Você é feliz?
Seu cérebro fez um recrutamento da imagem de si sobre fatos e eventos que você lembrou...
Seu cérebro fez um recrutamento da imagem de si sobre fatos e eventos que você lembrou... Só agora. Também pesou a intensidade das alegrias ou tristezas dos últimos momentos e, por fim, fez um cálculo pesando que resposta seria mais adequada de me responder (sim, poderia perguntar isso em meio a uma tristeza ou na mesa de um bar rindo de coisas leves da vida e a resposta certamente mudaria). Ou seja, sua resposta não quer dizer nada diante da verdade, ela usa pontos específicos para responder algo muito complexo.
Mas vamos iniciar pela maior confusão que geralmente fazemos: felicidade não é alegria ou vice-versa. Muito menos euforia contínua, aquelas que você vê no Instagram de pessoas amando e viajando intensamente.
O poder midiático sempre se travestiu de cavaleiro da bondade como ditadores de como devemos viver, o que devo possuir e quais os valores dos significados. Determina como ser cuidadoso com a “minoria”, onde passar as férias ou como se vestir. Sempre fomos assim, sapiens carregando “adesivos sociais” como marketing de comportamento ou de existência. Use uma Gucci ou um carro novo, um Rolex ou simplesmente diga, -tenho tdah, e automaticamente seu cérebro se refresca como você é posicionado em relação aos outros.
Há quem defenda animais de rua mais que os mendigos na porta de casa, os que usam sua inclusão em tribos imaginadas para “lutar” por recompensas sem qualquer esforço. Há os que vivem na igreja falando alto em línguas para mostrar suas exclusividades comportamentais e receber “autoridade divina” por isso, os que se movem por likes e até os que escrevem seu destino na terra procurando a felicidade ditada pela novela das 20:00 ou por influencers do Instagram e TikTok.
E não tem nada de errado com isso, ou tem?
A literatura estóica ou a filosofia grega jamais chegou a um consenso do que é a felicidade. Na eudaimonia de marco aurélio ela pode ser alcançada pela virtude moral e da serenidade. Para platão o desejo intenso pelo mundo material é enganoso, ele considera que se deve abandonar as ilusões e voltar-se para sua própria natureza interior. Para epicuro trata-se de equilíbrio entre o mundo espiritual e as dimensões terrenas. Para alan kardec, o pai do espiritismo, tratava-se de purificação completa do espírito. Para o filósofo luiz felipe pondé a falta de significado é uma importante chaga da experiência humana e um das formas de infelicidade. Para o filósofo slavoj žižek a felicidade é uma opinião oscilante e não uma verdade; ele considera uma promessa ilusória capitalista para a satisfação pelo consumo.
Acontece que há algo maior que a nossa existência: o ser humano não tolera o excesso de presivibilidades. Por isso seu desejo material ou físico e terreno jamais serão linha de chegada.
O maior estudioso sobre a felicidade, professor de harvard tal ben-sharar considera o mais próximo de felicidade o bem-estar espiritual: os significados, propósitos e a relação com o criador. São nestes valores que entram a utilidade humana, os rituais familiares e a fé em algo maior que nós.
Há também os que atrelam felicidade unicamente aos bens materiais. Não que não sejam importantes, detesto romantizar a pobreza, mas são geralmente os dinheiristas e não os ricos em comportamento que fazem essa associação de exclusividade entre felicidade e dinheiro.
Mas você já parou para pensar: -e se paulo ou moisés ou cristo viessem neste mundo para serem felizes, tinham eles realizados as suas obras?
Imagine moisés vendo seus irmãos escravizados, açoitados e voltando para seu luxo sem qualquer peso na consciência. Afinal de contas, ele veio para ser feliz! Por que então sair do palácio e da riqueza faraônica para libertar seu povo pelo deserto?
Imagine paulo, o maior autor de livros da bíblia, antes saulo, depois de 3 dias cego pela luz divina e tendo ouvido a voz do senhor respondesse: -jesus, me deixe voltar para a vida de perseguidor e não de perseguido porque vim neste mundo foi para ser feliz.
Agora imagine jesus, o cristo, dizendo ao senhor, criador do universo:
-pai, mesmo que você não queira, tira de mim esse cálice, porque eu quero é ser feliz!
Estamos vivendo a epidemia da vaidade, era dos amantes de si. A interpretação de esforço como sofrimento, a confusão de tristeza como algo unicamente negativo. Então segue-se o irracional crscimento da ditadura dos anestésicos emocionais onde cada ser “precisa” de remédio para a tristeza ou dor específica e você tem direito a levar seu cachorro na poltrona especial no avião porque ele é seu psicólogo com suporte emocional.
Na biologia a finalidade da existência só carrega um sentido: sobreviver e deixar filhos férteis. O que deveria ser para manter-se vivo e com proles em segurança, hoje tem um concorrente ilusório: “ser feliz”.
É exatamente aqui que mexemos na sombra esperando o objeto sair do lugar. A ciência estuda o “modo ideal da vida atual”, descreve os pilares da felicidade: vida social, profissional, esportiva, alimentação, sono e família. Porém, é mais uma receita de bolo a pertencimentos insondáveis. A felicidade é imbuscável pela própria natureza de ser interior.
“quem olha para fora sonha, quem olha para dentro, desperta”. Como descreve o criador da psicologia analítica, carl gustav jung.
O fato é que na biologia a felicidade jamais existiu. Nem as bactérias, os peixinhos, os gatinhos ou chipanzés usaram a “felicidade” como guia de suas sobrevivência. As abelhas vivem em média 45 dias unicamente para alimentar as larvas e depois morrem, claramente com função exclusiva de manter a espécie. Ser feliz é um conceito ilusório usado para desviar o sentido de sua existência.
A verdade é que cabe ao homem outro objetivo bem maior: ser útil e reconhecido e respeitado pelo que faz. A tranquilidade da alma e o bem-estar espiritual são individuais e tudo que você precisa é saber onde você encontra a sua paz. Algumas vezes é necessário morrer para saber pelo que você estava vivendo.
Foi exatamente por isso que jesus disse ao senhor, mesmo no amargo sofrimento, mas servindo-se à sua utilidade:
- “pai, se queres, afasta de mim este cálice. CONTUDO, que seja feita a tua vontade”.
Tudo o que você precisa vem do que é maior que você. Que seja feita vontade de deus aqui na terra como é no céu. Olhe para dentro e encontrará o que tanto busca. Aí quem sabe você responderá, com legitimidade, a pergunta do início do texto: eu sou feliz.
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