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COLUNA

Allan Kardec
É professor universitário, engenheiro elétrico com doutorado em Information Engineering pela Universidade de Nagoya e pós-doutorado pelo RIKEN (The Institute of Physics and Chemistry).
Coluna do Kardec

ChatGPT: a nova revolução em inteligência artificial

Falamos sobre os novos avanços em inteligência artificial no mundo.

Allan Kardec

Atualizada em 02/05/2023 às 23h39
 
 

Nara é uma das cidades mais bonitas do mundo. Claro que é minha visão. Explico-me: a beleza não é necessariamente aquilo que tu percebes com os olhos, mas o conjunto de sensações, emoções, alegrias e sentimentos nobres que algo te inspira. Sempre pergunto: quantos corpos externamente extraordinários do ponto de visto estético são vestidos por almas mesquinhas, vingativas e hipócritas?

Sempre achei Chico Xavier muito lindo. Mas Nara não concorre com ele porque é uma cidade, e carrega consigo o nascimento da história do Japão: foi sua primeira capital. Passear em Nara é como caminhar nas ruas de São Luís: enquanto aqui evocamos, na Rua Portugal, as figuras de Gonçalves Dias e do Padre António Vieira, lá, encaramos o Grande Buda de Todai-ji ou caminhamos entre os cervos do Parque de Nara.

Logo ali ao lado está a segunda capital: Kyoto, que tem a exuberância de um samurai e a delicadeza de uma gueixa. Muito do que se lê no livro Musashi, de Eiji Yoshikawa se passa nas ruas de Kyoto, que é também conhecida como a “Cidade dos Samurais”. As batalhas épocas do maior espadachim do Japão se passam em suas ruas e campos ao redor.

E é ali do lado que está a Advanced Telecommunications Research Institute International (ATR), um instituto extraordinário de pesquisa, onde tive o privilégio de estagiar sob a tutela do Professor Hideki Kawahara. Ele me ensinou seu trabalho extraordinário: mudar o tom de voz de pessoas, ou seja, tornar a voz masculina em feminina e vice-versa – mas sem nenhuma artificialidade, sem aquela voz de robô de filmes infantis.

Aqueles eram os idos de 1997. Quando voltei para Nagoya, usei a ideia do Professor Kawahara para estimar os batimentos cardíacos de humanos e aproveitar para terminar meu PhD, em 1998. “Nossa, o Allan é pré-histórico!” – deves estar pensando. Concordo. A idade vai chegando e parece que as recordações vão caminhando como cerejeiras abençoadas a seu lado...

Ainda lembro vividamente uma reunião geral com os membros da ATR. Estavam lá mentes brilhantes da Ásia, Europa, Oceania ou África. O presidente da empresa falando a todos que gostaria de trabalhos de altíssimo nível, que, em duas décadas, queria que dali saísse um prêmio Nobel.

À época, fiz amizades com corações generosos da Inglaterra, EUA, Tanzânia e China, me ensinando muito truques matemáticos de como mexer com dados. Lembro de uma conversa com Eric Vatikiotis-Bateson, um americano genial que trabalhava com linguagem (há um livro dele na Amazon, para quem se interessar): ele perplexo com a capacidade de se colocar uma centena de música em um CD, quando só cabiam até então uma dezena...

Agora estamos em 2023 e o grande debate está em torno do ChatGPT, a ferramenta de inteligência artificial da empresa OpenAI. Esse robozinho é capaz de coisas impensadas até agora, desde escrever um livro de história infantil até responder pretendentes em aplicativos de relacionamento. Mais: a plataforma fez uma prova de direito da Universidade de Minnesota e alcançou 60% de acertos. Não sei qual seria a nota mínima por lá, mas certamente ela passaria em muitas que conheço. 

O fato objetivo é que o que chamamos de Revolução 4.0 está acontecendo e a informação ocupa espaço central. O debate planetário agora é como organizar, por exemplo, os direitos autorais quando alguém utilizar essa ferramenta para escritas – fato que tem agitado as casas legislativas ao redor do mundo. Por exemplo, a revista científica Nature, uma das mais respeitadas do mundo, já exige que os autores explicitem em seus textos se tiveram a ajuda do ChatGPT.

Para muitos, a mudança tecnológica dá medo. A inteligência artificial causa ânsia em profissionais. Mas o mundo muda inexoravelmente, sem nos pedir licença. Assim como, pelas circunstâncias políticas, a capital do Japão se mudou de Kyoto para Tokyo.

Há até um fato interessante, para quem gosta de imagens e símbolos. Em japonês, Kyoto é escrita, em símbolos kanji, como Kyo (京) e To (都), significando "cidade capital". Já Tokyo é escrita como To (東), que quer dizer leste, e (京), que é justamente o primeiro símbolo de Kyoto! Ou seja, poderíamos entender que Tokyo é “a cidade a leste de Kyoto”. O interessante é que à época da mudança de capitais, o imperador fez o primeiro programa de analfabetismo zero do Japão. Ano? 1610.

Ah, esqueci de falar: este texto não foi feito pelo ChatGPT.

*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.

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