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COLUNA
Curtas e Grossas
José Ewerton Neto é poeta, escritor e membro da Academia Maranhense de letras.
Curtas e Grossas

Ao mestre com carinho

Não há sensação mais sublime, e isso ele a tinha.

José Ewerton Neto

 
 

O amor de um mestre pela sua escola, alunos, profissão, ambiente, etc , tudo isso está na novela Adeus, Mr.Chips, de James Hilton, que virou best-seller e depois filme de sucesso no século passado.

Devia a mim mesmo a leitura desse livro pelo peso de sua importância relativa em minha formação literária. Quando participei recentemente como entrevistado do Sarau Poético do Convento das Mercês, coordenado pela confreira e poeta Laura Amélia Damous lembrei do episódio que me valeu a porta de entrada no meio literário e a amizade do saudoso e eminente Erasmo Dias quando ainda jovem fui mostrar para sua apreciação um poema intitulado A Chamada. 

Ele, diante do esperançoso rapaz, após a leitura do curto poema exclamou ao final Good By, Mr Chips! com gestos entusiásticos de aprovação repetindo o título da novela que virou filme. 

O poema, breve, pode ser reproduzido aqui facilmente. “Número 1 Presente!, Número 2 Presente1, Número 3, Presente!, Número 4, Presente!...Ao mestre com carinho, 50 presentes cheios de ausência.”

No final do poema, o jovem aspirante a escritor aludia, por sua vez, ao título do filme intitulado Ao mestre com Carinho, com Sidney Poitier, cuja belíssima música de fundo, ficou também famosa com o mesmo nome da fita. 

Mas, e o Good By, (Adeus) Mr Chips?

Demorei a me interessar pelo romance, talvez devido à forte presença do filme visto, mas fiquei eternamente com uma persistente sensação de incompletude até que anos após, com a facilidade trazida pela pesquisa em sebos virtuais, resgatei o exemplar que, em pouco tempo, estava em minhas mãos, com suas páginas amarelecidas e frágeis.

Li de um fôlego e apreendi, melhor ainda, a alusão de Erasmo Dias. Pouquíssimas vezes poderia ser condensada no texto de um livro a complexidade e as sutilezas da trajetória de um professor prestes a se aposentar, e a abandonar a razão de sua existência. Na edição que li, de 1962, a chamada de capa anunciava: “A história irresistível do professor mais querido de todos os tempos que já encantou milhões de leitores em todo o mundo”

De fato, Mr Chips é irresistível e o resumo dessa empatia talvez ecoe na fala do narrador do romance a respeito do mestre quando este, a essas alturas já aposentado, foi convidado a regressar ao batente - como uma homenagem a ele prestada: “Ao voltar para a escola pela primeira vez na vida se sentiu necessário, e muito necessário, a algo que estava muito perto do seu coração. Não há no mundo sensação mais sublime e isso ele a tinha”. 



 

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