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COLUNA
Entrelinhas
José Linhares Jr é jornalista e editor de política no Imirante.com
VERDADES INCOVENIENTES

Quem não gostaria de matar Hitler?

Quando se trabalha diretamente para pintar uma pessoa como Hitler, está se fomentando indiretamente os que desejem acabar com esse Hitler.

José Linhares Jr

Quem não gostaria de entrar para a história por ter matado Lúcifer, Francisco Franco, Mussolini, Herodes ou Hitler? O termo assassinato, convenhamos, não soa bem. Contudo, basta ser sucedido pelo “mal absoluto” para gozar do perdão total! Assassinar o mal absoluto é uma missão irresistível para qualquer alma heroica vagando por esse mundo tão sedento de likes e plateias. Por isso a cada dia aparecem mais e mais voluntários para a tarefa de assassinar Donald Trump, Jair Bolsonaro, Javier Milei, Georgia Meloni, Bukele, Le Pen...

Desde que a direita começou a ressurgir com força pelo mundo, parece que a esquerda e setores da grande mídia encontraram um novo esporte favorito: a demonização em massa de seus líderes. Não há mais conservadores no mundo e nem direita, não senhores; o que temos são reencarnações de Lúcifer caminhando pela Terra.

A esquerda sempre tão criativa em suas estratégias de contra-ataque! Quem precisa de diálogo ou de debates quando se pode simplesmente transformar cada adversário político em Hitler? 

Cada líder com uma visão à direita do centro é pintado não como um oponente político, mas como um monstro de um filme de terror, um assassino em série, um genocida esperando para eclodir. Tudo agora é extrema direita. 

Uma tática astuta e sorrateira que manipula não apenas notícias, mas a própria linguagem! Observem como o termo "direita" foi banido do léxico jornalístico, como se tivesse sido apagado por um editor invisível com uma grande borracha ideológica. Agora, tudo é "extrema-direita".

Que truque sutil, que manobra engenhosa! Na política, ser etiquetado como "extremo" é ser transformado num leproso, num pária, com quem nenhuma conversa é possível, apenas o exílio ou a erradicação. E assim, sob o pretexto de prevenção, a única voz que se permite é a do silêncio forçado, o único debate permitido é aquele que não acontece.

Esta é a apoteose da democracia segundo os novos censores, onde dialogar é perigoso e a diversidade de pensamento é uma ameaça hitleriana que deve ser contida.

Fascistas! Gritam eles com fervor quase religioso, enquanto acendem suas tochas, empunham suas facas e carregam seus fuzis. É um exorcismo midiático, uma caça às bruxas moderna.

E como nossa sociedade moderna adora fabricar seus próprios monstros para dar aos supostos heróis algo a combater. No vasto panteão de vilões, nenhum nome ressoa com mais fervor demoníaco do que Hitler, a encarnação do mal supremo cuja mera menção evoca o desejo de extinção.

E, vejam só, na falta de um Hitler de verdade, por que não fabricar alguns novos? Afinal, para a imprensa aparelhada e para os políticos que jogam o jogo do poder, demonizar é preciso, nem que para isso precisem torcer a realidade até que ela grite de dor.

O recente ataque contra Donald Trump é, talvez, o resultado mais dramático e violento dessa campanha incessante de "hitlerização" que tem sido meticulosamente orquestrada pelos setores da grande mídia e seus aliados ideológicos. No dia 13 de julho, enquanto Trump discursava na cidade de Butler, Pensilvânia, tornou-se vítima de uma tentativa de assassinato que resultou em tiros que o atingiram de raspão na orelha. O republicano, com sangue escorrendo e ainda em campo de batalha, ergueu o punho e bradou: “Lutem, lutem, lutem”. Neste caos, um inocente perdeu a vida, outros ficaram feridos, e o atirador encontrou seu fim. 

O episódio não é um acidente isolado, mas uma consequência direta da demonização incessante. Quando a retórica inflamada pinta cada adversário conservador como um monstro apocalíptico, não deve surpreender que os mais instáveis entre nós decidam pegar em armas. A retórica se transforma em bala; a palavra, em pólvora.

Quando as balas voam e as facas cortam, como no atentado a Trump ou na facada em Bolsonaro, a tragédia é apenas um reflexo inevitável dessa narrativa construída com tanto zelo. A máxima se prova: no teatro da política, se você repetidamente chama alguém de Hitler, não se surpreenda quando alguém tentar acabar com essa ameaça. 

