Homenagem

Dor transformada em solidariedade

Após perder o filho, James Fernandes, morto em uma ação policial, Thaty Fernandes superou a dor e criou um instituto para manter viva as boas ações e lembranças dele

Adriano Martins Costa / Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h48
Thaty  Fernandes ao lado de banner do filho, homenageado com um instituto
Thaty Fernandes ao lado de banner do filho, homenageado com um instituto (Thaty Fernandes)

Em 17 de setembro de 2015, a Polícia Militar do Maranhão perdia o soldado James de Oliveira Fernandes, o “Pantera”, que era lotado no 6º Batalhão, em São Luís. Ele morreu em uma ação na cidade de Arari, durante uma troca de tiros com bandidos. Dois dias depois, no dia 19, foi enterrado sob forte comoção e homenagens. Nessa mesma data, sua mãe, Thaty Fernandes, decidiu que não deixaria que a memória e o trabalho do filho morressem com ele.

Isso porque, além de policial militar, Fernandes atuava na área social, auxiliando amigos de farda que precisassem de qualquer tipo de ajuda. “Meu filho entrou na polícia em 2007, a partir daí ele fazia alguns pequenos trabalhos, ajudando os amigos policiais que estavam com problemas. Ele fazia muitas coisas, das quais eu não tinha conhecimento. E depois da morte dele fiquei sabendo lá mesmo no velório o quanto ele ia fazer falta para esses amigos”, afirmou Thaty

Ali, ainda ao lado do túmulo, nascia o Instituto Soldado Fernandes – Pantera, com o intuito de ser um local de apoio para os militares e seus familiares. Hoje, mesmo ainda bastante novo, o Instituto já faz parte da vida de vários policiais e suas famílias, atuando em várias frentes: viabilizando consultas, doação de sangue, apoio para esposas e até mesmo acolhimento para militares do interior em atendimento médico na capital. “Meu filho sempre falava: ‘um dia eu vou montar algo que vai beneficiar os policiais, meus amigos, meus irmãos de farda’. Foi por isso que tive a ideia e vou tentar fazer o que ele queria”, destaca.

Lado humano

Além do filho, grande parte da família de Thaty Fernandes é composta por policiais. Isso faz com que ela se sinta em casa ao lidar com quem precisa de sua ajuda. Tanto que ela trata todos os que lhe procuram como se fossem filhos. Além disso, ela compreende o lado humano dos policiais como se fosse uma deles, e sabe onde pode colocar sua mão. “Eles sabem que estou ali, que sou o socorro que eles estão precisando, porque eles não tinham uma voz. Porque paramuitas pessoas o policial não tem coração, não é humano, ele não chora, não sente dor, mas não é assim. Eles são humanos, choram, sentem dor, sofrem, se sentem sem apoio e vão buscar aonde?”, destaca.

Ela conta, por exemplo, que existem esposas de policiais que passam por diversos problemas em casa, às vezes são viúvas, noutras estão com problemas psicológicos devido ao estresse da profissão do marido, ou ainda sofrem com o alcoolismo do cônjuge. “Às vezes a esposa de um policial quer pedir socorro para ele e não tem pra onde ir. Agora tem o Instituto Soldado Fernandes. Eu vou abraçar a causa da pessoa e vou em busca de ajuda. Mesmo que eu não consiga, vou tentar”, afirma.

Família

Desde a perda do filho,Tathy Fernandes se agarrou a Deus para seguir em frente e quer levar isso para outras mães que passam por situações semelhantes. Apesar de também ter que lidar com isso dentro de casa. Sua filha de 16 anos passa por um processo depressivo desde que perdeu o irmão. A nora também.E ainda tem a neta de apenas 2 anos de idade. “Eu não tive tempo de chorar, de sofrer. Agradeço muito a Deus porque ele está comigo. Busquei essa força no Senhor e agora estou aqui. Mas nem toda mãe tem essa fortaleza que eu tenho”, ressaltou.

“Quando o vi no caixão fiquei pensando: eu não vou deixar morrer o que ele fazia e também não queria que ele fosse esquecido como militar, porque militar morre todo dia, toda hora e cai no esquecimento”

Tathy Fernandes

Fundadora do Instituto Soldado Fernandes

RELEMBRE

O soldado James de Oliveira Fernandes, o “Pantera”, como era conhecido, de 32 anos, era lotado no 6º Batalhão da Polícia Militar (PM), mas estava no Serviço de Inteligência dessa corporação militar quando morreu durante uma intensa troca de tiros na madrugada de 17 de setembro de 2015, no povoado Capoeira Grande, em Arari. Na ação também morreram os criminosos Antônio Miguel Gomes Moreira, Samuel Campos Marques e Francisco Barbosa do Nascimento, o Piauí. Ele foi sepultado no cemitério Jardim da Paz, na Estrada de Ribamar, sob forte clima de comoção. O caixão foi conduzido em uma viatura do Corpo de Bombeiros Militar. Além da mãe, ele deixou uma esposa e uma filha que tinha apenas um ano na época.

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