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COLUNA
Allan Kardec
É professor universitário, engenheiro elétrico com doutorado em Information Engineering pela Universidade de Nagoya e pós-doutorado pelo RIKEN (The Institute of Physics and Chemistry).
Coluna do Kardec

A Ciência da bondade

Breve elucubração sobre os efeitos dos atos aleatórios de bondade.

Allan Kardec

 
 

O ano nasceu devagar. Abriu os braços e inicia sua caminhada rumo ao ciclo de trezentos e poucos dias. Nesse momento de nascimento e meninice, que tal falar de esperança e aspectos que nos tornam humanos? Li um texto recente em uma revista científica que parece repetir muita coisa dos conhecimentos ancestrais dos grandes nomes da história, quando eles versam sobre roteiros de vida, como Sócrates, Krishna, Jesus ou Buda.

Mas, retornemos aos aspectos científicos. Atos aleatórios de bondade são pequenas ações realizadas para trazer felicidade ou alívio a outra pessoa sem esperar nada em troca. Estes atos podem ser planejados ou espontâneos e são realizados com a intenção primária de beneficiar alguém, seja um conhecido ou um estranho. Eles se destacam pela sua simplicidade e impacto positivo, tanto para quem os pratica quanto para quem os recebe. Aqui estão alguns pontos chave sobre atos aleatórios de bondade:

Estudos mostram que praticar atos de bondade pode melhorar o humor e a satisfação geral tanto do doador quanto do receptor. Isso está alinhado com o conceito de "altruísmo recíproco", onde ajudar os outros pode levar a um aumento no bem-estar pessoal.

Eles podem variar enormemente em natureza e escala: podem ser tão simples quanto elogiar alguém, pagar o café para a pessoa na fila atrás de você, enviar uma mensagem de texto de apoio a um amigo, ou ajudar alguém a carregar suas compras. Pesquisas relatam que esses atos têm um efeito "contagioso", incentivando uma cadeia de bondade. Quando uma pessoa experimenta ou testemunha um ato de bondade, ela é mais propensa a praticar um ato semelhante.

Nicholas Epley, da Escola de Negócios Booth da Universidade de Chicago, e Amit Kumar, da Universidade do Texas, publicaram estudos no Journal of Experimental Psychology: General sugerindo que as pessoas frequentemente subestimam o valor de suas ações bondosas para os outros. Em experimentos com cerca de mil participantes, foi observado o impacto de atos aleatórios de bondade. Os atos variaram: em um experimento, os participantes escreveram cartas para amigos e familiares; em outro, deram pequenos bolos.

Os participantes e os receptores dos atos preencheram questionários, avaliando a magnitude do gesto e, em alguns casos, o custo em tempo, dinheiro ou esforço. Os resultados mostraram que ambos, quem faz e quem recebe o ato de bondade, se sentiam mais felizes. Porém, quem praticava a bondade subestimava seu impacto: os receptores se sentiam significativamente melhor do que o esperado. Além disso, os receptores classificavam os atos como mais significativos do que quem os realizava.

Inicialmente focando em atos de bondade para conhecidos, os estudos também mostraram que o impacto positivo era subestimado mesmo em estranhos. Por exemplo, em um experimento, participantes distribuíram chocolate quente em um dia frio para estranhos, tendo um efeito mais positivo do que o esperado pelos doadores – algo similar aos que voluntários fazem anonimamente às pessoas que estão em situação de rua.

A pesquisa sugeriu que, em atos aleatórios de bondade, os destinatários focam mais no calor humano do que os doadores. Isso pode explicar porque as pessoas frequentemente subestimam o impacto de suas ações calorosas e pró-sociais. Além disso, foi descoberto que a bondade pode ser contagiosa. Em um jogo econômico, participantes que haviam recebido um ato de bondade davam mais dinheiro a uma pessoa anônima do que aqueles que não haviam recebido. A pessoa que realizou o ato inicial frequentemente não reconhecia o alcance de sua generosidade.

Mais ainda, praticar a bondade pode ter benefícios tangíveis para a saúde, como redução do estresse, melhora da saúde cardíaca, e aumento da expectativa de vida. Igualmente, fortalecem os laços comunitários e promovem um ambiente mais solidário e empático.

Pesquisadores que investigam a felicidade descobriram que a gentileza para com os outros pode aumentar o bem-estar. Atitudes simples como comprar um café para alguém podem elevar o ânimo. O dia a dia oferece várias chances para tais gestos, mas são frequentemente ignoradas.

Em resumo, os atos aleatórios de bondade representam uma expressão poderosa de empatia e altruísmo, capazes de melhorar significativamente a qualidade de vida tanto de quem os pratica quanto de quem os recebe. Eles são um lembrete de que, mesmo em pequenas ações, podemos fazer uma grande diferença no mundo ao nosso redor. E, principalmente, a si – ao nosso bem estar – algo que os grandes sempre falaram e repetiram insistentemente: seja bom! A cada dia, a Ciência comprova que seus ensinamentos são roteiros de vida.

*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.

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