Vamos imaginar, apenas por um instante, que alguém realmente inventasse uma máquina do tempo. "Vou voltar e matar Hitler", anuncia. Quem, em sã consciência, o deteria? Mas na ausência dessa fantástica máquina, por que não caçar os Hitlers do dia? Por que não fazer no presente o ato que ninguém iria repudiar se tivesse acontecido no passado?

A ironia é que, ao tentar exterminar os supostos Hitlers de hoje, alguns podem estar apenas pavimentando o caminho para os tiranos de amanhã. No final, a pergunta que resta é: estamos lutando contra o mal ou estamos apenas sedentos por ver o sangue de quem ousa pensar diferente? No drama da demonização política, os verdadeiros diabos podem ser aqueles que seguram os pincéis.

Quando a bala voou em direção a Trump, não faltaram aqueles que, secretamente ou abertamente, sentiram um arrepio de justiça poética. E Joe Biden? Dias antes de um franco atirador tentar assassinar Trump, ele deu entrevista afirmando que um alvo deveria ser colocado no republicano. Sua indignação posterior poderia ser palpável, mas quantos não se perguntariam: e se a retórica do alvo tivesse se concretizado em um assassinato? Que desculpas seriam suficientes?

As expressões de mea culpa depois são tão previsíveis quanto um enredo de novela barata. "Não era nossa intenção incitar violência", declamam, enquanto secretamente conferem se o tiro atingiu o alvo.

O fato é que não existirá um novo Napoleão, Átila, Alexandre, Gengis Khan, e nem um infame Hitler. Ainda que suas histórias inglórias pairem sobre nós, o mundo de hoje está vacinado contra esses monstros reais. No entanto, esse mesmo mundo parece ter desenvolvido uma nova doença: a demonização sem critérios de seus adversários políticos. Em um mundo onde se clama por democracia a cada respiração, o verdadeiro ataque contra ela vem na forma dessa demonização irracional. Tratar o adversário como herdeiro de um genocida, sem que jamais tenha levantado sequer um dedo que justifique tal comparação, é um veneno que corrompe o espírito democrático.

Adversário político é para ser enfrentado no debate, não para ser extirpado dele. Seja de direita ou de esquerda.

Desumanizar e demonizar, usando a mentira como ferramenta, não é apenas uma falha ética; é a essência do antidemocrático. Excluir alguém do debate público com acusações infundadas é trancar a porta da democracia, é negar a praça pública onde ideias deveriam livremente confluir e confrontar-se. 

É, em essência, temer que a SUA verdade não seja suficientemente forte, é admitir que talvez, apenas talvez, o outro lado tenha algo válido a dizer. Lembrem-se, meus caros e caríssimas, a democracia floresce na diversidade e no diálogo, não no silêncio imposto pelo medo ou pela mentira. Vamos, então, vacinar nossa sociedade não apenas contra os velhos tiranos, mas contra os novos também — aqueles que brandem acusações como espadas, cortando a carne viva do debate honesto e da verdadeira democracia.

Bolsonaro, Trump... a lista pode ser longa, e o fato é tristemente simples: haverá outros. Não estamos diante de uma profecia, mas de uma dura constatação. Mais cedo ou mais tarde, a vida de um conservador será ceifada em algum canto do mundo, por mãos que acreditam piamente estar exterminando um novo Hitler. Essa é a realidade crua, tingida pela certeza de que a história pode não se repetir como farsa, mas como tragédia.

E após o estrondo do disparo e o eco das facadas, o que resta? As condolências da extrema imprensa e dos políticos de esquerda, que chegam carregadas de uma falsa solenidade. Mas por trás de suas palavras de pesar, esconde-se a verdade: eles já tinham assinado a autorização para esse assassinato com cada artigo, cada discurso, cada insinuação venenosa que transformou o discordante, o diferente, o conservador, em monstro. Ao tratá-los, em vida, como desgraças que deveriam ser extirpadas, esses arautos do progressismo apenas prepararam o terreno para a violência. E enquanto lamentam publicamente, não podem — ou não querem — ver que suas próprias mãos estão sujas, não de tinta, mas de sangue.

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