Construção civil

“Em apenas dois anos, nós perdemos 50% do mercado”

Reunião da Comissão da Indústria Imobiliária da CBIC, realizada em São Luís, debateu questões pertinentes ao setor e também sobre a crise

Atualizada em 11/10/2022 às 12h47

O segmento da construção civil foi um dos mais afetados pela crise econômica. Investimentos recuaram, 700 mil pessoas foram demitidas, obras foram paralisadas. Uma situação bem diferente do boom que ocorreu anos atrás. Em entrevista exclusiva a O Estado, o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, fez uma avaliação do atual cenário, mas mostrou-se confiante de que esse momento de dificuldades será superado.

Que avaliação o senhor faria da atual situação da construção civil nesse cenário de crise econômica?
É um momento muito difícil, crítico da história, porque construção civil está diretamente ligada a investimento e ninguém faz investimento se não tiver um mínimo de perspectiva futura. Uma família não compra uma casa nova, não reforma, uma indústria não constrói uma nova fábrica. Então, todo mundo nesse instante está receoso de fazer investimentos, e isso impacta diretamente na construção civil.

Qual é a realidade hoje das empresas da construção civil em termos financeiros e de obras?
Quando você tem uma fábrica que tem automóvel, ela pode reduzir 20%, mas 80% dela continua funcionando. Construção civil não, quando terminar uma obra e não tiver outra obra tem que demitir. Já perdemos 700 mil empregos desde novembro de 2014, quando começou a crise do setor, ou seja, quase 3 milhões de pessoas que ficaram sem o sustento.

Vale lembrar que o Brasil viveu um boom na construção civil anos atrás e agora o setor vive um momento de grande dificuldade. Que paralelo o senhor faz desses dois momentos em relação a obras?
O melhor número que a gente pode dar é o seguinte: em 2003, quando começou o processo de crescimento do mercado imobiliário, houve R$ 3,3 bilhões de financiamentos no setor. Em 2014, chegamos a R$ 120 bilhões, um crescimento fantástico. Este ano, vamos voltar para R$ 60 bilhões. Ou seja, em apenas dois anos nós perdemos 50% do mercado.

Desse modo, então, a economia como um todo acaba sendo afetada?
Quando se olha a curva do PIB da construção e o PIB do Brasil, se nota claramente que sempre a construção civil empurra para cima ou para baixo.

O cenário ainda é de pessimismo ou já se pode vislumbrar recuperação da economia?
O que a gente tem visto nas sondagens realizadas pela CBIC [Câmara Brasileira da Indústria da Construção] e CNI [Confederação Nacional da Indústria] é a demonstração de que o humor já começa a ficar menos pessimista do que está, não que deixou de ser um cenário pessimista.

Com essa retomada do crescimento? O senhor entende que ainda demora para se ver novos canteiros de obras serão abertos, gerando emprego?
Eu participei de uma cerimônia em Brasília em que o ministro das Cidades assinou a retomada de 4 mil unidades de obras que estavam paradas. Isso é muito emblemático no seguinte sentido: existem 60 mil unidades paralisadas, grande parte fruto da época em que começou o atraso no pagamento. Então, muitas empresas não aguentaram e ficaram pelo meio do caminho, tendo que abandonar suas obras. Agora, quando se faz a retomada, se dá resposta imediata. E essa retomada em nível mais acelerado vai depender de como vai ocorrer o impeachment e da concretização das medidas que o governo precisa aprovar no Congresso.

Na sua opinião, o governo tem demonstrado interesse em melhorar o ambiente econômico?
Não é nenhuma questão de querer, é necessidade. E aí não é só do governo, mas de toda a sociedade brasileira. Ninguém mais aguenta essa insegurança vivida hoje no país.

Esse evento realizado em São Luís tratou de que temas e que propostas foram geradas?
Na estrutura da CBIC, nós temos a Comissão da Indústria Imobiliária, que se reuniu em São Luís para tratar de assuntos gerais, do Brasil, e locais, sob a ótica do Sinduscon do Maranhão. Nessa reunião, temos representantes da indústria imobiliária de todo o país, e cada um traz suas dificuldades, apreensões, mas também contribuições para se buscar o melhor caminho para o setor.

Que mensagem o senhor deixaria para o empresário da construção civil?
Estamos passando por um momento difícil, mas nessas situações de dificuldades surgem as oportunidades. Entendemos que as pessoas têm que ser conservadoras, têm que ter cuidado com seus negócios, mas também não ficar a imaginar que o Brasil é o que estamos vivendo hoje. Isso vai passar. Com certeza teremos um Brasil melhor no futuro. Agora, se é em seis meses, um ano, dois anos, ninguém tem uma bola de cristal. Mas que vai passar, vai, e teremos que estar preparados para esse novo momento, com equipe, gestão e condição tecnológica adequadas.

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