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COLUNA

Allan Kardec
É professor universitário, engenheiro elétrico com doutorado em Information Engineering pela Universidade de Nagoya e pós-doutorado pelo RIKEN (The Institute of Physics and Chemistry).
Coluna do Kardec

As plantas choram!

Falamos sobre recentes estudos que mostram que as plantas emitem sons.

Allan Kardec

- Atualizada em 02/05/2023 às 23h39
 
 

Há alguns anos, a Rádio Universidade FM tem um belo programa chamado “Chorinhos e Chorões” apresentado pelo meu amigo Ricarte Almeida Santos, referência cultural da Ilha do Amor. Assim como o grande Léo, que tem um bar icônico na Feira do Vinhais – de um lado a feira, de outro basicamente um grande museu com discos, toca discos antigos e grandes nomes da música brasileira. 

A linguagem da música é universal, assim como a matemática ou um choro de bebê. Até hoje, embarcado em avião, tento identificar o choro de alguns: se é de dor, de sono ou só manha mesmo. A emoção de escutar O Réquiem de Mozart ou um chorinho de Pixinguinha é indescritível. A alma chora junto!

E olha só! As plantas não sofrem em silêncio! Em vez disso, quando estão com sede ou estressadas, elas emitem “sons transportados pelo ar”, de acordo com um estudo publicado esta semana na prestigiosa revista Cell. Plantas que precisam de água ou tiveram seus caules cortados recentemente produzem até cerca de 35 sons por hora, descobriram os autores. Mas plantas bem hidratadas e sem cortes são muito mais silenciosas, fazendo apenas cerca de um som por hora.

Em humanos, o estudo de sons se divide, genericamente, naqueles que pronunciamos, cantarolamos e a própria fala. Quando ainda em Nagoya, no Japão, aprendi com o Professor Fumitada Itakura a importância da transmissão da fala. Ele inventou um mecanismo baseado no formato da cabeça humana, ou melhor, do trato vocal, e o colocou em um circuito eletrônico. Hoje ainda o mundo inteiro utiliza o invento dele. 

Nós falamos, mas igualmente ouvimos! Essa compreensão de como o nosso cérebro apreende os sons ou captura as ondas sonoras no ambiente é interessantíssima. Desde a década de 40 do século passado havia buscas para saber como nós processávamos e organizávamos, nos circuitos neurais, as informações. Mas só em meados da década de 90 que se entendeu o que se passava.

Eu diria, talvez exagerando na metáfora, que o cérebro usa o que os imperadores romanos faziam com os povos estrangeiros “dividir pra conquistar”. Ele quebra a informação em várias partes e, a partir desses pedaços, ele usa a mais forte dali para passar adiante nos circuitos neuronais.

Na minha infância em Grajaú, lembro bem Raul Seixas, na música “Ouro de Tolo”, enunciando "saber que é humano, ridículo, limitado que só usa dez por cento de sua cabeça animal". Na verdade, o cérebro economiza o máximo de energia possível, melhorando a transmissão de informação. Ou mais precisamente, otimizando o que vai passar pelos circuitos. Como digo a meus alunos: de outra forma teríamos de ser consumidores vorazes de fontes de energia como açúcar para abastecer tamanha demanda! 

A razão pela qual você provavelmente nunca ouviu uma planta com sede fazer barulho é que elas se manifestam na faixa acima de sua capacidade de escutar. Ou seja, eles são tão agudos que poucos humanos poderiam ouvi-los. Mas se suspeita que animais provavelmente as ouçam. Morcegos, ratos e mariposas poderiam viver em um mundo repleto de sons de plantas. A equipe do estudo foi liderada pela professora Lilach Hadany, da Universidade de Tel-Aviv em Israel, mas eles igualmente mostraram em trabalhos anteriores que as plantas também respondem a sons feitos por animais.

Os ruídos eram particularmente óbvios para plantas estressadas por falta de água ou corte recente. “É um pouco como pipoca – cliques muito curtos. Não é cantar.” – disse ela à revista Nature. Mesmo porque as plantas não têm cordas vocais como nós humanos. Nem língua ou dentes, importantíssimos para nossas conversações. O som da letra F, por exemplo, faz uso dos lábios e dentes ou o P, que precisa de uma abertura explosiva dos lábios. 

Enfim, o mundo se comunica, fala e chora! Os animais a gente sabia. Agora, as plantas. O mundo não está desconectado ou separado, somos um só, integrados. Os hinduístas dizem que o som de Deus subjaz o Universo: o “Ohm” – quando o pronunciamos, entramos em contato com as profundezas de nós mesmos.

*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.

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