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Como a experiência do Brasil vai ajudar a força-tarefa de Transição Energética e Clima do B20

Grupo de discussão do setor empresarial das maiores economias do mundo é liderado pelo CEO da Raízen, Ricardo Mussa.

Publipost/ Fiema

Atualizada em 15/02/2024 às 17h52
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SÃO LUÍS – Uma economia de baixo carbono, movida a energias renováveis a um preço acessível: um cenário buscado pelo mundo e no qual a experiência do Brasil pode servir de guia. É isso que move a força-tarefa de Transição Energética e Clima do B20, liderada pelo CEO da Raízen, Ricardo Mussa.

“O Brasil é um bom exemplo para África, Índia, Ásia do que pode para ser feito. A gente está na hora certa, no país certo e tem exemplos claros para mostrar. A gente tem tecnologia, gente com conhecimento, tem processo, tem história. Não é acadêmico. É prático. Temos a prática que pode ensinar o resto do mundo e dar confiança que é possível fazer”, afirma Mussa.

Essa é a terceira vez que o empresário participa do fórum de discussão sobre o tema no B20. O brasileiro foi o número dois da força-tarefa sobre transição energética nas duas últimas edições, quando Índia e Indonésia lideraram o grupo. 

Nesta matéria você vai entender:

Composto por sete forças-tarefas e um conselho de ação, o Business 20 é o fórum empresarial dos países do G20. Ao longo dos próximos meses, os oito grupos temáticos discutem recomendações para apresentar aos chefes de Estado na cúpula do G20, no segundo semestre.

Clique aqui e conheça todas as forças-tarefas e o conselho de ação do B20

Cada força-tarefa pode representantes de 100 a 200 entidades do setor privado e a seleção considera diversidade de gênero, países e setores. Ao todo, os grupos reúnem mais de mil integrantes.

Para 2024, a intenção de Mussa é adotar uma postura mais prática para que as propostas saiam do papel. “Se você apresentar uma conta impossível, ela vira acadêmica. Temos de pensar no que é razoável, o que é mais fácil de atingir com o menor esforço e quantidade de dinheiro possíveis. O setor privado pode ajudar muito nisso pois essa é a realidade das empresas, é nosso cotidiano. A gente é obrigado a olhar e tomar decisões daquilo que faz sentido, inclusive econômico”, completa.

No dia a dia, a empresa liderada por Mussa é referência na produção de biocombustíveis e no setor de energia, sendo a segunda maior distribuidora de combustíveis no país no ano-safra 2022/2023.

Em 2023, a recomendação da força-tarefa de Energia, Mudança Climática e Eficiência de Recursos foi fortalecer a colaboração global para acelerar a transição para a emissão líquida zero de gases de efeito estufa. O caminho apontado para chegar lá foi a aceleração do desenvolvimento e da comercialização de tecnologias de energia renovável por meio de políticas coordenadas e de um pipeline maior de projetos nesse sentido. 

Hoje, a oferta mundial de fontes renováveis de energia, como solar, eólica e hídrica, entre outras, representa apenas 8%, de acordo com dados da Agência Internacional de Energia de 2022. Isso representa um aumento de 0,4% em relação a 2021. Entre 2023 e 2030, o crescimento precisa ser de 13% anual para atingir um cenário net zero, segundo a agência.

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O que o Brasil pode ensinar ao mundo sobre energias renováveis?

No Brasil, em 2022, 47,7% das fontes de energia eram de energias renováveis, incluindo não só eólica e solar, mas também biomassa, de acordo com dados divulgados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O resultado é fruto também de uma política efetiva de transição energética, com os incentivos para expansão do uso de biocombustíveis. 

Criado em 1975, o Programa Nacional do Álcool (Proálcool) ofereceu incentivos fiscais e empréstimos com juros mais baixos para os produtores de cana-de-açúcar e para as indústrias que desenvolviam carros movidos a álcool. Em 1983, as vendas dos veículos movidos pelo biocombustível dominaram o mercado brasileiro. Oito anos depois, cerca de 60% dos carros do país rodavam com etanol. Hoje, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), 83% dos veículos comercializados no país são flex. 

“O Brasil mostrou que, com os subsídios corretos, é possível direcionar esse processo. Hoje a gente tem uma situação peculiar: nós temos tecnologias limpas, com custos já amortizados”, destaca Andrea Cabello, professora de economia da Universidade de Brasília (UnB). 

Desenhar políticas adequadas de investimento e regulação para reduzir o custo de novas tecnologias limpas é um dos pontos do estudo Dez princípios para a elaboração de políticas na transição energética: lições da experiência, do qual Andrea fez parte. Liderado por um consórcio de especialistas acadêmicos do Reino Unido, União Europeia, Brasil, China e Índia, o projeto busca aplicar novas abordagens econômicas para apoiar a tomada de decisões sobre políticas de descarbonização nos países parceiros.

“Se você não direcionar investimento, se você não pensar, fazer esse tipo de mudança sem considerar subsídios adequados para onde você quer mexer, é muito complicado e o mundo sempre teve essa dificuldade. O único caso de política pública de sucesso nessa direção é o do Brasil”, completa a economista.

O que o mundo precisa para fazer a transição energética?

