do mesmo se desfez, em busca de oportunidades na região que a encantava, ela atentou para a tiquira.

A Tiquira Guaaja nasce com o objetivo de conquistar os paladares mais apurados e encantar a todos com esse destilado pouco conhecido, inclusive no Brasil, proporcionando a degustação com o sabor e a identidade característicos e próprios dessa aguardente genuinamente nacional com 40% de graduação alcoólica.

Margot conta com entusiasmo a origem da tiquira. “Nem a cachaça é tão brasileira como a tiquira, pois a cana de açúcar não é originária daqui e a mandioca, sim”, diz a produtora. A bebida tem uma graduação alcoólica que vai às alturas, de 36 a 54º GL (porcentagem em volume).

Produção

Tudo começa com a mandioca lavada, ralada e prensada. Esse processo garante que um componente químico, o ácido cianídrico seja retirado e isso é bem importante. Disso vai resultar uma massa, dando origem a uma farofa grossa, que é espalhada sobre uma chapa quente, até que se consiga formar “bolos”, que deverão ser assados até ficarem cozidos. Estes ganham o nome de beijus.

Os beijus resfriam, são expostos ao ar. Vai acontecer uma proliferação espontânea dos esporos e dos fungos do ambiente e, três ou quatro dias após isso, aparecem sobre eles uma flora de micélios, de cor rosada. De 12 a 14 dias depois diminui o teor de umidade dessas massas e os micélios (fungos) da superfície chegam ao interior dos beijus, contaminam e sacrificam a massa, desdobrando todo o amido.

Os beijus são levados a um tronco de árvore escaldado que deve ter 200 litros de capacidade coberto com água. No dia seguinte estará uma massa desfeita e xaroposa que deve ser mexida e agitada para uniformizar e arejar o tronco, que deixado exposto completará sua fermentação em dois dias. Terminada a fermentação, o tronco é destilado em alambiques de barro ou de cobre, e em cada operação vai de 15 a 20 litros de tiquira o que dá cerca de 100 litros, no total.

Mais

Onde encontrar a bebida no RJ

No Rio, a bebida está disponível no Braseiro da Gávea, Churrascaria Palace, Espeço 7zero6, Fasano, Caesar Park, Copacabana Palace, Satyricon, Supermercado Prix e Bergut.

Fábrica se sobressai, apesar da crise

O Estado - A fábrica prospera mesmo na crise?

Margot Stinglwagner - Temos todo um mercado novo a conquistar. Fora do Maranhão a tiquira é uma bebida ainda desconhecida para a maioria das pessoas. No momento de crise em que se encontra o Brasil, nem todos querem arriscar a experimentar ou expor algo novo, mesmo assim estamos crescendo desde que começamos a comercializar a bebida, há um ano.

O Estado - E no Maranhão?

Margot Stinglwagner - Dentro do Maranhão, a tiquira tem uma má fama de bebida rascante e fortíssima, que temos que desfazer para conquistar o público, além de termos concorrência de muitas tiquiras informais, que por serem informais não pagam todos os tributos que pagamos, de salários, férias, 13º e, consequentemente, são mais baratas.

O Estado - Como é a receptividade dos moradores do RJ?

Margot Stinglwagner - Como não conhecem as lendas que envolvem a tiquira não se furtam em experimentar. A mixologia (é a ciência que se preocupa em gerar conhecimento para a coquetelaria) está em alta com seus barmans premiados e drinks espetaculares, por isso a tiquira tem conquistado os mixólogos pela sua versatilidade e aos sommeliers pela sua leveza e sabor único.

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