Pesquisas

Confira por que as orientações sobre alimentação mudam tanto

Pesquisas nem sempre são confiáveis, pois sempre mudam de conclusões sobre determinados alimentos, mas nutricionistas dizem que o mais importante é manter uma dieta equilibrada; problema maior é obter provas científicas acerca do tema

Atualizada em 11/10/2022 às 12h59
Ovos, condenados por causa do colesterol, têm nova recomendação
Ovos, condenados por causa do colesterol, têm nova recomendação (Ovo )

SÃO PAULO - Por que os conselhos sobre alimentação mudam tanto? Se comer ovos, não coma carne magra. Mas não era o contrário?

Quando recentemente o Conselho de Orientação de Dieta dos Estados Unidos (Dietary Guidelines Advisory Committee, DGAC, na sigla em inglês) desistiu da recomendação de restringir o consumo de alimentos ricos em colesterol, como os ovos, ou de reduzir o consumo de gorduras saturadas – para isso aconselhavam comer carne vermelha – ele contradisse uma recomendação tradicional adotada há anos e algo que era tomado como evidência científica.

Tanto que a ideia se tornou uma "crença" arraigada na cabeça dos consumidores e foi tomada como base por toda a indústria para alimentos com baixos teores de gordura e colesterol. Com a mudança da recomendação, os negócios afetados negativamente logo se revoltaram.

"Apesar dos dados que relacionam a carne vermelha processada ao câncer de cólon, também há uma evidência que sustenta o contrário", disse a vice-presidente de assuntos científicos do Instituto de Carne dos Estados Unidos, Betsy Booren, à mídia local.

"Os cientistas erraram antes? Que garantia temos de que, desta vez, estão certos? Qual conselho devemos seguir? Por que parece que eles não conseguem entrar em um acordo?", questionou.

Dificuldades - "Estamos diante de uma investigação contínua", explica à BBC Giuseppe Russolillo, diretor da Conferência Mundial de Nutricionistas e presidente da Fundação Espanhola de Nutricionistas (FEDN).

Em outras palavras, e como define Duane Mellor, professor de nutrição da Universidade de Nottingham, no norte da Inglaterra, conforme se adquire mais conhecimento, a ciência se refina, “e algumas coisas que acreditávamos ser definitivas o deixam de ser”.
"Mas nós, cientistas e nutricionistas, temos de trabalhar melhor em como comunicamos a mudança, para que o público não fique confuso. E não somos muito bons nisso", admite.

No entanto, os especialistas concordam que nem todos os trabalhos que são publicados têm bases sólidas e admitem que muitas vezes eles, por si só, não fornecem fortes evidências. E parte do problema está no quão difícil é conseguir provas científicas aleatórias e controladas quando se trata de alimentação humana.

"Infelizmente, estudos aleatórios controlados são complicados. Fazem parte de um quebra-cabeças que temos que resolver", disse Mellor.

Rusolillo afirma que estes estudos são custosos e não são suficientes. "O que tem força mesmo são as meta-análises de estudos científicos controlados. Ou seja, o estudo de um número significativo de estudos científicos sobre uma pergunta específica", explica.

A nutricionista independente Anna Daniels tem a impressão de que, ao menos no Reino Unido, "as recomendações não mudam de maneira frequente por nada".

"Dá a impressão de que sim, e isso se deve ao fato de a mídia reproduzir certos estudos que surgem com evidências contraditórias, que podem não ser confiáveis o suficiente", diz.

Veja o que já foi dito sobre os ovos:

2010: Fazem mal. Só se deve comer um ou no máximo dois ao dia (recomendações do DGAC).

2011: Fazem bem. "Não aumentam o risco de doenças do coração" (Publicação científica europeia de nutrição médica – European Journal of Medical Nutrition).

2012: Fazem mal. "As gemas são tão prejudiciais ao coração como fumar" (revista Artherosclerosis).

2013: Fazem bem. "Não há relação entre o consumo de um ovo por dia e o aumento do risco de problemas cardiovasculares" (Publicação científica britânica - British Medical Journal).

Três passos para a boa alimentação, conforme disseram os especialistas:

1 - Não se deixar levar apenas pelos jornais. "Se uma notícia diz de repente que certo alimento, a gordura saturada por exemplo, é bom para a saúde, não faça esforços conscientes para incorporá-lo à dieta. A probabilidade maior é que o estudo tenha limitações e que a recomendação não seja tão clara", diz Anna Daniels.

2 - Recorra a especialistas. "Tem de tentar buscar informação junto a profissionais da nutrição – que são muitos -, às organizações… ainda que às vezes seja difícil dar uma resposta definitiva, porque não existem estudos de qualidade indubitável", pontua Giuseppe Russolillo.

3- Prefira o equilíbrio. "Em vez de focar nos alimentos, temos de olhar para os padrões da dieta. As refeições devem ser à base de vegetais, quantidades modestas de carnes, pão e cereais", aconselha Mellor.

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