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De Olho na Economia
É economista com experiência nacional e internacional em análises macroeconômicas e microeconômicas. Possui habilidade em análises setoriais, gestão do capital humano, orçamentos e finanças.
De olho na economia

Avaliação do Grupo Mateus

O Grupo Mateus é considerado o 3º maior varejista do país, com origem no Maranhão.

Wagner Matos - Economista

Atualizada em 01/10/2025 às 14h48
Wilson Mateus.
Wilson Mateus. (Foto: divulgaçõ)

Este artigo aborda o setor varejista, com base na minha experiência no Grupo Pão de Açúcar durante a gestão de Abílio Diniz e do investimento do grupo francês Casino à época. Sempre acompanho as divulgações e teleconferências de resultados trimestrais do setor varejista para observar a influência no valor das ações. Com base nesse monitoramento, vou compartilhar uma avaliação profissional sobre o Grupo Mateus (GMAT3), sigla da ação na bolsa brasileira.

O Grupo Mateus é considerado o 3º maior varejista do país, com origem no Maranhão. Hoje, possui cerca de 271 lojas distribuídas em nove estados do Norte e Nordeste: aproximadamente 138 no Maranhão, 70 no Pará, 11 no Piauí, 14 no Ceará, 13 em Pernambuco, 9 na Bahia, 9 na Paraíba, 4 em Alagoas e 3 em Sergipe. Essas lojas são divididas em bandeiras como Mix Mateus, Mateus Supermercados, Eletro Mateus, Camino Supermercados e Armazém Mateus. Além disso, o grupo conta com 18 centros de distribuição e, totalizando uma rede robusta que continua em expansão, com planos para inaugurar novas unidades até o final de 2025.

A receita líquida do 1º semestre de 2025 atingiu R$ 17,1 bilhões, um crescimento de 13,9% em comparação com 2024. Já o lucro líquido ficou em R$ 668 milhões, apresentando um avanço de aproximadamente 3,9% em relação ao ano anterior, de acordo com análises consolidadas de relatórios trimestrais. Diante desses dados, das informações disponíveis e do cenário econômico atual desafiador, com inflação e juros elevados, podemos avaliar os desafios e o potencial do grupo.

Primeiro, é necessário destacar o processo de profissionalização da gestão. A empresa, que era familiar, foi ágil nessa transição, o que trouxe solidez e base para a expansão. Segundo, temos o crescimento econômico da região. Entretanto, vale destacar que existe um número significativo de pessoas carentes na área onde o grupo atua. Essa população é, em grande parte, assistida por programas sociais, como o Bolsa Família. Os programas sociais federais, estaduais e municipais oferecem recursos financeiros diretamente à população, que, na sua totalidade, são direcionados para produtos alimentícios. Essa demanda acaba impulsionando o Grupo Mateus por meio de suas bandeiras, gerando um faturamento mensal mais garantido e estável. Terceiro, o grupo possui uma forte estrutura logística e um giro de estoque eficiente, o que colabora para um ciclo de caixa mais otimizado e um desempenho operacional sólido. Por último, soube buscar incentivos fiscais que contribuem no processo de investimento e expansão.

Entretanto, há pontos que merecem atenção e devem ser reforçados constantemente. Por exemplo, o que acontece no “chão de loja” (expressão comum no setor). Observei que, nas lojas fora dos grandes centros urbanos, a mão de obra é escassa e menos qualificada, o que consequentemente reflete no atendimento, na reposição de produtos, no controle de estoques, na prevenção de perdas e na higiene da loja. Outro ponto que merece atenção são os fornecedores: o Grupo Mateus precisa valorizar e desenvolver estratégias para o pequeno e médio fornecedor local, próximos dos centros de distribuição ou de lojas de grande fluxo. Um fornecedor bem localizado diminui o custo logístico, reduz o nível de estoque e o custo de capital, além de contribuir para o desenvolvimento econômico da região com geração de emprego e renda. Às vezes, fornecedores são sacrificados para cobrir custos financeiros de equívocos operacionais em bandeiras de lojas; é necessário ter uma estratégia mais bem definida para que todos possam buscar resultados justos e sustentáveis.

Aproveito para sugerir ao Grupo Mateus que avalie a possibilidade de vender medicamentos e combustíveis em suas grandes lojas. Seria uma forma de complementar o mix de produtos, atrair mais consumidores e gerar receita adicional. Na região onde atua, há deficiência no sistema de saúde pública, e a demanda por medicamentos da farmácia popular é alta. A venda de combustíveis também contribuiria para a receita e para a redução das despesas logísticas do grupo, especialmente considerando a importação de diesel e gasolina pelo Porto do Itaqui, no Maranhão, que abastece a região, e a inauguração da Inpasa em Balsas, uma gigante na produção de etanol que pode abrir oportunidades de parcerias locais para quem tem conhecimento neste setor.

Em conclusão, o Grupo Mateus demonstra um potencial sólido de crescimento, ancorado em sua presença regional estratégica, eficiência operacional e adaptação a desafios econômicos, como o impacto positivo dos programas sociais e a profissionalização da gestão. No entanto, para sustentar essa trajetória e superar concorrentes nacionais, é essencial investir continuamente em qualificação de equipes, relações com fornecedores locais e diversificação de ofertas, como as sugeridas. Com as expansões planejadas e uma economia regional em ascensão, o grupo está bem posicionado para consolidar sua liderança no Norte e Nordeste, gerando valor tanto para acionistas quanto para as comunidades atendidas.


 


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