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COLUNA
Prof Michael Amorim
Michael Amorim é professor de filosofia, conferencista, podcaster pai e marido.
Prof Michael Amorim

O Verbo se fez carne – uma mensagem de Páscoa

O Cristianismo, mais do que uma doutrina, é a presença de Deus em nosso meio, que se fez carne para nos salvar.

Prof Michael Amorim

Se Jesus é Deus de fato, o Cristianismo é verdadeiro. Sendo assim, Ele supera, substitui e abarca todas as outras religiões, tornando absurdo o fato de alguém, nos dias de hoje e conhecendo a revelação cristã, buscar outros meios para ir até Deus. Ou Jesus é o ÚNICO e VERDADEIRO caminho, ou todas as religiões estão corretas (!) e Jesus era um louco que se dizia Deus. Acredito que qualquer pessoa que esteja buscando uma religião deva começar com a seguinte pergunta: "Jesus é realmente o Deus que se fez carne?"

É, no mínimo, absurdo que toda a mídia e a maioria do establishment científico ignorem por completo a existência do mundo espiritual, um mundo que nos dá provas de sua realidade todos os dias. Vemos isso em fenômenos como os milagres da Igreja e os corpos incorruptos de santos, entre outros sinais inexplicáveis para a ciência. Há um esforço tremendo para limitar o imaginário popular e prendê-lo a uma visão puramente materialista da existência.

Os mesmos jornalistas e cientistas que defendem o ateísmo ficariam maravilhados ao saber que o Deus que abriu o Mar Vermelho e andou sobre as águas ainda age na Sua Igreja. A ação de Deus no mundo físico é inquestionável. Um exemplo moderno de intervenção divina pode ser encontrado no Milagre do Sol, acontecido em Fátima, Portugal, no dia 13 de outubro de 1917, quando cerca de 70 mil pessoas testemunharam o sol dançar no céu durante as aparições da Virgem Maria. Deus continua a se revelar ao mundo, pois toda a realidade está contida Nele e nada existe fora Dele.

Pense bem no que Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, afirmou sobre Jesus Cristo: todas as coisas subsistem por causa de Cristo. Todo o mundo visível e o invisível — ambas as dimensões, a física e a espiritual — existem por causa d'Ele. E ele se apresenta ao mundo através de Sua Igreja. 

Este é o milagre de nossa salvação: o Pai enviou o Filho como Salvador e Redentor, e o Filho enviou a Igreja. A Igreja é, de fato, o prolongamento da presença de Cristo entre nós. Maurice Zundel disse que "A Igreja é o Corpo do Senhor, e o ostensório do Seu coração". Bossuet, por sua vez, afirmou: "A Igreja é Jesus Cristo derramado e comunicado a toda a terra".

De acordo com a Fé Católica, a hóstia, depois de consagrada, não é mais pão, mas o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pelo milagre da transubstanciação, Nosso Senhor se faz presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, sob a aparência de pão. Ao participarmos da celebração da Santa Missa, devemos buscar contrição de espírito, reflexão e silêncio. A missa não é um espetáculo; é um sacrifício. O altar não é um palco, mas um túmulo.

No momento mais importante da liturgia, o Deus feito homem se entrega por nós:
"Tomai, todos, e comei: isto é o meu Corpo que será entregue por vós."
A palavra-chave para a interpretação de Lucas 22,19 não é "memória", como insistem os protestantes, mas sim "FAZEI". Jesus não disse "imaginai isto em memória de mim", nem "simbolizai isto". O que Ele realmente disse foi: "FAZEI isto em memória de mim". O que estava sendo feito naquele momento? O milagre da transubstanciação, onde a essência do pão e do vinho se transforma no Corpo e Sangue de Cristo, como Ele mesmo afirmou no versículo anterior: "Isto É o meu corpo..."

Nesse momento sagrado, devemos nos concentrar na dor, nos temores e no amor incomensurável de Cristo, que, na véspera de Sua paixão, já sabia o que o aguardava. Que esses sentimentos de contrição e devoção preencham nossos corações ao recebermos Seu santo Corpo na Eucaristia.

