Quando a poesia e a matemática se encontram?

Não deveria ser no infinito, que é o lugar onde duas paralelas se juntam segundo ela própria, a Matemática?

Ouso acreditar que não, baseado na minha vivência de engenheiro e de escritor. A Poesia e a Matemática, no meu modo de ver, se encontram desde sempre, após o princípio dos tempos.

E isso pode ser comprovado no livro, Infinitos Sentimentos, quando a poesia e a matemática se encontram, de Waléria Soares, poeta e mestra em matemática, quando se percorrem suas páginas de lucidez vibrante e escancarada. Basta a leitura de alguns poemas escolhidos aleatoriamente para testemunhar que a poesia e a matemática são duas paralelas de trajetória e sina parecidas, que sempre se tangenciaram ou, mais precisamente ainda, se tocam com frequência, contradizendo o postulado matemático. 

O quê??? Quer dizer então que o famoso postulado não será mais o mesmo depois deste livro?

Calma, leitor. “Menos!”, como diz o linguajar corriqueiro ou “Devagar com o andor que o santo é de barro”, como sentencia a sabedoria popular. Existem mais mistérios entre o Céu e a Terra do que sonha a vã inteligência humana, já dizia Shakespeare e um dos mistérios mais bem resolvidos das dificultosas verdades humanas é o que concebe a Matemática e a Poesia como gêmeas poderosas capazes de desmentir postulados, teoremas e axiomas quando se juntam, inclusive contrapondo-se à fala repetitiva de que a Matemática e a Poesia são incompatíveis. É fácil deduzir da leitura deste livro que essa é uma falácia que se avolumou ao longo dos tempos.

Pois é tratando desses encontros, por vezes fortuitos, mas sempre consagradores que este livro é uma festa! Através da dedicação de Valéria Soares, posta a serviço desta preciosa seleção, testemunha-se a comprovação do sugerido acima, na inspiração, na montagem e na arquitetura desta obra de cujo conteúdo se extraem momentos como estes:

(...)Somos duas retas paralelas e diferentes/ quem dera pudéssemos ser duas retas coincidentes.../mas numa nova geometria como reta paralela/ sigo te amando despercebida/ de forma infinita e sem medida. ( Amor platônico das retas, Tamires Silva Soares ) 

(...)Quando a matemática se fez poesia /minha vida deixou de ser vazia /Preenchi todos os intervalos deixei de ser unitário/ questionei a certeza, segui minha própria reta /Para minha surpresa transformei-me em poeta. (Evolução, Waléria Soares ) 

(...) Quanto menos eu te quero mentira/mais te assombras nas verdades/ Noves fora, éguas! /Todos (não) somos iguais. (Matemática no confessionário, Deyse Marinho Martins). 

Enfim, sucessivos encontros marcados no infinito das possibilidades da matemática e da poesia testemunhando, seja através do romantismo, seja da ironia, caso de Deyse, uma junção imorredoura até culminar em:

(...) Como ser um em dois? /Eis o grande desafio de histórias tão diferentes/ que buscam na interação dos sonhos/unir corpos e espalhar sementes (100timento, de Cecília Gromwell)

Que, por sua vez, faz eco ao ultimato de um livro de exaltação à Matemática via poesia, premiado e publicado em 1994,no qual o autor se socorre de equivalente alusão às tênues linhas paralelas que se tocam para gerar um apelo em uníssono:

(...)Está lançada a semente. Somente aves e números (Ave! Números, do livro Cidade Aritmética) 

A semente, estamos vendo agora, foi lançada, ou, melhor dizendo, espalhada por Valéria Soares e seus matemáticos-poetas e vice-versa . 

Que a união da Matemática e da Poesia se perpetuem mais vezes, como neste livro de Waléria Soares, trazendo em seus encontros festivos, ou furtivos, palpitações desta natureza!

Obs. O livro teve seu pré-lançamento na quinta-feira, 4, no Centro de Convenções da UFMA, e será lançado durante o mês de abril, na AML. 

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