EMILY BRONTE, DAS PAIXÕES UIVANTES
...o morro dos ventos uivantes é um aprendizado sobre a paixão.
Três anos atrás o livro O morro dos ventos uivantes, de forma um tanto surpreendente porque é um clássico, permaneceu por vários meses na lista dos mais vendidos no Brasil. (Clássicos da literatura, como se sabe, não permanecem tanto tempo na lista dos best-sellers). Tive a ventura de ler esse romance mais de duas vezes e de ter assistido outro tanto de suas diferentes versões cinematográficas, a última com Juliette Binoche no papel principal.
Se outro clássico famoso, Romeu e Julieta, é um ensinamento sobre o amor O morro dos ventos uivantes é um aprendizado sobre a paixão. Parece a mesma coisa, mas não é. Creio ser essa uma das razões para tanta fascinação que carreia para suas páginas. A primeira vez que o li, na adolescência, fiquei arrebatado de forma inusitada. Certamente, havia em seu enredo e sua narrativa algo de mágico, sombrio e, ao mesmo tempo, sedutor.
Pois foi através desse arrebatamento que cheguei à criadora desse romance, Emily Bronte, quando anos mais tarde fui pesquisar a sua biografia.
Parece que a estou vendo agora, na casa onde morava, ou nas charnecas, ao lado, onde os morros uivavam e era fácil ver fantasmas vindo dos cemitérios que circundavam seu rancho. A mente sonhadora, de moça oprimida por um pai autocrático e severo, que tinha como único divertimento com suas duas irmãs, conceber cenas de teatro que escreviam em caixas de papelão.
A terna Emily, que não se casou e morreu cedo, falecendo antes de completar 30 anos, de tuberculose, ao se recusar a receber cuidados médicos. Que passava seus dias com o olhar fixo na janela, onde batiam os ventos, transportando-se para o único lugar possível fora do lar onde as confinavam, vivificando as cenas com que revestiria o romance que a imortalizaria. Um drama em que as paixões beiravam o paroxismo, resvalavam para o doentio, mas jamais atingiam o ponto da insanidade ou do puramente tenebroso ou fantasmagórico. Humano, demasiadamente humano, como diria o filósofo escritor
Uma moça débil, mas formosa, de beleza melancólica e suave, dotada de um coração que guardava paixões tão intensas que foi capaz de transformá-las em furacões uivantes para deleite de seus eternos leitores.
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