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COLUNA

Ruy Palhano
Ruy Palhano é médico psiquiatra.
Ruy Palhano

Aspectos psicossociais da ganância

A ganância talvez represente um dos sentimentos humanos mais execrado, pois trata-se de sentimento complexo e multifacetado e frequentemente relacionado a um desejo excessivo por riquezas, posses ou poder.

Ruy Palhano

A ganância talvez represente um dos sentimentos humanos mais execrado, pois trata-se de sentimento complexo e multifacetado e frequentemente relacionado a um desejo excessivo por riquezas, posses ou poder. Ela é considerada por muitos como um traço negativo do caráter humano, que pode levar a comportamentos prejudiciais tanto para o indivíduo quanto para a sociedade.

Psicologicamente, a ganância é muitas vezes ligada à insatisfação constante e à incapacidade de apreciar o que se tem. Pessoas gananciosas podem estar sempre buscando mais, sem nunca se sentirem satisfeitas com suas conquistas ou posses, se sentem ávida pelo poder e pela riqueza. 

No contexto social e econômico, a ganância pode ter consequências graves. Ela pode levar a práticas empresariais antiéticas, corrupção, exploração de trabalhadores e negligência com o meio ambiente. A história está repleta de exemplos onde a ganância de indivíduos ou grupos onde os levaram a conflitos, injustiças e crises econômicas.

A literatura, o cinema e outras formas de arte frequentemente exploram a temática da ganância, ilustrando suas consequências prejudiciais, possibilitando reflexões sobre a natureza humana e os valores sociais. No entanto, é importante notar que a ambição e o desejo de melhorar a própria vida não são necessariamente negativos. O problema surge quando esses desejos se tornam desmedidos e passam a prejudicar outras pessoas ou a si mesmo. 

A moderação e o equilíbrio são chaves para diferenciar uma ambição saudável da ganância destrutiva. A ganância é um sentimento, caracterizado pela volúpia incontida, pela vontade incontrolável de possuir tudo, especialmente o que essas pessoas admiram para si próprio. É ambição desmedida, é a avidez por algo, é a cobiça, a avareza, a concupiscência, a usura e a cupidez. É a vontade exagerada, incontrolável e apetitosa de possuir as coisas. É um desejo excessivo direcionado principalmente à riqueza material, qual seja, o dinheiro.

Em Aurélio, a palavra ganância vem do espanhol, ganancia, esp. Ganar, ganhar, significa ambição de ganho, ganho ilícito, usura, ambição desmedida. Em Michaelis trata-se de uma ambição desmedida de ganho, ou lucro, ambição, avidez, cupidez.

A ganância, portanto, é um traço abominável da condição humana. Ela nasce com o homem, é um traço de sua personalidade, desde cedo aparece na vida das pessoas e pode prosseguir com ela a vida toda. Muitos podem nascer com esse traço, porém, ao longo da vida, pode se desfazer dele. É uma condição humana, comportamental, trans-histórica e transcultural. 

Gananciosos são figuras insaciáveis, têm um apetite voraz por tudo, especialmente por dinheiro e poder. São avaros e nada os satisfaz, sempre querem mais e mais, de forma desenfreada. Agem compulsivamente atrás de ganhos e dificilmente se desfazem do que têm.

Na história recente de nosso país, por ocasião da Lava-Jato, assistíamos, frequentemente, pela grande mídia, casos notórios de grandes gananciosos serem denunciados ao Ministério Público, devido a uma intensa roubalheira ao erário. Eram pessoas que exerciam papéis importantes no cenário das atividades pública e política, e se comportavam como agentes insaciáveis na obtenção do dinheiro, mesmo por meios ilícitos. Os bandidos se organizavam em quadrilhas, regidas por meios sofisticados de cometem esses crimes e o faziam de forma absolutamente natural, na cara limpa, sem qualquer remorso, pudor ou arrependimento por estarem roubando o que era do povo. Eram gananciosos.

Os ladrões da Lava-Jato, a volúpia por dinheiro era suas grandes marcas. Em condições normais de vida, jamais gastariam todo dinheiro que roubaram, a não ser em extravagâncias e na perspectiva de uma vida desmedida, mesmo assim roubaram compulsivamente. 

Os aspectos psicológicos da ganância são complexos e podem ser analisados sob diversas perspectivas. Sabe-se que a ganância é frequentemente marcada por uma insatisfação constante. Independentemente do que se possui ou alcança, o indivíduo ganancioso tende a desejar sempre mais, sem nunca sentir verdadeira satisfação ou contentamento com suas conquistas.

A ganância pode estar associada a uma necessidade profunda de controle e poder sobre os outros e sobre o ambiente. Isso se reflete no desejo de acumular riquezas ou influência, muitas vezes indo além do necessário ou do razoável. Em muitos casos, a ganância pode ser alimentada por medos e inseguranças subjacentes. Pode ser um medo de perder o status, a segurança financeira, ou de não ser considerado bem-sucedido aos olhos dos outros. Da mesma forma como ganância pode levar a uma diminuição da empatia e consideração pelos outros. A busca incessante por mais pode ofuscar a capacidade de entender e valorizar as necessidades e sentimentos de outras pessoas.

Em outros casos, a ganância pode levar os indivíduos a justificar comportamentos antiéticos ou prejudiciais, como enganar, tergiversar, explorar ou prejudicar outros para alcançar seus objetivos. Além do mais, embora se saiba que a ganância não seja um transtorno psicológico em si, ela pode estar relacionada ou ser um sintoma de outros transtornos, como o narcisismo, a psicopatia ou o transtorno de personalidade antissocial.

A ganância, como outros comportamentos humanos, é muito influenciada pela cultura e pelo ambiente onde se vive. Vive-se em uma cultura e em uma sociedade que incentiva e estimula a prática da ganância. O egocentrismo, a vaidade, a insinceridade, a superficialidade nos comportamentos pueris são comportamentos comuns na sociedade atual, gerando pessoas arrogantes, presunçosas, desumanas, blasfemadoras e desrespeitosas. E tudo isso acaba por incentivando gananciosos a pretender se dar bem na vida. 

O ambicioso, dificilmente, estabelece relações seguras e confiáveis com alguém, pois suas motivações, nas relações interpessoais, são sempre interesseiras, pragmáticas e visam ganhos. São pessoas envolventes e sedutoras e sempre tem na cabeça “dá o golpe” com o intuito de atingir seus objetivos, quaisquer que sejam eles, independente se suas atitudes mesmo que isso possa gerar problemas para alguém, para a comunidade ou para a sociedade. 

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