Balonismo

Infestação de aranhas na Lagoa da Jansen: quando acaba? Quem são elas? São perigosas? O que comem?

O cenário chama a atenção de moradores, e o fenômeno está sendo investigado por pesquisadores.

Neto Cordeiro/Imirante.com

Atualizada em 24/07/2024 às 06h33

SÃO LUÍS - As condições da Lagoa da Jansen e o índice de poluição favoreceram o desenvolvimento de larvas de quironomídeos, que se proliferam em abundância. Esta grande oferta de alimentos atraiu aranhas que transformaram a paisagem com suas teias. A vegetação foi tomada por aranhas de duas famílias: Tetragnathidae e Araneidae, segundo o professor Macário Rabelo do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Os quironomídeos são insetos verdes, parecidos com mosquitos, mas não picam e não sugam sangue.

“Parece que a espécie mais abundante (Tetragnatha sp.) tem um potencial biótico maior do que o das outras aranhas presentes na área”, explica o professor. “O clima tropical equatorial, com temperatura alta o ano inteiro e alimento disponível em abundância é um bom estímulo para incrementar a atividade reprodutiva”, continua.

Aranhas infestam Lagoa da Jansen e espalham teias na área. (Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com)
Aranhas infestam Lagoa da Jansen e espalham teias na área. (Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com)

Balonismo

“Como na região da Lagoa tem franca ventilação, percebe-se que as teias cobrem mais a vegetação para onde o vento leva fragmentos ou os fios de seda das aranhas. Nesse caso, pode-se dizer que o fenômeno é o mesmo visto em outras áreas do Brasil e do mundo, onde as Tetragnatha ocorrem. Junto com os fios de seda as formas juvenis das aranhas se deslocam para distante da mãe e dos irmãos e assim vão dispersando e ocupando novos locais, aumentando a área cobertas pelas teias. Esse fenômeno é chamado de balonismo. Além de dispersar, os imaturos acabam escapando de possível canibalismo", comenta o professor.

O pesquisador adianta que ainda não há dados sobre o ciclo de vida dessas aranhas. Existem na Lagoa da Jansen milhares de ootecas (bolsas de ovos cobertos por fios de seda) sobre folhas espalhadas por longos trechos. Cada ooteca tem dezenas de ovos. 

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Sabe-se que a ovipostura (processo no qual depositam os ovos) dura semanas até eclodirem as formas juvenis iniciais. Ocorre, em seguida, a troca de pele por semanas até tornarem-se adultas. 

As aranhas representam algum perigo?

As aranhas, apesar de terem veneno, normalmente, só utilizam para paralisar suas presas, que são pequenos insetos. Portanto, elas não representam perigo às pessoas. Diariamente, a Lagoa da Jansen recebe vários ciclistas, pessoas praticando caminhada e também moradores que por ali transitam.

Aranhas não oferecem risco, segundo especialista. (Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com)
Aranhas não oferecem risco, segundo especialista. (Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com)
O especialista destaca, também, que as aranhas se alimentam dos mosquitos. (Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com)
O especialista destaca, também, que as aranhas se alimentam dos mosquitos. (Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com)

As aranhas da família Tetragnathidae têm corpo estreito e longo, as pernas são muito longas também. “Se olhar de perto, na extremidade anterior do corpo pode-se ver dois apêndices fortes (as quelíceras bem desenvolvidas, maiores do que nos indivíduos da outra família). Lembrando que essas estruturas são menores que as pernas”, detalha o professor Macário Rabelo. As do tipo Araneidae são mais robustas, encorpadas e largas. “Por isso, aparentam ser mais curtas”, ressalta.

O fenômeno das aranhas acontece desde 2018. (Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com)
O fenômeno das aranhas acontece desde 2018. (Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com)

Durante o dia, os predadores dessas aranhas são os pássaros. “Vi, na Lagoa, andorinhas e tesourinha investindo sobre as aranhas. Capturam seletivamente sem atravessar a teia. Para os outros pássaros que não têm essa habilidade é mais difícil”, comenta o pesquisador. À noite, as aranhas podem ficar na mira de morcegos. 

Em breve, a própria natureza corrigirá essa explosão de aranhas e haverá o declínio da população delas.

O que diz o governo do Estado

Em nota, Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema) já havia informado que vem realizando o monitoramento da qualidade da água, com análise de parâmetros físico-químicos e bacteriológicos, assim como vistorias técnicas e monitoramento por drones.

Veja a nota na íntegra

A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema) informa que, no âmbito de suas competências de monitoramento e fiscalização, tem executado o Plano de Ação do Parque Ecológico da Lagoa da Jansen, realizando o monitoramento da qualidade da água, com análise de parâmetros físico-químicos e bacteriológicos, assim como vistorias técnicas e monitoramento por drones.

A Sema ainda ressalta que à proliferação de aranhas, as temperaturas mais altas e condições suficientes de umidade e de alimento têm criado um ambiente propício para reprodução de insetos e aracnídeos. Desse modo, é importante alertar a população para evitar o acúmulo de resíduos nas proximidades e água em recipientes e reservatórios, o que evita o aumento de insetos, que pode ocasionar a maior presença das aranhas na região.

As aranhas fixam as teias nas folhas e colocam ovos também. (Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com)
As aranhas fixam as teias nas folhas e colocam ovos também. (Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com)

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