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Entrelinhas
José Linhares Jr é jornalista e editor de política no Imirante.com
Verdades Inconvenientes

Te faço rir do aquecimento global em um texto

Ou Como ser culpado por algo que já acontecia milhões de anos antes de você estar lá?

José Linhares Jr

Atualizada em 13/06/2024 às 12h30

Ah, e não é que o tema da moda agora é o aquecimento global? Parece que virou o vilão número um da humanidade, o grande pecado capital. Vem chuva, inundação, vem sol, vem seca, vem vendaval, baixa temperatura, alta temperatura e lá está o dedo acusador dos ambientalistas e menestréis do fim do mundo apontando para o pobre do homem: é tudo culpa sua! É o apocalipse batendo à porta, e desta vez, meus caros e caríssimas, parece que é para valer!

A Terra, uma senhora de mais de quatro bilhões de anos, assiste a tudo impassível. Claro, ela já viu esse filme antes, reviravoltas climáticas são velhas conhecidas. Uns e outros andam espalhando por aí que é tudo culpa nossa, fruto desses últimos três séculos em que decidimos brincar de deuses industriais. Vai negar isso? Então sua vaga na Associação dos Hereges da Ciência e Negacionistas está garantida, amigo!

Segundo a lógica moderna, toda mudança climática é ocasionada pelo homem. Como crises climáticas são pré-históricas e antecedem ao ser humano, é claro que o indivíduo, secretamente, as orquestrou. Pouco importa se não estava lá.

Na escola, ainda crianças, aprendemos sobre a divisão da Pangéia com nossos professores de história e geografia. Esse colossal rearranjo continental, que fraturou o supercontinente em pedaços menores, gerou transformações climáticas de proporções épicas. Um evento que poderia ter sido impedido pela intervenção humana, se ao menos tivéssemos estado lá para testemunhar e ser, por consequência, responsabilizados.

É fato consolidado que a Terra sempre precisou da presença humana para inaugurar eras de gelo, supererupções vulcânicas, ou mesmo para lançar vastas nuvens de cinzas que bloquearam o sol. 

Oitenta mil anos atrás, para citar um exemplo entre milhões, a humanidade causou mudanças climáticas mexendo com algo muito sensível, o Toba! Não se ria, minha senhora. Indícios mostram que o Lago Toba, localizado na Indonésia, entrou em erupção e causou uma mudança climática tão devastadora que reduziu a população humana em mais de 50%. Pesquise e seja surpreendida pelos fatos! O Toba entrou em erupção, bagunçou o clima na Terra e, com toda a certeza, foi causada pelo homem.

Os inimigos da ciência podem tentar argumentar contra o fim do mundo motivado pelas mudanças climáticas afirmando que ele já foi marcado outras vezes nas últimas décadas por outras ocasiões. Guerra nuclear nos anos 1960; colapso da energia e economia mundial com o fim das reservas de petróleo em 1970; fim da Camada de Ozônio na década de 1980; chuva ácida em 1990; bug do milênio; gripe aviária; gripe suína; Skynet e ChatGPT... Sempre há uma tragédia para acabar com a vida na Terra na manga que não se concretizam, dizem os céticos e irresponsáveis.

São apenas lembranças incômodas do Apocalipse que não veio. Sim, estávamos errados! Mas, agora estamos certos! Dessa vez, amigo, acaba!

Ah, que época gloriosa para ser um catastrofista! E assim, em um redemoinho de acusações, os chamados "terroristas ambientais" tecem uma narrativa que mais parece história de bicho-papão para assustar criancinha.

Enquanto os defensores do meio ambiente tocam os sinos do juízo final, a geologia terrestre nos sussurra, quase em tom de deboche, que somos apenas convidados atrasados para essa festa que já rola há bilhões de anos.

Ao final, é um conto moderno usado não apenas para explicar o desconhecido, mas para controlar. Uma história que os verdadeiros negacionistas, aqueles que negam a complexidade climática, usam para dormir um pouco mais tranquilos, enquanto o mundo, indiferente aos nossos medos e teorias, continua mudando e mudando.

Há interesses, meus caros e caríssimas. Atrás de toda teoria que traz no bolso uma lista de obrigações, sacrifícios e checklist de determinações, há interesses. Especialmente neste caso. Um caso em que pobres países em desenvolvimento são amarrados no medo da industrialização que pode acarretar aquecimento global, que irá gerar mudança climática e irá acabar com o mundo. Tudo sob o olhar reprovador dos países ricos, que já são industrializados faz tempo. O bom e velho “faça o que eu mando, não faça o que eu faço”.

Claro, devemos cuidar melhor da nossa casa, ninguém aqui está pregando o contrário. Reduzir a poluição é essencial, mas daí a achar que somos os regentes dessa grande sinfonia climática? Por favor, deixemos a megalomania de lado.

É até constrangedor ter que explicar que a estagnação da tecnologia não irá impedir as mudanças climáticas. Mais constrangedor ainda é lembrar que, talvez, a única coisa que nos proteja da extinção caso algum vulcão resolva explodir e cobrir toda a atmosfera com cinzas por algumas décadas, ou alguma explosão solar queime tudo, ou seja lá que desgraça nos acometa, seja a tecnologia que estão querendo fazer estagnar.

Antes de nos coroarmos senhores do clima, melhor seria nos sentarmos humildemente na plateia e aceitar que, no grande teatro da natureza, o show sempre terá um roteiro que nos escapa, com ou sem nossa intervenção. O drama climático da Terra é um espetáculo bilenar, com muitos atos ainda por se desdobrar. E nós? Bem, nós somos apenas espectadores recém-chegados, tentando entender o enredo.

Pode rir, é engraçado mesmo. 

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