Chegar a uma economia net zero - que emita zero carbono - envolve diversos fatores, como:

  • promoção de tecnologias para reduzir as emissões;
  • energia e materiais acessíveis e competitivos em relação às alternativas tradicionais;
  • segurança no fornecimento de recursos durante a transição energética e sistemas energéticos resilientes;
  • garantia de que países, regiões e empresas se beneficiem de oportunidades durante a transição, promovendo o crescimento sustentável.

Essas oportunidades podem incluir desde substituição de produtos com alta pegada de carbono por aqueles com menor emissão até reestruturações de cadeias de valor, com preferência para fornecedores sustentáveis. 

Outros fatores-chave apontados por especialistas para chegarmos a uma economia de baixo carbono são:

  • investimentos;
  • regulação do mercado de carbono, que poderia direcionar investimentos para locais mais competitivos na produção de energias renováveis;
  • certificação de produtos sustentáveis;
  • capacitação profissional para lidar com novas tecnologias verdes

 

Estudo da McKinsey Global Institute mostra que seria necessário um investimento anual de 8% do PIB mundial ao longo da década para enfrentar de forma sistemática a inclusão econômica e a transição energética. O valor é superior ao investimento do Plano Marshall, de reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial, ressalta Nelson Ferreira, sócio sênior da consultoria parceira do B20, que apoia a força-tarefa com dados e inteligência.

Além do montante necessário, outro desafio está na forma de execução. “Esses investimentos são naturalmente mais desorganizados e mais fragmentados do que em outras situações da história da humanidade em que a gente fez investimento mais concentrado e focado”, afirma Ferreira.

Mercado global de carbono

Embora os países tenham chegado a um consenso nas últimas COPs sobre algumas regras do artigo 6 do Acordo de Paris, que trata do mercado de carbono, há alguns pontos ainda em discussão. Um deles é o artigo 6.4, que permitirá ao setor privado investir em projetos de redução de gases de efeito estufa e criação de créditos, que poderão ser comercializados no futuro mercado de carbono global ou abater metas de redução de emissões estabelecidas por meio das NDCs, as metas nacionais.

O papel da inovação na transição energética

A boa notícia é que metade da necessidade de financiamento apontada pela McKinsey pode ser reduzida com crescimento econômico e inovação, de acordo com o estudo, o que aponta para força da atuação do setor privado nessa agenda.

 “Precisamos de cooperação tanto entre as empresas, entre as empresas e os governos, como entre os governos dos países. O B20 e o G20 são fóruns ideais para acelerar esse tipo de cooperação. A gente vê isso em vários exemplos: produção de aço verde; produção de etanol de segunda geração; produção de SAF (Sustainable Aviation Fuel), o combustível de aviação por fontes mais renováveis; a própria dimensão de custo que já aconteceu e se prevê maior ainda para a energia solar e eólica. Todos esses exemplos têm passado e vão continuar passando por um ganho de inovação e acho que a cooperação das empresas vai ser fundamental para acelerar o processo”, explica Ferreira.

 O especialista também aponta que muitas das novas soluções dependem de mais de uma organização para funcionar. É o caso do hidrogênio verde, que muitas vezes é produzido em um consórcio de empresas que se juntam para produzir o gás, mas também outros produtos, como a amônia verde, por exemplo.

Entre as dez economias mais inovadoras em 2022, 8 estão no G20, de acordo com o Índice Global de Inovação: Suécia, Estados Unidos, Reino Unido, Finlândia, Países Baixos, Alemanha, Dinamarca e Coreia do Sul.

O papel do G20 e do B20 na transição energética

O grupo das maiores economias do mundo responde por 88,2% do PIB global e 78% das emissões de gases do efeito estufa. Os países do grupo emitem, em média, 7,4 a 7,7 toneladas de CO2 por pessoa por ano. Para manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5º C - meta do Acordo de Paris - isso teria de ser reduzido para menos da metade, entre 2,9 e 3,8 toneladas por pessoa até 2030, de acordo com estudo da Oxfam.

Para impulsionar a transição, o caminho apontado por especialistas é evitar a dependência energética, diversificando as fontes renováveis, e encontrar a melhor resposta para cada país ou região.

“Não tem bala de prata. Cada lugar tem peculiaridades, vantagens competitivas. O mais difícil mesmo é ter um olhar macro. Não vamos olhar só para o Brasil. Vamos olhar para o todo e ver o que faz mais sentido”, afirma Mussa.

A professora da UnB Andrea Cabello, por sua vez, destaca que as soluções de descarbonização serão diferentes porque as causas de emissão de gases do efeito estufa são distintas. “Não adianta buscar soluções no Brasil que vão focar na descarbonização da mesma forma que ocorre na Europa porque o problema não é o mesmo, é multifacetado e tecnologias diferentes estão disponíveis em lugares diferentes”, afirma Andrea.

A economista também vê possibilidades cada vez maiores de formatos híbridos. “Talvez o melhor seja um portfólio de tecnologias para que a gente tenha opções. Talvez a gente tenha mais formas de híbridos e não só para automóveis [que podem ser abastecidos com gasolina ou álcool], mas, por exemplo, para energia da sua casa”, completa.

Qual o papel da inovação na transição energética.

Como a experiência brasileira nessa área pode servir para o mundo;

Qual o papel do B20 e do G20 na transição energética;

O que faz a Força-tarefa de Transição Energética e Clima do B20;

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