Mãe atípica e com TDAH, empreendedora maranhense cria negócio para promover acessibilidade atitudinal em empresas
Ivanilde Pacheco é psicóloga e criou um método para ensinar organizações a promover um ambiente de trabalho inclusivo.
SÃO LUÍS - A maioria das pessoas, pelo menos uma vez na vida, passa por um evento marcante. Aquele que traz consigo uma redescoberta, uma mudança de rota, um novo sentido e, até mesmo, um novo propósito. Mesmo esse evento sendo diferente e com significado único na vida de cada pessoa, o resultado pode ser o mesmo para muitas delas: o início de uma jornada empreendedora.
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O propósito da maranhense e psicóloga Ivonilde Pacheco, por exemplo, se tornou contribuir para uma sociedade onde todos estejam preparados para conviver com pessoas neurodivergentes, que são aquelas que apresentam transtornos como o déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), Autismo, Dislexia, entre outros. E ela cumpre este propósito empreendendo.
Mas, esse desejo não tomou conta da vida de Ivanilde do dia para a noite. Foi após um evento bem marcante da vida dela. Mãe de três filhos, o seu primogênito hoje já possui 20 anos de idade. Mas, a sua segunda gravidez veio com responsabilidades em dobro. Afinal, ela se tornou mãe de um casal de gêmeos.
Os filhos mais novos, porém, receberam um diagnóstico que fez mudar a rota de Ivanilde. A filha, com TDAH, e o filho com um nível de suporte de Autismo. A partir daí, ela repensou e aprendeu muitas coisas. Mas, também se redescobriu. Além de mãe atípica, Ivanilde também recebeu uma notícia, que veio anos depois do diagnóstico dos gêmeos. Assim como a filha, ela também possui TDAH.
Neste contexto, nasceu uma startup liderada por Ivanilde, que usa a gamificação para implantar em organizações a acessibilidade atitudinal, que trabalha nas organizações para que todos os funcionários de uma empresa saibam criar um ambiente que seja acolhedor para as pessoas neurodivergentes, por meio de suas atitudes, evitando falas e ações que sejam capacitistas.
O nosso propósito mesmo é trabalhar a inclusão de neurodivergentes, porque são pessoas que têm necessidades específicas, muito desconhecidas e que são consideradas como estranhas, e às vezes pessoas, no do TDAH, pessoas ‘insuportáveis’, no caso de pessoas autistas, pessoas ‘ignorantes’. Então, aqui essas estranhezas podem ser conhecidas pelas pessoas e o objetivo é conseguir que as organizações tenham acessibilidade atitudinal. Eu acho que isso é uma expressão que precisa ser bem enfatizada, e essa acessibilidade atitudinal não é só da gestão, não é só do setor que convive com a pessoa autista ou com outro neurodivergente, é de todosIvanilde Pacheco, psicóloga e empreendedora
Para ela, empreender significa melhorar um processo que ainda não atua como o esperado dentro das empresas. “As pessoas inserem por lei, mas não incluem. Então a minha startup quer ensinar verdadeiramente um processo que é bem difícil atualmente, que é a inclusão de pessoas no mercado de trabalho, respeitando as suas potencialidades e suas especificidades”, diz.
A tecnologia utilizada na startup de Ivanilde ainda está em processo de validação, mas já tem beneficiado diversas pessoas, como é o caso da professora de inglês Emille de Carvalho, que foi diagnosticada com autismo já na vida adulta, e percebe o impacto que a acessibilidade atitudinal possui não só na vida profissional, mas também pessoal.
“Existem pessoas que se dedicam a vida inteira para desenvolver estudos de como a gente pode promover a inclusão, falando em prol de um terceiro, mas eu sou essa terceira pessoa em questão. Eu tenho uma visão diferente de quem estuda, então eu poder ter acesso aos dois lados, tanto como quem colabora com a inclusão, como alguém que também é beneficiada por ela, é uma visão bem ampla de como eu posso seguir a minha vida e ajudar outras pessoas que estão na mesma situação que eu”, reflete Emille.
Para ela, stautups como a de Ivanilde, podem promover um impacto social gigantesco, por contribuir com o desenvolvimento profissional e na empregabilidade de pessoas com algum tipo de deficiência. “Eu fico muito feliz em saber que esses espaços que eu estou ocupando agora me acolhem muito bem, tem a preocupação de que eu esteja bem acolhida e eu me sinto muito produtiva sempre que eu estou fazendo alguma coisa”, pontua.
Emille atua, dentre as suas funções exercidas, como professora em uma escola de inglês no bairro Cidade Operária, em São Luís, que já funciona há 20 anos. O proprietário da escola, é o empreendedor Elmo Ferreira, que também é um dos parceiros/clientes da startup de Ivanilde.
Hoje, o empreendedor educacional entende a importância de promover a inclusão dentro do seu ambiente de trabalho e entre seus funcionários, alunos e as famílias dos alunos que estudam na escola de idiomas. “Abraçar, dar espaço, não ver diferença, mas entende-la como uma possibilidade de transformação social e intelectual é uma das missões da escola de inglês. Aliás, hoje não é só uma escola, ela é uma agência de transformações sociais, através, inclusive, do autismo”, enfatiza Elmo.
Mulher, mãe, neurodivergente e empreendedora
Ivanilde é uma empreendedora que atua para ajudar a fortalecer outros empreendedores a ter uma empresa que pratique a acessibilidade atitudinal, independente do seu segmento. E ela utiliza, para isso, a tecnologia. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), As mulheres representam 50% da população brasileira e mais de 10 milhões delas já lideram seus próprios negócios no país. O empreendedorismo feminino apresenta um constante crescimento por conta disso.
“São aproximadamente 3.811.892 de CNPJs com mulheres sócias ou proprietárias ativas que foram atendidas pelo Sebrae nos últimos cinco anos”, diz a organização. Para Ivalnilde, a sua característica de hiperatividade é positiva no sentido que impulsionar os seus projetos enquanto empreendedora e suas ideias para beneficiar dezenas de outras pessoas.
A empreendedora ressalta que para a sua ideia se tornar realidade dentro das empresas em que a sua startup atua, é necessário um processo de seis meses, no mínimo. “É uma jornada que tem que durar no mínimo seis meses. Ninguém aprende, ninguém consegue formar toda uma equipe ou pelo menos mudar essa percepção e começar a ter essa acessibilidade atitudinal apenas depois de uma palestra, um minicurso, ou só numa videoaula”.
Realidade acessível
Dentro da Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE) existem diversas empresas que, assim como a de Ivanilde, prestam serviços direcionados a PCD’s, fazendo com que diminua a barreira da inclusão no mercado de trabalho não só a nível local e regional, como também nacional.
As atividades que podem ser exercidas com esta CNAE vão deste o fornecimento de serviços em residências coletivas cujos moradores são deficientes físicos, imunodeprimidos ou convalescentes que não têm condições e/ou não desejam viver de forma independente, até cuidados médicos e psicológicos, serviços de enfermagem e de acompanhantes.
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