(Divulgação)

COLUNA

Curtas e Grossas
José Ewerton Neto é poeta, escritor e membro da Academia Maranhense de letras.
Curtas e Grossas

Os céus da Ilha

Reproduzo neste espaço texto de Gabriela Lages Veloso sobre o romance "A ilha e o céu de Berenice", de José Ewerton Neto.

José Ewerton Neto

 
 

Reproduzo neste espaço texto de Gabriela Lages Veloso, escritora, poeta, crítica literária e mestranda em letras pela UFMA sobre o romance A ilha e o céu de Berenice de José Ewerton Neto. 

A literatura brasileira contemporânea tem se ocupado, sobretudo, com os modos de figuração da vida urbana, os embates que os sujeitos empreendem diante do lugar que vivem, transitam e, consequentemente, elaboram suas frágeis construções identitárias. Desse modo, Patrocínio (2014) propõe a tríade violência, marginalidade e realidade social, enquanto temário recorrente da ficção contemporânea.

Na tentativa de fazer um mapeamento das margens e abrir espaço para as novas vozes sociais, os escritores contemporâneos têm evidenciado percursos narrativos de personagens em trânsito e oprimidos em suas marcas de subjetivação (etnia, classe social, gênero, idade, orientação sexual). Nesse sentido, sobreleva-se o romance A ilha e o céu de Berenice (2021), tal como é possível notar no trecho a seguir:

“Notou que aquelas casas eram desprovidas de luxo mas, embora velhas, tinham resquícios de opulência vindos da memória e tempos antigos, como, aliás, eram comuns nas ruas do Centro, mas estas ostentavam, além disso, um certo ar de cumplicidade que lhes era dado pela proximidade umas com as outras. […] Na realidade, ao subir aquelas ladeiras era como se todas aquelas casas fossem uma só e ele estivesse invadindo um corredor estreito sob olhares que convergiam por detrás dos musgos das paredes […] as ladeiras pareciam ir e voltar com uma única intenção: drenar a presença das horas e evitar que sacudissem fortemente aquela luz noturna do passado, de melancolia e preguiça” (NETO, 2021, p. 33).

Ao longo de toda a narrativa, um ar de suspense se instaura, o que captura a atenção dos leitores e leitoras. Outro aspecto de suma importância é a linguagem utilizada pelo autor: um misto de naturalista (simples, coloquial, apresentando a realidade tal como ela é) e poética. Além do espaço urbano, também é necessário observar a construção dos personagens, desde a escolha de seus nomes.

Por exemplo, os nomes dos protagonistas são Jácio e Berenice. Jácio provém do latim jacere, que significa “manifestar suspeitas”, por isso, é um nome bem interessante para um delegado. Por sua vez, Berenice vem do grego Berenike, que quer dizer literalmente “portadora da vitória”, significado que também coaduna com a narrativa.

É válido enfatizar que o romance é permeado por uma série de críticas sociais. Aborda, de maneira clara e objetiva, a crueldade da pobreza e das desigualdades sociais, as diversas injustiças causadas pela corrupção e os vários abusos que as mulheres enfrentam no cotidiano: violência física, sexual e psicológica.

Portanto, A ilha e o céu de Berenice (2021) propicia um olhar mais agudo e crítico sobre a cidade e a realidade social, ao apresentar reflexões sobre o ambiente em que vivemos e construímos nossas identidades. Afinal, todos somos ilhas de anseios e expectativas.

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