COLUNA
Curtas e GrossasJosé Ewerton Neto é poeta, escritor e membro da Academia Maranhense de letras.
Se ainda houvesse marchinhas
Como seriam as letras hoje das antigas canções que embalavam os carnavais?
José Ewerton Neto
Se ainda houvesse marchinhas (estamos falando daquelas que o tempo nunca vai apagar), as letras teriam de ser mais ou menos assim em nome da modernidade.
1.Ontem: “Olha a cabeleira do Zezé. Será que ele é, será que ele é? Será que ele é bossa nova, será que ele é Maomé. Parece que é transviado, mas isso não sei se ele é”
Hoje: Olha a cabeleira do Vital
Será que ele é, será que ele é.
Será que ele é dançarina, será que ele é travesti
Parece que é tudo isso, mas isso eu não sei se ele é.
2. Ontem: “Oh, jardineira, por que estás tão triste? Mas o que foi que te aconteceu? Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros, depois morreu!”.
Hoje: Oh, periguete, por que estás tão triste?
Mas o que foi que te aconteceu
Foi o velhinho que quebrava teu galho
Deu dois suspiros, depois morreu.
3. Ontem: “Se você fosse sincera, ô ô Ô Aurora, ai meu Deus que bom que era, ô ô Ô , Aurora. Um lindo apartamento com porteiro e elevador e ar refrigerado para os dias de calor. Madame antes do nome, você teria agora, ô ô Ô Aurora!”
Hoje: Se você fosse safada, ô ô Ô, Aurora
Ai meu Deus que bom que era, ô ô Ô Aurora!
Um apê de cobertura, com cinema e elevador.
E um personal training pra teus dias de calor
Um chifre bem na testa, eu teria agora
Oooô, que Aurora!
4.Ontem: “Solteira eu não quero. Casada traz complicação. A viúva tem saudade, a desquitada é a minha solução”.
Hoje: Hetero eu não quero,
Suruba traz complicação
LGBT pode dar cadeia
Masturbação é a minha solução.
6.Ontem: “Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí, em vez de tomar chá com torrada ele bebeu Parati. Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão, e sorria quando o povo dizia mamãe eu quero mamar, mamãe eu quero mamar, mamãe eu quero mamar.
Hoje: Pegou uma moto emprestada e saiu por aí
Em vez de tomar café com torrada cheirou um monte de pó
Levava um canivete no cinto e um trabuco na mão
E sorria quando o povo dizia sossega leão, sossega Leão, sossega Leão!
5.Ontem: As águas vão rolar, garrafa cheia eu não quero ver sobrar, eu passo mão na saca, saca, saca rolha, e bebo até me afogar. Se a polícia por isso me prender, mas na última hora me soltar, eu passo a mão no saca, saca, saca rolha ninguém me agarra, ninguém me agarra
Hoje: (cantada pelas blitzes)
As multas vão rolar,
Cachaceiro hoje eu quero ver soprar
Eu passo a mão no bafômetro e esfrego
No nariz dele até chiar
Se o infeliz pedir pra aliviar
E vier me implorar para soltar
Eu passo a mão no cassetete e ameaço
Ninguém me agarra, ninguém me agarra!
Saiba Mais
Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram e TikTok e curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.