Soldado desconhecido?
De que adianta a alguém uma homenagem que lhe é prestada após a morte?
Qual o motivo de uma homenagem a um desconhecido se existe tanta gente conhecida que mereceria, se não uma homenagem, pelo menos um pouco mais de consideração?
Estamos falando da homenagem prestada ao soldado desconhecido.
Evidentemente que os políticos, autoridades e chefes de Estado – sempre imbuídos dos mais elevados propósitos de generosidade e gratidão quando se trata de distribuir gentilezas que não oneram seus bolsos – fingem estar exercendo um papel muito digno, supostamente corrigindo uma injustiça ao homenagearem alguém que morreu pela pátria sem a contrapartida do reconhecimento devido.
E é aí que, se pensarmos com isenção e racionalidade - reside uma notória contradição, expondo até onde pode ir a hipocrisia humana. Pois se o soldado é desconhecido, até hoje, como saber qualquer coisa a seu respeito? Será que foi, de fato, um herói? Ou um crápula? Não teria preferido fugir do que receber uma homenagem como essa depois de morto? Quem garante que morreu, de fato, se até hoje é desconhecido? E, depois de morto: perpetrar para o dito cujo uma situação vexatória como essa, de incógnito ao meio de tantos outros presumidos desconhecidos não é muito mais vexatório do que seria a ignorar completamente o seu passado?
Pensemos bem. Para uma Nação que se preze o que deveria haver de desconhecido para ela entre seus cidadãos? Puxa vida, será que nem mesmo sua mãe o conhecia? Nem o dono do boteco onde tomava umas pingas em dia de folga? Nem sua namorada, o agiota para o qual devia? Fica claro que presumir que o cidadão era mesmo desconhecido faz parte do vício que os mandatários do país têm de jamais se interessarem pelos humildes, por preguiça, comodidade ou safadeza.
De que adianta a alguém uma homenagem que lhe é prestada após a morte? Que diferença pode fazer para ele, antes cadáver, agora só ossos, essa suposta homenagem prestada por presidentes, diplomatas, embaixadores, continências e cantorias de soldados vivos? Em que isso engrandece mais sua memória do que o choro de seus filhos Mesmo porque, dificilmente alguém se julgará homenageado – nesta vida ou depois dela – sabendo-se tratado como desconhecido pela nação para a qual deu a vida.
Portanto, se o Estado através de seus mandatários pretende realmente fazer alguma coisa por aqueles que o dignificaram , deveria fazê-lo em vida tratando qualquer cidadão, com respeito e consideração. Que não o obrigue a morrer em vão e depois não o ofenda ignorando sua breve existência e tratando como herói squem nunc pretendeu ser tal coisa em sequer ter se dado ao trabalho de conhece-lo. Que ao menos procure dar à sua família um pouco da recompensa pelo que ele fez pela Pátria.
Essa família que sabem mais do que todo mundo que ele nunca quis nem pretendeu ser herói, mas apenas um homem comum e que merece – não homenagens póstumas que não enchem a barriga de seus filhos mas o direito de ter aquilo que ele – os poderosos têm, em dobro e em abundância sem nunca ter feito metade do que ele fez: educação, moradia, direito à assistência médica e social e a tratamento digno.
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