Corrupção

Vereadora é flagrada recebendo propina em Santo Amaro

Em vídeo entregue ao Ministério Público, a presidente da Câmara, Maria Divina, aparece recebendo maços de dinheiro que teriam sido pagos pela aprovação do Plano Municipal de Educação

Gilberto Léda

Atualizada em 11/10/2022 às 12h52
Prefeita de Santo Amaro  formalizou denúncia ao Ministério Público
Prefeita de Santo Amaro formalizou denúncia ao Ministério Público (Maria Divina recebe propina)

A prefeita de Santo Amaro do Maranhão, Luziane Lisboa (PP), formalizou na semana passada denúncia ao Ministério Público contra cinco vereadores da oposição na cidade. Ela os acusa de cobrar propina para garantir a aprovação de matérias de interesse do Executivo – como o Legislativo local é composto por apenas nove membros, o grupo denunciado tinha a maioria em todas as votações.

No processo, Luziane anexou um vídeo, gravado em junho deste ano, no qual aparece a presidente da Câmara, vereadora Maria Divina (PSDC), recebendo maços de dinheiro das mãos da secretária de Educação, Aurinete Freitas.

O vídeo foi gravado pela própria auxiliar da prefeita, na sede da Câmara Municipal, numa sala contígua ao plenário, logo após a sessão em que fora aprovado o Plano Municipal de Educação. Mas só vazou agora, dois dias depois de a Câmara aprovar o afastamento, por 180 dias, da chefe do Executivo.

Pela conferência das notas, percebe-se que foram R$ 500 a cada vereador que participou do esquema, mas Divina dá a entender que faltava dinheiro. “Os outros [vereadores], a prefeita acerta, tá bom?”, diz ela.

A secretária, então, pergunta a quem se destina a primeira remessa.

“É só do Geni, Zeca Dentista, Dodó e meu”, responde ela, que arremata: “O meu é dobrado!”. Geni é Geni Silva (PTB); Zeca Dentista é José Maria Silva Filho (PDT); e Dodó é Claudiomar Azevedo Carneiro (PT). Apesar de não haver sido citado no vídeo da propina, o vereador Zeca da Travosa (PDT) também foi denunciado ao MP.

Chega uma hora que você não aguenta mais”Luziane Lisboa, prefeita de Santo Amaro
Não sabe - A presidente da Câmara foi procurada pela reportagem de O Estado, por telefone. Antes de encerrar a conversa fingindo que a ligação estava ruim, ela disse que não tinha conhecimento da denúncia porque estava na zona rural do município.

“Eu não sei lhe falar nada a respeito disso. Inclusive eu estou até aqui no interior, não sei nem lhe falar do que está se tratando. Eu não estou nem sabendo. Eu estou até aqui na zona rural, onde não tem nada, eu não estou nem sabendo”, afirmou.

Divina acrescentou, contudo, que não sabia se havia recebido dinheiro da Prefeitura para aprovar algum projeto no Legislativo.

“Não. Que eu saiba, não… Como é? Eu não sei. Que eu saiba, não. Eu não sei nem o que tá acontecendo”, declarou, gaguejando ao telefone.

Prefeita diz que vereadores faziam chantagem

Em entrevista a O Estado, a prefeita de Santo Amaro, Luziane Lisboa (PP), disse que resolveu denunciar os vereadores porque eles voltaram a exigir propina para a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2016 – que já deveria estar aprovada desde o primeiro semestre deste ano – e da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2016.

“Eles começaram a mandar recados pelos meus secretários e eu percebi que eles queriam usar o mesmo artifício agora no fim do ano, que só aprovariam mediante pagamento. Mas eu disse: ‘dessa vez eu não vou ceder’. Isso é extorsão. Eu não vou mais aceitar esse tipo de coisa”, afirmou.

Segundo a prefeita – que não explicou por que não denunciou o caso logo na primeira vez -, foi por não haver concordado em pagar novamente para que as matérias passassem em plenário que eles decidiram pelo seu afastamento, em sessão realizada na segunda-feira, 28.

Dos 9 vereadores, cinco votaram a favor: Dodó Carneiro (PT), Geni Silva (PTB), Maria Divina (PSDC), Zeca Dentista (PDT) e Zeca da Travosa (PDT). São eles os que figuram como denunciados no processo protocolado no MP.

“Como eu não cedi, eles abriram esse processo pelo meu afastamento”, relatou Luziane. Ela admite que o vazamento do vídeo é uma espécie de retaliação aos opositores. “Não deixa de ser, porque o orçamento, agora, foi a gota d’água”, comentou.

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