Por que regular as Big Techs é questão de Justiça climática?
O que parece apenas um problema urbano é, na verdade, uma questão social e climática.
A COP30, prevista para ocorrer em Belém no final do ano, deveria ser símbolo de inclusão e diálogo global sobre o clima. No entanto, começa a ganhar manchetes por um motivo alarmante: a disparada dos preços da hospedagem, com anúncios que chegam a ultrapassar R$ 1,3 milhão no período do evento. Um dos fatores por trás desta distorção é a ausência de regulamentação de plataformas como o Airbnb, que têm potencial de comprometer a legitimidade deste encontro histórico devido o acesso restrito.
O Airbnb nasceu vendendo a experiência do “pertencimento em qualquer lugar”. Na prática, seu modelo de negócios transforma moradia e hospedagem em mercadorias de alta volatilidade. O efeito mais evidente é a gentrificação: bairros e cidades passam a ser moldados para o turista, não para o morador. Esse processo expulsa residentes, encarece o custo de vida, pressiona a infraestrutura, desarticula comunidades, descaracteriza bairros, justamente as redes humanas que fortalecem a resiliência frente aos efeitos das mudanças climáticas.
O que parece apenas um problema urbano é, na verdade, uma questão social e climática. Ao excluir comunidades e organizações populares da COP30 por barreiras econômicas, restringimos a diversidade de vozes essenciais para debater sobre justiça climática. O resultado é um esvaziamento dos acordos, onde interesses privados se sobrepõem e se impõem ao bem-estar coletivo.
Regulamentar as Big Techs não é um entrave à inovação. É na verdade uma necessidade e oportunidade de alinhamento entre tecnologia, economia e ética. Experiências internacionais, como as regras de locação de curto prazo em Barcelona ou as restrições impostas em Nova York, mostram que é possível equilibrar turismo, moradia e preservação do tecido social essencial para enfrentamento dos desafios globais impostos pelo cenário de instabilidade no clima.
Na urgência climática, marcos regulatórios não devem ser tratados como detalhes. Eles são instrumentos para garantir que as decisões sobre o futuro do planeta não sejam ditadas pelo poder de mercado, que prioriza a maximização do lucro através do consumismo mesmo que isso represente riscos reais ao planeta. Afinal, justiça climática não se constrói sobre alicerces de exclusão e especulação.
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