Por mistério da fé, o crucificado se faz novamente presente em cada Missa. Repare que usei o termo crucificado e não cruz, pois, no momento mais sublime da Santa Liturgia, a cruz não está vazia — é a própria presença de Cristo, vivo entre nós, que se oferece a cada um. Aos Seus pés, devemos imitar a Santíssima Virgem e o discípulo amado, São João, o Apóstolo e Evangelista. Quando estivermos diante do Sacrifício do altar, devemos ter as mesmas atitudes de ambos. Não é hora de aplausos, danças ou conversas vazias, como algumas vezes vemos por aí. Eles estavam em silêncio, imersos no mistério da entrega de Cristo por todos nós.

Na oração do Credo, o símbolo dos apóstolos, toda a Igreja professa que o Verbo se fez carne, não se fez uma doutrina. Dizemos, com a Igreja: Et Verbum caro factum est... O Cristianismo não é a religião de um livro, mas de um Deus que se fez carne, que se fez Presença. É este milagre que sustenta toda a nossa fé. O próprio Deus encarnou-se no seio da Virgem Maria. O Cristianismo não é uma religião abstrata ou gnóstica. Deus não ditou um livro. Ele mesmo veio a nós, como a Palavra viva. Tornando-se material. Uma verdade que C. S. Lewis expôs brilhantemente nos capítulos finais de seu livro Até que Tenhamos Rostos.

Quando entendemos que Cristo não é apenas uma doutrina, mas a própria estrutura do universo, a religião deixa de ser uma simples moralidade que seguimos para "parecer bem" diante dos outros. Ela se torna, de fato, algo essencial à nossa existência, tão material quanto o ar que respiramos ou o sangue que corre em nossas veias.

Deus se fez homem e nasceu de uma mulher. O dogma da Maternidade Divina de Maria está diretamente ligado à encarnação do Verbo. Jesus é plenamente homem e plenamente Deus. Dizer que Maria não é a mãe de Deus é negar a divindade de Cristo, uma heresia que remonta ao nestorianismo. Não basta ver Jesus como um grande líder religioso; devemos reconhecê-Lo como Deus. Como Isabel declarou, inspirada pelo Espírito Santo: "Donde me vem esta honra de vir a mim a Mãe de meu Senhor?" (Lc 1, 43). Maria é a Mãe que nos oferece o verdadeiro alimento que salva: o Pão vivo que desceu do céu.

Como eu dizia, o sistema deste mundo faz tremendo esforço para apagar, no homem, a transcendência. A nova Torre de Babel não visa aproximar o homem de Deus por seus próprios meios, mas apagar nele toda a esperança de redenção e salvação eterna. Eric Vogelin já alertava que a trajetória da desdivinização, que declara a dimensão escatológica da existência como irrelevante, obscurantista e insidiosa, tem se desdobrado em várias versões cada vez mais imanentistas: humanista, reformadora, puritana, iluminista, laica, liberal, progressista, socialista e comunista. A atividade civilizacional, segundo Voegelin, transformou-se em trabalho de autossalvação e de criação do paraíso terrestre. Só há um antídoto para isso e Ele se encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos céus, onde está sentado à direita de Deus pai Todo Poderoso. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim.

A Páscoa nos lembra da vitória de Cristo sobre a morte e da promessa de salvação que Ele nos oferece. O Cristianismo, mais do que uma doutrina, é a presença de Deus em nosso meio, que se fez carne para nos salvar. Ao celebrarmos Sua ressurreição, somos chamados a viver com a certeza de que Ele é o único caminho para a vida eterna.

Como afirmou Chesterton: "O cristianismo morreu várias vezes, mas ressuscitou outras tantas, porque Deus sabe o caminho para escapar do sepulcro." Que essa verdade nos inspire a viver com esperança e firmeza na fé, proclamando com nossa vida a vitória de Cristo.



 

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