Situação caótica

Servidores do Socorrão II protestam contra condições precárias do hospital

Manifestação foi realizada na manhã de ontem e reclamações vão desde a acomodação de pacientes de forma inadequada à falta de materiais para os mais diversos procedimentos; via de acesso à unidade de saúde também está em péssima situação

Atualizada em 11/10/2022 às 12h58

[e-s001]Buscar atendimento em um dos principais hospitais da Região Metropolitana de São Luís e receber uma atenção precária ou sair de casa para tratar vidas, mas não dispor de materiais adequados, são situações que fazem parte do cotidiano de pacientes e servidores do Socorrão II, o Hospital de Urgência e Emergência Dr. Clementino Moura, localizado na área da Cidade Operária. Foi contra situações como essas e muitas outras, que já são antigas, que servidores fizeram uma manifestação na manhã de ontem.

Munidos de apitos e faixas, técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos do Socorrão II, que estavam de folga ou deixaram os postos de trabalho pela manhã, deram as mãos para reivindicar melhores condições de trabalho e maior valorização dos profissionais que lá atuam. Eles chegaram a interditar um trecho da Avenida Tancredo Neves, principal via de acesso ao hospital, mas logo retornaram ao pátio do hospital, onde chamavam a atenção da população para os problemas da unidade de saúde.

Como resultado do protesto, os servidores conseguiram agendar uma reunião com a secretária municipal de Saúde, Helena Duailibe, para a tarde de ontem, quando apresentariam todos os problemas e negociariam soluções. Na reunião, ficou acertado que uma comissão com representantes do Município e do corpo administrativo do Socorrão II será formada, com o objetivo de propor um plano de metas para a execução dos serviços propostos e que motivaram a reivindicação. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (Semus), não há, por enquanto, um prazo para a execução dos serviços propostos pelos manifestantes e que motivaram o protesto.

Precariedade - O foco principal das reivindicações foi com relação ao estado em que o hospital está funcionando, atualmente. Nesse quesito, são muitos os problemas apontados. De acordo com os servidores, os problemas começam na estrutura física da unidade de saúde. Espaços destinados ao preparo de medicamentos em condições sanitárias impróprias, piso quebrado e goteiras no centro cirúrgico são algumas das situações que eles precisam enfrentar.

[e-s001]A capacidade de atendimento também é outra questão. Enfermarias estão superlotadas e, para comportar a grande quantidade de pessoas que precisam de atendimento, alguns pacientes estão sendo acomodados em locais inadequados, como ao lado de depósitos de material de limpeza. Macas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) também estariam ficando retidas no hospital por um longo período até o paciente transportado ser encaminhado para um leito.

De acordo com a técnica de enfermagem Maria de Jesus Barbosa, problemas mais graves estão relacionados à falta de materiais para os mais diversos procedimentos. "Faltam seringas e gaze e atadura só vem de um tamanho, que não serve para todos os casos. Precisamos cortar os pedaços com o bisturi. Isso é um risco para nós, pois podemos nos cortar e também de contaminação para o paciente", ressaltou.

A técnica de enfermagem afirmou ainda que a alimentação servida aos pacientes é precária. Todos comem o mesmo tipo de alimento, apesar de necessitarem de dietas específicas. Além disso, equipamentos importantes para diagnóstico estão sem possibilidade de uso. A ressonância não está funcionando há oito meses e o aparelho de raio-x ficou um mês sem funcionar.

Valorização - Além dos problemas infraestruturais do Socorrão II, os servidores reivindicam soluções para problemas que lhes atingem diretamente. Um deles, de acordo com o psicólogo Marlon Costa, é a segurança feita no local, que atende pacientes privados de liberdade.

Alguns presos não ficam algemados dentro do hospital e há apenas um agente penitenciário no local para atender todos os pacientes nessa situação. "Temos problema de segurança, porque atendemos também a população carcerária. Somos constantemente ameaçados e trabalhamos com medo de resgates de presos, que estão acontecendo frequentemente", afirmou.

Além disso, os servidores reivindicam melhores salários. Ainda de acordo com o psicólogo, alguns trabalhadores estão com salários congelados há 15 anos e os servidores efetivos estão lutando por uma gratificação que foi suspensa pela Prefeitura desde 2008. "Nós acreditamos que é impossível garantir o direito à saúde, que é o direito a vida, negando ao trabalhador os seus direitos. Estamos exigindo nossos direitos, porque isso também tem um impacto na qualidade de atendimento. Precisamos de uma política de valorização do cuidador, para que ele também possa oferecer um atendimento de qualidade", destacou Marlon Costa.

Faltam seringas e gaze e atadura só vem de um tamanho, que não serve para todos os casos. Precisamos cortar com o bisturi os pedaços. Isso é um risco"Maria de Jesus Barbosa, técnica de enfermagem
Situação de vias de acesso é precária

A manifestação dos servidores do Socorrão II também teve por objetivo reivindicar reformas nas vias que dão acesso ao hospital. A Avenida Tancredo Neves, principal via de acesso, foi interditada por moradores e comerciantes da região há cerca de duas semanas.

Somente com o anúncio da manifestação de ontem, no hospital, a Prefeitura de São Luís tomou providências. Máquinas foram destacadas para retirar os bloqueios a fim de iniciar as obras. Mas até a manhã de ontem não havia trabalhadores no local. Só os buracos permaneciam, prejudicando principalmente o transporte de pacientes até o hospital.

De acordo com alguns socorristas do Samu, é preciso evitar essa avenida por causa de tantos buracos e fazer desvios para chegar ao Socorrão II. Segundo Lindomar Gomes da Silva, presidente da Associação dos Servidores do Samu de São Luís, transportar um paciente em uma via como a Avenida Tancredo Neves pode agravar seu quadro clínico. "Transportar um paciente politraumatizado numa situação normal já é complicado. Imagine em uma avenida nessas condições. Outro exemplo é um paciente com aneurisma, que não pode ter o mínimo movimento. Passar por uma via assim pode agravar a enfermidade", ressaltou.

Manifestação no Socorrão II

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