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COLUNA
Curtas e Grossas
José Ewerton Neto é poeta, escritor e membro da Academia Maranhense de letras.
Curtas e Grossas

Pelé, o Santos e um reino de magias

Somente no futebol um menino pobre que engraxava sapatos para sobreviver poderia se tornar um Rei de todo o Planeta.

José Ewerton Neto

Atualizada em 02/05/2023 às 23h39
 
 

1.A magia do futebol 

O futebol é um esporte extraordinário. Somente no futebol  um aleijado como Garrincha poderia ter sido um gênio, competindo com grandalhões saudáveis e perfeitos. Somente no futebol um sujeito baixo e atarracado, com cara de porteiro de boate de quinta categoria, feito Maradona, seria um extra-classe; somente no futebol um time do interior sem dinheiro e sem torcida, como o Santos FC poderia, em pouco menos de dez anos, se transformar no melhor time que já se viu no planeta. 

Pois foi esse esporte fascinante que conferiu a Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, que morreu esta semana aos 82 anos o título de atleta do século, mesmo disputando com atletas legendários de outros esportes mais solicitados em países muito ricos como os USA. E foi ele, Pelé, o mágico capaz de transformar nas décadas de 50/60 um time de interior, o Santos FC, num time de futebol que parece carregar a fortuna de uma sina peculiar e especial que é a de prover o contínuo surgimento de jogadores de técnica refinada ao contrário dos trogloditas plenos de músculos e velocidade que a reboque da arrogância impositiva de técnicos como Felipão e Tite pouco a pouco estão botando a perder a magia do futebol brasileiro que encantou o mundo. 

As novas gerações que não viram o apogeu do Santos FC não têm ideia da asneira que falam quando tentam equiparar os feitos internacionais do São Paulo FC aos do Santos, da era Pelé. Isso seria desculpável para torcedores, mas não para analistas de futebol profissionais. O São Paulo ganhou, sim, títulos de torneios mundiais, mas nunca foi sequer considerado o melhor time do mundo. Há uma diferença básica. O Santos ganhou títulos porque era o melhor e não foi o melhor apenas porque ganhou títulos. O Santos era tão melhor que prescindia de títulos, tanto assim que os desprezou, negando-se a disputar o torneio Libertadores da América, cujo inchaço de times promovidos para disputar a competição, incluindo os vices, tinha por único objetivo poder ver Pelé e Cia se exibindo de graça.

2. Em crônica sobre o futebol, publicada no jornal O estado do Maranhão há dois anos, o confrade e amigo Elsior Coutinho lembrou de várias expressões usadas por comentaristas e torcedores numa interessante listagem de termos bélicos adaptados ao jargão futebolístico.  

Isso me fez lembrar o que havia lido na revista Superinteressante quando cientistas evolutivos explicavam o formidável fascínio que este exerce na mente, especialmente masculina, pelo fato desse esporte se desenvolver como uma estratégia de combate, que motivou o ser humano nas suas lutas pela sobrevivência. O instinto gregário, a luta, o ataque e a defesa, o estrategista, e o gol como objetivo a ser alcançado, fazem parte do ardor com que lutamos  nos mais remotos tempos.   

A tudo isso o futebol acrescenta o fascínio da imprevisibilidade. Somente no futebol um pequeno Davi pode vencer o gigante Golias. Somente no futebol um menino pobre que engraxava sapatos para sobreviver poderia se tornar um Rei de todo o Planeta como Pelé se tornou com a legitimidade não de uma herança recebida, mas do reconhecimento universal ao seu talento.  

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