"Só ficou no muro tristeza e tinta fresca"

Empresa contratada pela Prefeitura apaga frases de amor feitas por artista maranhense

João Almeida fez tipografias em tapumes que foram colocados em praça de São Luís, mas que foram apagadas em menos de 24 horas

Thamirys D'Eça / OESTADOMA.COM

Atualizada em 11/10/2022 às 12h56
Intervenção artística foi apagada em menos de 24 horas
Intervenção artística foi apagada em menos de 24 horas

"Só ficou no muro tristeza e tinta fresca", cantou Marisa Monte quando algumas das artes de José Datrino, mais conhecido como Profeta Gentileza, foram apagadas de avenidas do Rio de Janeiro (RJ). A cantora carioca provavelmente cantaria o verso se presenciasse episódio que aconteceu esta semana com o artista visual maranhense João Almeida. Ele escreveu frases (tipografias) sobre o amor em tapumes que foram colocados na Praça Valdelino Cécio (Centro Histórico), que está sendo reformada, mas que foram apagadas em menos de 24 horas por empresa contratada pela Prefeitura de São Luís.

Na noite de terça-feira (21), João Almeida passou cerca de 3 horas para pintar em tapumes colocados em volta da praça, na Rua do Giz, frases como "ou é amor ou é doença grave", "te amo, te adoro, te espero na Deodoro, "quem ama transborda". No dia seguinte, porém, funcionários da empresa contratada pela Prefeitura para a reforma da praça pintaram de preto a arte feita pelo maranhense.

"Intervenção urbana tem dessas coisas, mas fiquei chateado com a rapidez com que tiraram uma coisa que não estava causando mal para ninguém, pois são frases sobre amor. Essa mesma agilidade para fazer serviços públicos que São Luís realmente precisa, não existe ", lamentou João Almeida, em entrevista ao OESTADOMA.COM.

Por causa da rapidez, nem mesmo o próprio artista teve tempo de fotografar as tipografias feitas no tapume. "Eu não consegui nem registrar direito. Um amigo fez um vídeo de 15 segundos do processo, mas foi só. Uma amiga que estava por lá olhou e, no dia seguinte, os viu pintando e me mandou a foto. Foi assim que fiquei sabendo que tinham tirado", disse João Almeida.

João Almeida já colocou suas artes em vários pontos de São Luís
João Almeida já colocou suas artes em vários pontos de São Luís

Trabalho - O artista, graduado em Artes pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), tem um projeto de intervenção urbana chamado Para além de si, contemplado pelo Sesc-MA, por meio da Aldeia Sesc Guajajara de Artes, e que resultou em tipografias feitas nas barracas do Anel Viário, na região da Fonte do Bispo, em São Luís. Ele também tem um ateliê, o João Pé de Feijão, que é como assina as suas obras.

O trabalho, porém, vem de anos anteriores. "Tinha começado o projeto há 2 anos, fazendo tipografias na rua, que é escrevendo com essa letra mais diferente, frases sobre o amor", explicou. O mesmo projeto já foi apresentado em um shopping da capital maranhense e na Bienal da União Nacional do Estudantes (Une), no Rio de Janeiro. O artista também mostrará sua arte em São Paulo (SP).

"São Luís tem poucas galerias de arte, portanto, minha intenção nada mais é do que levar a arte para estes locais que geralmente estão sujos e maltratados, então, levo essas frases para lá. Como elas falam de amor, é um momento de pensamento das pessoas que passam nas ruas geralmente apressadas, mas que param para ler, admirar. Muitas me elogiam e, principalmente, agradecem por isso. As frases ajudam nessa motivação", contou João.

OESTADOMA.COM foi até o local na tarde desta quinta-feira e conversou com um operário, que não se identificou, mas afirmou que ele mesmo foi quem pintou os tapumes por cima das tipografias e que foi uma ordem da empresa contratada para fazer a reforma da Praça Valdelino Cécio. Ele não quis revelar o nome da empresa.

A Prefeitura de São Luís foi procurada por OESTADOMA.COM, que, em nota, afirmou que "os tapumes citados na reportagem são de propriedade da empresa executora da obra, que obedece a padrões e adota medidas protocolares em relação à estrutura e material utilizado nos serviços". Disse ainda que a intervenção foi realizada sem prévia autorização, e, por isso, "estão sendo buscadas soluções a partir de diálogo com a empresa e a classe artística".

Tipografias de João Almeida

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