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COLUNA

Allan Kardec
É professor universitário, engenheiro elétrico com doutorado em Information Engineering pela Universidade de Nagoya e pós-doutorado pelo RIKEN (The Institute of Physics and Chemistry).
Coluna do Kardec

Reflexão (de Natal)

Breves reflexões no período de festas de final de ano.

Allan Kardec

Atualizada em 02/05/2023 às 23h38
 
 

Como hoje é dia de Natal, resolvi recuperar um texto que escrevi. Talvez apertar ou folgar um pouco mais o cinto que nos veste a vida e segura as nossas calças costuradas nas alegrias e nos desapontamentos. Mesmo porque vivemos em uma quadra interessante da História do planeta: nunca fomos coletivamente tão materialistas, superficiais e frívolos!

Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura.’ – as palavras de Chaplin ecoam há 80 anos no recôndito de nossas almas... 

Os sábios da Humanidade certamente se chocariam com a envergadura de nossa fragilidade. Os grandes textos do mundo estão repletos de reflexões profundas para nos garantir sustento nas horas de desespero. Ou, em outra linha, para não nos encantarmos dolorosamente com as luzes do mundo da alegria embriagante, como mariposas que correm para as lâmpadas nas noites de chuva e lá perecem... 

Li uma vez um escrito oriental que dizia que a melhor forma de se afastar do Leste é rumar para o Oeste. Ora, se rumamos para o materialismo extremo, estaremos nos afastando do que mesmo?

O que nos falaria o aniversariante do dia, Jesus, se nos encontrasse nas ruas da grande Jerusalém humana? E Buda, nos Himalaias de nossas aflições diárias? O que questionaria Sócrates nas praças de nossas Atenas superficiais?

Na larga jornada, vamos colhendo dias na estrada, recolhendo horas, semeando segundos… alguns que caminham ao nosso lado reclamam do Senhor Tempo - que distribui profusamente suas rugas - e nos obriga que as colhamos no meio do caminho, como carimbos que se eternizam nas estações do trem da vida.

De mim pra mim, fico genuinamente feliz porque, ao contrário do corpo que envelhece, ele me renova as esperanças, enquanto as rugas são como pipas delicadas que sobem cada dia mais acima e nos dá a alegria de enxergar mais longe: de olhar além das montanhas das dificuldades e descortinar os vales das dores e das florestas das angústias. O vento das desilusões dessedenta os olhos ávidos por esperança, impulsionando a generosidade e o perdão.

Outros temem a morte. Eu, novamente e ao contrário não tenho a mínima intenção de virar múmia ambulante. Quero falecer como todos os queridos que embarcaram antes para a alvissareira Eternidade!

Não, não é desesperança nem depressão! Desespero é pautar a própria vida no imediatismo, nas superficialidades e se revoltar com as inevitáveis surpresas. Aliás, ousar controlar o tempo, as pessoas ou o mundo é tão bizarro e cômico quanto o grande ditador do filme de Chaplin.

Amor? Ah, o amor... Amar virou verbo inconjugável. Ninguém ama o próximo - no máximo alguém com quem tem relações mais íntimas. Amar sem retorno? Nem pensar! Doar-se? Como assim e não ter nada em troca? Amor vira negócio em vez de se transubstanciar em alegria íntima e intransferível!

Tenho a impressão que os grandes livros gradativamente vão se empoeirando nas prateleiras das nossas mentes. O Bhagavad Gita, os Vedas, o Alcorão ou a Bíblia quando não mofados ou esquecidos são usados para agredir o outro.

As grandes vozes, que os séculos empalideceram, continuam ressoando nas profundezas de nossa transitoriedade... Urge aguçar os ouvidos quando o coração emudece e lá fora a gritaria se intensifica. Inteligência sem amor é oceano revolto que nos arrasta para as águas profundas do desespero e da angústia! O que será do cérebro sem o amparo de um coração que luta, silencia e espera? 

Refazer os sentimentos profundos, exauridos na velocidade intensa das ruas que jornadeamos... Essas são reflexões que extraio do que leio e luto genuinamente para aprender. Não tenho a mínima intenção de querer ensinar a você do que ainda me esforço para absorver. 

CARPE DIEM! - disseram os romanos há alguns séculos, enquanto os orientais falam que “conhecer e não viver ainda é não conhecer”.

Viva a vida! Feliz Natal!

*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.

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