Eleições 2024

Paulo Velten critica Musk, defende regulação das redes e diz que Justiça Eleitoral está preparada para julgar deepfakes e IA

Presidente do TJMA reuniu jornalistas para prestar contas de gestão; ele irá compor o TRE-MA.

Gilberto Léda/ipolítica

Atualizada em 19/04/2024 às 17h29
Velten deixa comando do TJMA na próxima semana
Velten deixa comando do TJMA na próxima semana (Ribamar Pinheiro/TJMA)

SÃO LUÍS - O presidente do Tribunal de Justiça do Maranhão (TJMA), desembargador Paulo Velten, defendeu nesta sexta-feira (19) - durante um café da manhã com jornalistas para apresentar resultados da sua gestão, que se encerra na semana que vem, e agradecer a parceira da imprensa nos últimos dois anos - a regulamentação da mídia, fez críticas à recente postura do empresário Elon Musk no embate que tem travado contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e disse acreditar que a Justiça Eleitoral maranhense está preparada para enfrentar, a eleições deste ano, casos envolvendo o uso de deepfakes e o uso irregular de inteligência artificial nas campanhas.

Ao deixar o comando do TJ, o magistrado passará a integrar o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Maranhão, como corregedor. Ele disse que já tem mantido reuniões com o corpo técnico da Corte e acredita na sua capacidade de enfrentar os debates mais recentes envolvendo o uso de meios de comunicação nos pleitos eleitorais.

“Como os demais órgãos do Poder Judiciário, a Justiça Eleitoral também se aprimorou muito. Bom, ontem eu entrei numa reunião aqui com os diretores do TRE, eu estou recebendo as informações, e eu fiquei impressionado com o que eles hoje têm lá em termos de, por exemplo, informática. Eles estão com um projeto lá que está em desenvolvimento inicial, que é a Secretaria Judicial Única, que concentra todos os processos da Justiça Eleitoral em uma única secretaria, para uniformizar padrão de intimação, de decisão. Então, a coisa está toda, a gente percebe, com aquela infraestrutura pronta para a gente, sobre ela, colocar a superestrutura”, destacou.

Segundo Velten, como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes tem dado sinais de que seguirá intolerante contra fake news, o que deve se refletir nas resoluções de instruções normativa da Corte para este ano.

“O TSE, por outro lado, que é o tribunal que dá todas as orientações normativas para o trabalho dos regionais, tem se preocupado muito com isso. O ministro Alexandre de Moraes, eu estive com ele essa semana agora, no início da semana, e eu ouvi dele por mais de uma ocasião: ‘Olha, nós não vamos ter tolerância com fake news, deepfake…’. Então, a gente percebe que o homem está irado com isso, porque ele próprio é vítima disso daí. Então, não há uma dúvida que essa vai ser uma orientação importante e que os tribunais regionais vão ter que dar atenção. Eu, como corregedor, assumo o compromisso de fazer o trabalho que todos que me conhecem sabem que é. Eu vou fazer o que tiver que fazer, fazer aquilo que for certo. Então se nós tivermos que instaurar investigação, aplicar multa, nós vamos fazer. Esse é o papel que a sociedade espera de nós, então a gente precisa fazer com todo o espírito de tolerância”, comentou.

“Eu sou daqueles, caríssimos, que acreditam que a má informação, a própria agressão que o cidadão de bem sofre, daqueles que não tem compromisso com a verdade, ela só pode ser corrigida pela boa informação. Então, quem nos salva da má imprensa, vamos chamar assim, com perdão da expressão, é a boa imprensa, então não tem mais ninguém. A má informação tem que ser combatida com a boa informação, a informação de qualidade, que os leitores, com o tempo, vão se aprimorando, sabem onde vão encontrar, e aquele que não tem compromisso com isso, certamente vai sofrer as consequências. Mas eu acredito, sim, que a Justiça Eleitoral, hoje, pelos investimentos que são feitos, pela orientação que o TSE dá, ela vai saber trabalhar com isso”, completou.

REGULAMENTAÇÃO

Para o desembargador, o combate à desinformação passa, também, pela regulamentação das redes. Mas ele vê o Congresso “em mora” com a sociedade ao não pautar o PL 2630, que institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet e está sendo chamado de PL das Fake News.

“O que nós precisamos é talvez hoje nessa área, é encontrar a medida certa, e essa dificuldade se deve pela falta de regulamentação. O parlamento está em mora, em atraso, e não está demonstrando interesse”, avaliou.

Velten também comentou o efeito das recentes declarações de Musk no embate contra Moraes. Para ele, a manifestação do “multibilionário” estimulou “setores políticos radicalizados” a voltarem a defender a não regulamentação das redes.

“Depois é dessa fala desse multibilionário Elon Musk, a gente viu que esses setores políticos radicalizados aproveitaram, disseram: ‘Olha, não vamos regulamentar isso agora’. Quando precisa regulamentar. Não existe nenhuma atividade, no mundo civilizado que não seja o objeto de regulamentação,. Isso não pode ser terra sem lei”, afirmou, ao analisar o porquê da necessidade de regulação.

“E aí é o problema, e a sociedade às vezes não compreende: se é terra sem lei, o judiciário vai ser provocado, e no direito brasileiro nós não temos o non liquet. O juiz não pode deixar de julgar. Então se ele está provocado a julgar, não tem uma norma, ele vai com base nos princípios, nos valores constitucionais e, aí, é o perigo, porque você deixa uma lacuna muito grande, e o juiz vai ter que transformar essa lacuna em norma no caso concreto. E aí é o perigo, que nós sabemos que sempre existe, do abuso, que, sob o pretexto de assegurar o combate ao abuso da informação, você acabar vilipendiando liberdade de expressão. Então nós temos uma cruzada”

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