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COLUNA
Sônia Amaral
Sônia Amaral é desembargadora do Tribunal de Justiça do Maranhão.
Sônia Amaral

Vida pequena

No filme “Pequena Grande Vida”, comédia dramática e satírica, com elementos de ficção científica, um casal opta ser miniaturizado, a considerar que estavam vivendo dificuldades financeiras e esse procedimento seria remunerado.

Sônia Amaral

No filme “Pequena Grande Vida”, comédia dramática e satírica, com elementos de ficção científica, um casal opta ser miniaturizado, a considerar que estavam vivendo dificuldades financeiras e esse procedimento seria remunerado. O propósito de tal política seria de resolver problemas como a superpopulação e a crise ambiental, ao tempo em que permitiria aos seres humanos miniaturizados uma vida de luxo e conforto, já que sobrariam recursos.

A premissa era que diminuindo o tamanho dos seres humanos a 12 centímetros, estes passariam a ocupar menos espaço no planeta, porque morariam em casas menores, se alimentariam de frações de alimentos, teriam carros minúsculos que emitiriam pouca poluição, trabalhariam em minis edifícios etc. 

Acontece que, após o marido, Paul Safranek (Matt Damon), fazer a minituarização, a esposa, Audrey (Kisten Wiig), desiste e ele passar a viver sozinho naquele novo mundo, cuja fortuna imaginada não vem e as desigualdades sociais, a exemplo do mundo natural, persistem. Esse cenário, levam-no a questionar o que de fato vale na vida.

Diante de tantas disputas hoje em dia – no trabalho, nas redes sociais, no meio político, e mesmo no seio das famílias – fico a me questionar se será necessária uma tecnologia que nos miniaturize ou que percamos alguém, como foi o caso de Paul que ficou só naquele novo mundo, para que possamos enxergar que a vida e o mundo, com todas as dificuldades e obstáculos, é bela e que as vicissitudes fazem parte do cenário. 

Conheço pessoas que defendem a construção de “um mundo melhor”, e nessas horas recordo do livro  “Contra um mundo melhor: Ensaios do afeto”, escrito por Pondé, conceituado filósofo brasileiro, que promove uma crítica com acurada ironia dos ideais contemporâneos de felicidade, progresso e moralidade; questiona as narrativas que prometem um “mundo melhor” pautado pelo otimismo, pelas ideologias politicamente corretas e pela obsessão pelo bem-estar; e conclui que essas visões normalmente simplificam a complexidade da existência humana e ignoram suas contradições e fraquezas. 

Concordo com Pondé! 

Não vejo como chegar a esse nirvana, de um mundo perfeito, se sempre dependerá de homens imperfeitos. Mas acho recomendável lutarmos por um “mundo possível”, em que tenhamos mais igualdade e, para tanto, pessoas movidas por propósitos e não apenas por interesses.

Isso não quer dizer que me oponho a quem defenda seus interesses. Nunca! Interesses são legítimos e integram o direito natural de defesa. É legítimo querer receber um salário condizente, viver em uma moradia de qualidade e primar por um bom atendimento médico à preservação da saúde, por exemplo. Contudo, se a nossa vida se limitar aos interesses de uma vida boa, parece-me que fica sem propósito. E propósito tem a ver com querer deixar um legado, em servir ao próximo ou a uma ideia meritória sem querer levar vantagem; tem a ver com postura ética nas relações laborais e pessoais. 

Não quero e não ouso usar este espaço para apontar caminhos para quem se preocupa, como eu, em se conduzir por interesses e também por propósitos. Sou, como todo humano, um ser repleto de pecados, equívocos e falhas, motivo pelo qual limito-me a fazer questionamentos para nossa reflexão. 

Será que se lançar no trabalho sem pudor em disputas minúsculas para conquistar poder, fama e dinheiro é suficiente? Será que dedilhar com o fígado nas redes sociais, não aceitando o diálogo com quem pensa diferente de você, ajudará a construir o tal “mundo melhor”? 

Sinceramente, não consigo enxergar como isso poderá permitir que conquistemos sequer o “mundo possível” – porque já descartei o “mundo melhor” –, e quiçá permita que enxerguemos como a vida é bela. 

 

 

     
            
            

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