Crônica

A coluna Prestes – o cap. Ítalo landucci

Sálvio Dino

Atualizada em 11/10/2022 às 12h55

O grande problema da biografia é e será sempre a técnica da abordagem. Como se entrar na vida de determinadas pessoas. Uma vida obscura poderá produzir uma bela obra histórica, mas dificilmente produzirá uma bela biografia. Muitas vezes o autor obscuro em seu trabalho usa aquele conhecido processo de exumar a história em bloco e trazer em seu bojo a figura do biografado. Em que consiste essa abordagem? Na reconstituição de épocas aparentemente mortas, de vivificação integral da vida, que leva em conta não somente personalidades marcantes, mas também figurantes que gravitam em seu redor. Sendo estes, alvo de um aprofundamento enriquecedor que vai adensar as páginas da narrativa biográfica.

Com efeito, o autor obscuro, transforma a vida pulsante de alguém iluminado numa RODA VIVA em permanente rotação que vai evoluindo num todo, trazendo agregado a si, sua época, seus costumes e seu mundo geográfico e cultural, personalidades brilhantes e tantos outros homens ilustres tocados pela pena ou pelas mãos do autor aparentemente obscuro. Por exemplo: será que o grande Apóstolo Paulo seria o que é, seria eternamente badalado (no bom sentido da palavra), se não fora a altamente construtiva parceria ou colaboração efetiva de seu amigo fiel-parceiro, competente e ilustrado chamado, Themoteo?. O manto da obscuridade encobriu toda a boa obra do parceiro número um da viga mestra do cristianismo.

Sou daqueles que entendem: a COLUNA PRESTES contada e recontada jamais deixará de ser peça importante no contexto da História. Faz, sim senhor, parte da nossa História. Há livros, hoje, clássicos: A COLUNA PRESTES, MARCHAS E COMBATES, de Lourencio Moureira Lima, testemunha ocular da História que fez o diário e viveu tudo do primeiro ao último dia. AS NOITES DAS GRANDES FOGUEIRAS, de Domingos Meirelles. A COLUNA PRESTES, REVOLUÇÃO NO BRASIL, de Neill Macaulay, A GUISA DE DEPOIMENTO, de Juarez Távora, O CAVALEIRO DA ESPERANÇA, de Jorge Amado. A COLUNA PERESTES, de Nelson Werneck Sodré, A COLUNA PRESTES – REBELDES ERRANTES, de José Augusto, A COLUNA PRESTES, de Anita Leocadia, e tantos outros, e outros tantos.

Pois bem. Em todas essas obras de alta valia no campo do histórico, no movimento tenentista, o que nos chamou deveras atenção? É que nos fatos colocados naqueles livros, via de regra, não se sabe suas fontes. Donde vieram, como vieram. Não há referências, com riqueza de detalhes sobre tais fontes. Obvio: vieram de arquivos oficiais e ou particulares.

Pois bem. Em todas essas obras de alta valia no campo do histórico, no movimento tenentista, o que nos chamou deveras atenção? É que nos fatos colocados naqueles livros, via de regra, não se sabe suas fontes.Sálvio Dino

detalhes sobre tais fontes. Obvio: vieram de arquivos oficiais e ou particulares.

Ora, como falamos em várias passagens deste nosso trabalho, comemorativo dos 90 anos da passagem da Coluna Prestes pelo sul maranhense, a prisão do Major Paulo Kruger, ainda é uma incógnita, ainda é um grande ponto de interrogação, para nosoutros, pesquisadores tupiniquins. Por quê? Porque nunca nos conformamos com a afirmativa: o Major Kruger foi preso em Grajaú pelas forças legalistas, sob a responsabilidade do Gov. Urbano Santos. Tudo isso não passa (de pura balela). De tanto pesquisar, acabei “descobrindo a pólvora”.

Como assim? Descobri a existência de uma figura obscura, estrela de segunda grandeza da Coluna Prestes. Quem mesmo? Ítalo Landucci. Quem? Um capitão das brigadas gaúchas, desde o começo das marchas e combates dos tenentes revolucionários. Ele, na maior parte da caminhada, Brasil adentro, aparece, embora obscuradamente como ajudante da ordem do Comandante Chefe, Carlos Prestes. Jamais como estrela de primeira grandeza. Esse militar, de origem italiana, “soube escolher dentre o grande número de fatos ocorridos, aqueles que trouxessem mais ao vivo para o leitor a impressão do que foi e do que realizou a Coluna Prestes. Acresce a documentação fotográfica, inédita e única, conservada na coleção particular de Ítalo Landucci e posta ao alcance do público”. (Editora Brasiliense LTDA).

Pois bem. Dando asas ao seu pensamento, Landucci escreveu o livro: CENAS E EPISÓDIOS DA REVOLUÇÃO DE 1924 E DA CULUNA PRESTES, onde se encontram passagens marcantes ao lado do comandante Prestes, como essas:

“O Maranhão recebeu a Coluna de braços abertos. O prestigio de Prestes e Siqueira Campos, os nomes mais populares dos chefes revolucionários repercutira de modo inesperado na corrente oposicionistas que, em vasta campanha libertadora, propagava os sentimentos de revoltas entre o povo, mas a prisão do Cel. Paulo Kruger, o nosso elemento coordenador, quando em viagem para São Luís, privou-nos dos benefícios daquele clima favorável.

(...) Manuel Bernardino. Este chefe político da zona da mata, Cel. da Guarda Nacional, sincero idealista de inteligência vivaz, havia levantado cerca de 300 sertanejos, com os quais pretendia juntar-se à Coluna, carecia de experiência revolucionária e Prestes, temendo pela sua sorte, determinou-me ir ao seu encontro”.

(...) A chuva torrencial, caída durante a noite, engrossara as águas dos rios transformando os caminhos em lamaçais.

- Hoje é meu aniversário (leia-se 03 de Janeiro de 1926, completava 28 anos) disse Prestes ao seu ajudante. Tenho no alforje umas bananas, vamos comê-las.

Em todas as nossas pesquisas, insistimos na curiosidade/indagação: quem, se não exímio documentarista poderia catalogar a grande quantidade de fotos, tiradas com grande habilidade numa difícil época, embrenhado nos sertões de dentro (1925 – 1926)? E, quem seria esse autêntico profissional da arte fotográfica infiltrado nas legiões tenentistas e que, sem sombra de dúvidas prestou ao lado de Prestes, valiosos subsídios para a história de um dos acontecimentos mais importantes do passado brasileiro?

Ora, ora, quem? O militar dos pampas (ajudante de ordem) que com sua máquina fotográfica foi ajeitando, harmonizando, nela rostos otimistas, faces amarguradas, corpos alquebrados, espíritos atormentados e aflitos, até conseguir finalmente nos entregar fotos, significativas, heroicas eternamente marcantes, que, com certeza, hoje, irão levar às novas gerações, as figuras místicas dos históricos tenentes que ajudaram nos fazer com o povo.

Valeu meu capitão Landucci!

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