(Divulgação)

COLUNA

José Lorêdo Filho
Editor da Livraria Resistência Cultural Editora e chanceler do Círculo Monárquico de São Luís
José Lorêdo Filho

Antônio Oliveira Santos (1926 – 2023), um grande brasileiro

Foi com tristeza que recebi a notícia do falecimento, aos 97 anos, do empresário e marcante líder classista Antônio Oliveira Santos.

José Lorêdo Filho

Foi com tristeza que recebi a notícia do falecimento, aos 97 anos, do empresário e marcante líder classista Antônio Oliveira Santos, no último sábado. Era natural de Vitória do Espírito Santo, onde nasceu a 30 de junho do já longínquo ano de 1926. Foi, por exatos trinta e oito anos, presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), de 1980 a 2018, quando então passou a direção da entidade ao empresário amazonense José Roberto Tadros, seu amigo de longa data. Desde 2018, era Antônio Oliveira Santos presidente de Honra da CNC. O título lhe era bem devido. Foi ele, por toda a vida, uma espécie de estadista, de larga visão, previdente e provedor, do setor terciário. Mas colocar as coisas nesses termos, protocolarmente, acaba por limitar a sua importância.

A Confederação Nacional do Comércio não é apenas a entidade sindical máxima do setor terciário brasileiro, que produz e gera riqueza, reunindo nada menos que trinta e quatro federações (vinte e sete estaduais e sete nacionais) e mais de mil sindicatos patronais espalhados por todo o país. Cabe, igualmente, à CNC a direção de um dos maiores sistemas de desenvolvimento social do mundo, formado pelo Serviço Social do Comércio (SESC) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), com o que integra milhares de jovens ao mercado de trabalho e propicia à sociedade brasileira o mais importante conjunto de estabelecimentos de natureza educacional, cultural e artística do país. Tudo isto foi possível graças à ação do presidente Antônio Oliveira Santos, que harmonizou os interesses do comércio no sentido de melhor servir à causa pública. É um trabalho que não pode ser mensurado.

Esse homem verdadeiramente vocacionado para a vida pública — “dinâmico e realizador”, no dizer do jornalista Aristóteles Drummond, que com ele privou durante décadas — convidou o economista Ernane Galvêas, seu grande amigo, que então havia deixado a titularidade do Ministério da Fazenda fazia três anos, para comandar a Assessoria Técnica da Presidência da CNC. Estávamos em 1988. Galvêas não era um simples economista, formado para a estreiteza da vida técnica. Longe disso. A exemplo de seus amigos de geração — um Roberto Campos, um Delfim Netto, um Mário Henrique Simonsen —, Galvêas ainda personificava aquele velho espírito universalista de nossa raça, tão plástica e tão multiforme, forjado por séculos de experiência. Era, também, um estadista e um humanista. E foi ele — sob o olhar atento, de apoio e sustentação, do presidente Oliveira Santos — quem fez de um simples órgão de “assessoramento técnico” de uma entidade sindical o mais substancioso agrupamento da elite acadêmica, econômica, jurídica e diplomática do país.

Os quadros que pertenceram e pertencem a esse alto Conselho da CNC é algo que espanta, pela quantidade e pela qualidade. Além de Campos, Delfim Netto e Simonsen, outros tantos — entre os mortos, os professores Antonio e Gilberto Paim, José Arthur Rios e Djacir Menezes; os juristas Paulo Bonavides e Evaristo de Moraes Filho; os economistas João Paulo dos Reis Velloso e Nestor Jost; os ex-parlamentares Célio Borja e Jarbas Passarinho; os diplomatas Edmundo Penna Barbosa da Silva, J. O. de Meira Penna e Vasco Mariz. Entre os que ainda lá estão, em plena atividade — os professores Arnaldo Niskier, Arno Wehling, Rubens Penha Cysne e Ricardo Vélez Rodríguez; os juristas Arnoldo Wald e Ives Gandra da Silva Martins; os empresários Humberto Mota e Joel Mendes Rennó; os diplomatas Luiz Felipe de Seixas Corrêa, Marcos de Azambuja e Geraldo Holanda Cavalcanti. Há outros, que não cito para não tornar este simples artigo de jornal num Pantheon.

Nenhuma outra instituição congênere conseguiu o feito de reunir tal excelência de quadros. A coordenação dos trabalhos do Conselho — hoje chamado apropriadamente de Conselho de Notáveis —, que esteve a cargo do ministro Galvêas por mais de trinta anos, atualmente se encontra sob a responsabilidade de outra grande vocação de homem público — o ex-senador e ex-ministro Bernardo Cabral.

A reunião dessa gama admirável de brasileiros ilustres, inegavelmente os melhores dentre os diversos ramos do saber, é devida aos esforços desses dois grandes mortos, um dos quais o saudoso ministro Ernane Galvêas, naturalmente; o outro, aquele que nos deixou no último sábado, aos 97 anos, ainda lúcido e atuante. É uma bela biografia.

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