Outro dia um jornalista científico pediu para me entrevistar, mas creio que não ficou animado depois porque acabou não publicando a entrevista. Ele queria falar da vida de cientista e eu respondi que, no meu caso, a Ciência era um instrumento para a busca de mim mesmo, do eu profundo, da espiritualidade. E há sempre perguntas fundamentais no grande caminho. Uma delas, creio, é porque sonhamos? Qual a necessidade do sonho? 

Essas questões se intensificaram depois que nosso laboratório começou a fazer um trabalho conjunto com o grande neurocientista Sidarta Ribeiro, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Temos estudantes de doutorado que orientamos conjuntamente. Em um dos trabalhos, o doutorando George Souza busca “ler” os que a pessoa sonhou a partir da análise do eletroencefalograma.

Sidarta aborda a importância dos sonhos em sua pesquisa, mais especificamente em sua obra "O Oráculo da Noite: A História e a Ciência do Sonho". Os sonhos desempenham um papel significativo em nossas vidas, influenciando vários aspectos do nosso bem-estar físico, mental e emocional. Eles ajudam a processar e a lidar com emoções e experiências vividas durante o dia. Também permitem que o cérebro trabalhe através de questões emocionais, promovendo a cura e o equilíbrio emocional.

Durante o sono, especialmente na fase do sono profundo, chamada de REM (Rapid Eye Movement), caracterizada por movimentos rápidos aleatórios dos olhos. Nessa fase, os sonhos são mais vívidos, o cérebro consolida as memórias e as informações aprendidas durante o dia, facilitando o aprendizado e a retenção de conhecimento.

Os sonhos podem oferecer soluções criativas para problemas que enfrentamos na vida acordada. Eles permitem que o cérebro faça conexões inusitadas e explore cenários alternativos. Os sonhos podem refletir nossos medos, desejos, conflitos internos e aspectos ocultos da nossa personalidade. Eles podem, finalmente, ser uma janela para o nosso inconsciente, oferecendo insights sobre nós mesmos e nossa vida.

Uma boa qualidade de sono e sonhos regulares estão associados a uma melhor saúde mental. Já a privação do sono e a falta de sonhos podem levar a problemas como ansiedade, depressão e estresse. Muitas vezes, os sonhos são fontes de inspiração artística e criativa. Artistas, escritores e cientistas relatam ter tido ideias valiosas e inovadoras em seus sonhos.

Por conta dessas grandes possibilidades, está surgindo uma área nova, chamada de engenharia dos sonhos, que se baseia em técnicas antigas e modernas para influenciar o conteúdo dos sonhos. Essas técnicas incluem o uso de estímulos sensoriais como sons, cheiros e toques, bem como movimentos corporais, para afetar os sonhos durante diferentes estágios do sono.

Os chamados dispositivos de indução de sonhos estão sendo desenvolvidos para uso doméstico com o objetivo de oferecer às pessoas a oportunidade de influenciar seus próprios sonhos de forma controlada e positiva. Esses dispositivos utilizam diferentes técnicas, como estímulos sensoriais e tecnologia de realidade virtual, para criar experiências oníricas personalizadas e benéficas.

Equipamentos como o Fascia, desenvolvido no MIT, utilizam alto-falantes, luzes e aromas para ajudar as pessoas a adormecer mais rapidamente, melhorar a qualidade geral do sono e aumentar a consolidação da memória, contribuindo para uma melhor qualidade do sono.

Já a tecnologia de realidade virtual, presente em dispositivos como o Somnia, pode estimular sensações de movimento durante o sono, melhorando a qualidade do sono profundo e potencialmente aumentando a criatividade. Além disso, a utilização de estímulos sensoriais para influenciar os sonhos pode promover a criatividade ao criar experiências oníricas únicas e inspiradoras

Os dispositivos de indução de sonhos representam uma nova fronteira de pesquisa, oferecendo às pessoas a oportunidade de explorar e aprimorar suas experiências oníricas de forma inovadora e personalizada, com benefícios tangíveis para o sono, a criatividade e o bem-estar geral. Eles abrem novas possibilidades para a manipulação e aprimoramento das experiências oníricas, proporcionando insights valiosos sobre a mente humana e o funcionamento do cérebro durante o sono.

*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.

As opiniões, crenças e posicionamentos expostos em artigos e/ou textos de opinião não representam a posição do Imirante.com. A responsabilidade pelas publicações destes restringe-se aos respectivos autores.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.